quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Jesus foi carpinteiro?


4ª feira – IV semana comum

 

- Não é Ele o carpinteiro?

- Claro que sim. Jesus também foi carpinteiro e muito mais.


De facto, Jesus é carpinteiro e filho do carpinteiro, mas daquele carpinteiro que fez o céu e a terra.

E se aqui na terra cresceu sob a orientação de um carpinteiro chamado José, foi precisamente para lembrar que sempre foi o filho do carpinteiro criador do céu e da terra.

Nunca alguém tão grande se fez tão pequeno para tornar os pequenos tão grandes.

 

PROCURA-SE TRABALHADORES

Carpinteiros:

para serrar a madeira da incompreensão e arrancar os pregos do ódio, do orgulho e do egoísmo.

Pedreiros:

para assentar os tijolos da prece na construção da caridade.

Serventes:

para preparar a massa da boa vontade, derramando sobre a areia do sofrimento o cimento da fé e a cal da compreensão.

Canalizadores:

para canalizar a água viva da verdade na direção daqueles que têm sede do Infinito

Eletricistas:

para ligar a corrente positiva da fé, estendendo a luz a todos que se acham nas trevas da ignorância.

Faxineiros:

para remover os resíduos do dogmatismo, do sectarismo e do fundamentalismo que ainda entulham a obra.

Aprendizes:

Vagas sempre abertas para pessoas de boa vontade, de qualquer idade.

Local da obra:

Humanidade.

Empresa:

Criador e Filho, companhia ilimitada.

Ramo de atividades:

Reparações interiores e exteriores.

Mestre de obras:

Jesus de Nazaré.

Remuneração:

Vida eterna.

 

Ver também

O carpinteiro na sua terra

Humildade versus orgulho

Mestre carpinteiro

Parábola do carpinteiro

Na oficina de São José

 

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

A menina está a dormir


3ª feira – IV semana comum
Pregação de São João Crisóstomo (+407):
Ao chegar a casa do chefe da sinagoga, encontrou grande alvoroço e gente a chorar e a gritar. Entrando, disse-lhes: Porquê todo este alarido e tantas lamentações? A menina não morreu, está a dormir… Ela ergueu-se e começou a andar.
Jesus ensina-nos assim a não temer a morte, porque não é uma verdadeira morte: de agora em diante, não é mais do que um sono. E, como Ele próprio ia morrer, prepara os seus discípulos ressuscitando outras pessoas, para que tenham confiança nele e não se assustem quando Ele morrer. Porque, desde a vinda de Cristo, a morte tornou-se apenas um sono.
- Mas então explica-me porque foi que Jesus não ressuscitou o meu filho, a minha mãe, o meu marido como ressuscitou a filha de Jairo?
Ele ressuscitá-lo-á, em muito maior glória, não de maneira transitória, mas para sempre. Porque esta menina que Ele fez regressar à vida morreu de novo, enquanto o teu filho, quando Ele o ressuscitar, permanecerá imortal. Portanto, que ninguém chore, nem se lamente, nem critique a obra de Cristo. Porque Ele venceu a morte. Porque derramas lágrimas inúteis? A morte tornou-se um sono que nos leva a acordar na eternidade.
 
Conclusão
A morte é um sono.
Nós morremos para nos levantarmos.
Nós não vivemos para morrer.
Nós morremos para viver.
 
Ver também:
Kum, isto é, levanta-te
 


domingo, 28 de janeiro de 2024

Ele manda com autoridade


Ano B – IV domingo comum

A – Ficar calado

Por que é que Jesus manda calar o homem possesso de um espírito impuro, se ele falava a verdade?

Aqui vão as respostas que recolhi na celebração com os jovens:

1 - Porque Jesus era humilde – não queria honras ou elogios.

2 - Porque Jesus queria passar despercebido para que cada um pudesse descobri-lo por sua própria experiência.

3 - Porque Jesus não queria ser manifestado pelos espíritos impuros, mas pelos homens sinceros.

4 - Porque Jesus queria que desse testemunho dele não através de palavras, com a boca, mas através de atitudes, ações e exemplo da própria vida.

5 - Porque a resposta desse homem não estava correta. De facto, ele dizia que sabia quem era Jesus, mas afinal não era bem assim. Respondeu que Jesus era o Santo de Deus. Nós sabemos que isso não está correto – Jesus não é o Santo de Deus, mas o Deus Santo. Jesus é Deus, é o Filho de Deus. Por isso mandou calar esse homem porque não estava a falar a verdade.

 

B – Saber mandar

Todos os presentes ficaram admirados porque Jesus sabia mandar e todos obedeciam-lhe.

Em geral os jovens ainda hoje não fazem o que os adultos lhes mandam, não porque não querem fazer isso, mas porque não gostam da maneira dos adultos lhes mandar.

Um homem decidiu administrar doses de óleo de fígado de bacalhau ao seu Dobberman porque o tinham aconselhado a fim de estimular o apetite do animal. De modo que todos os dias segurava entre os joelhos a cabeça do cão, que resistia com todas as suas forças, obrigava-o a abrir a boca e vertia-lhe o óleo pelo gasganete. Porém um dia durante a tremenda resistência, o cão, ao fazer um movimento brusco com a cabeça, deu contra o frasco e tombou-o. O frasco partiu-se e o óleo derramou-se pelo chão. O seu dono ficou estupefacto. O cão começou a lamber o óleo, todo satisfeito. Afinal o cão gostava do óleo, mas não do modo como o seu dono pretendia dar-lho.

Jesus sabe mandar. Ele é um mestre perfeito. Como podemos recusar ou ignorar aquilo que ele nos propõe, convida ou nos disponibiliza?

 

Ver também:

Não digas nada a ninguém

Magistério e ministério

 

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

12 notas sobre São Paulo


Festa da Conversão de São Paulo, Apóstolo

1ª. O nome – Saulo ou Paulo

O autor das cartas apresenta-se sempre como Paulo. Trata-se de um nome patronímico que encontramos em importantes famílias romanas. O apóstolo nomeia-se assim dezanove vezes. Só Lucas lhe atribui o nome semítico de Saulo, transcrição do hebraico Saul, um nome raro entre os judeus da diáspora, mas frequente na Palestina e que evoca o rei assim chamado, um dos mais ilustres da tribo de Benjamim. Possivelmente o apóstolo teria um duplo nome, prática recorrente entre os judeus da diáspora. Neste caso é provável que Paulo fosse o nome civil que teria usado sempre. Saulo, por seu lado, seria um nome utilizado entre parentes e amigos ou a pura criação de uma correspondência semítica do seu nome, a cargo de Lucas. Paulus (na verdade, uma contração de Paululus) significa pequeno, mínimo. Sabemos que a sua constituição física foi, em Corinto, motivo de crítica por parte dos adversários que diziam: as suas cartas são graves e fortes, mas a sua figura física é fraca.  Juntando os dois elementos tentou-se ligar sem fundamento o nome à estatura de Paulo ou à sua modesta figura.

 

2ª. Perseguidor

Paulo não especifica porque perseguia os discípulos de Jesus, mas é certamente por declararem como Messias um maldito (Gal 3,13), um homem morto na cruz.

 

3ª. Idade

Paulo seria cerca de dez anos mais novo do que Jesus.

 

4ª. Formação

Três indícios:

- Língua grega falada por Paulo é originária, fluida, livre de semitismos duros, uma língua que se expressa com inteira naturalidade.

- A formação cultural de Paulo se centrou no contacto profundo com a versão grega da Bíblia hebraica.

- O impacto que teve em Paulo a cultura grega comum: conceitos de âmbito político. O seu mundo é urbano, cita autores, conceitos de política, do comércio, de literatura, recursos retóricos.

Tarso permitia a Paulo viver entre três mundos: o judaísmo do ponto de vista religioso; o helenismo dos pontos de vista da língua e da cultura, e o império romano nas perspetivas política e jurídica. Há autores que defendem que Paulo não só nasceu em Tarso, mas também passou ali a sua infância e juventude. Outros dizem que teria frequentado em Jerusalém o ensino rabínico de Gamaliel. Paulo recebeu uma educação poliglota, longa, diversificada, com estadias em centros de cultura diferentes o que lhe proporcionou uma visão do mundo estruturada a partir da sua matriz judaica, mas ao mesmo tempo aberta a esse Mediterrâneo Oriental e ocidental onde circulava.

 

5ª. Estado civil

Há quem fale dele como celibatário, viúvo ou separado.

 

6ª. Cronologia

Conversão entre os anos 35 e 37.

Evasão de Damasco – entre 37-39.

Incidente em Antioquia – entre 43-44.

Primeira viagem missionária – 45-48.

Assembleia Jerusalém – 48-49.

Segunda viagem missionária com longa estadia em Corinto – 49-52.

Terceira viagem missionária e estadia em Éfeso – 53-55.

Cativeiro em Cesareia – 57-60.

Cativeiro romano – 60-64.

Morte – 64-68.

 

7ª. Escritor

Paulo foi o primeiro escritor cristão. Com Paulo o cristianismo ganhou a amplidão que o próprio prometera (Mt 28,19-20), tornando-se cosmopolita, transfronteiriço e escrito. Paulo estava apto não só para protagonizar a passagem da oralidade à escrita, mas também para realizar uma das operações teológicas mais criativas e complexas de sempre: a tradução cultural da mensagem cristã.  Possuímos de Paulo várias cartas, e há um consenso em considera-las os primeiros escritos cristãos que chegaram até nós. Em década e meia de atividade epistolar intensa e de reflexão, o seu pensamento evolui, as motivações aprofundam-se, alteram-se os destinatários e as situações que enfrenta. Mas a evolução do seu pensamento liga-se também ao amadurecimento da forma literária em que se exprime. Se os primeiros escritos de Paulo são cartas simples, sem especial elaboração, o apóstolo passa a conhecer os recursos da oficina literária e a manejá-los, tornando-se um verdadeiro escritor. Não sabemos exatamente quantas cartas Paulo terá escrito. À parte aquelas que se terão perdido (1Cor 5,9 e 2Cor 2,4) no cânone são-lhe atribuídas 13 pois aos Hebreus seria a 14ª, mas distintas das demais. A sua ordenação segue dois critérios: aparecem primeiro as cartas dirigidas a comunidades e só depois as destinadas a particulares. Depois por ordem decrescente de tamanho (exceto de Gálatas e Efésios que deveriam alterar a ordem pois a 2º é mais extensa.

 

8ª. Escritos

Cronologia de alguns escritos:

- Primeira aos tessalonicenses escrita em Corinto 50/51.

- Primeira aos coríntios, escrita a partir de Éfeso 53/54.

- Aos Filipenses escrita em Éfeso 54/55.

- A Filémon, em Éfeso 54/55.

- Segunda aos Coríntios, escrita em Filipos 55/56.

- Aos gálatas, em Filipos 56/57.

- Aos Romanos, em Corinto 57/58.

 

9ª. Estilo

As suas cartas não diferem da pregação oral que Paulo faz às igrejas. Isto transparece num conjunto de fórmulas esparsas no epistolário: não quero que ignoreis… quero que saibais. Anuncio-os um ministério. Os textos de Paulo são uma espécie de cartas abertas, escritas para serem lidas e relidas nas igrejas destinatárias., mas também noutras. As Cartas servem a Paulo para inaugurar ou manter um diálogo à distância com as comunidades cristãs, oferecendo-lhe a oportunidade de realizar algumas explicações teológicas centrais de todo o cristianismo.

 

10ª. Viagens

As viagens de Paulo são funcionais na medida em que os seus trajetos derivam de um objetivo preciso. Fosse a Antioquia, a Éfeso, à Macedónia Paulo era sempre conduzido pelo mesmo apelo. Cartografava as suas etapas a partir do projeto muito nítido de evangelização. Paulo viajava a partir de um sentido, de uma intencionalidade eclesial. Não era uma simples viagem. Começou a viagem caído por terra. Fala-se muito da queda do cavalo, mas em nenhum passo das suas cartas se diz que ia a cavalo.

 

11ª. Apóstolo dos gentios

O epíteto que a tradição cristã reserva a Paulo é o de apóstolo dos gentios, interpretando a sua atividade missionária em chave universalista. O seu contributo seria, portanto, o de ter transcendido os diversos particularismos e afirmado, com desassombro, a emergência do universal.

 

12ª. O que é um cristão para Paulo

É um sujeito crente em construção; é uma escolha de viver, em estado de processo, ao mesmo tempo a plenitude e o inacabamento, o tesouro e o barro, a esperança e a experiência. Um cristão para Paulo nunca é um assunto arrumado, resolvido de uma vez por todas; é aceitar habitar uma tensão, um fazer e refazer permanentes, sabendo que a nossa fé é frágil e incompleta. Deus, com efeito, não criou o homem: Ele cria-o e continuará a criá-lo. Neste sentido estamos sempre em estado de ser criados e de criar: toda a criação geme e sofre as dores de parto até ao presente (Rom 8,22). Não somos simplesmente testemunhas de um passado. Cada pessoa é chamada a ser, e é já, um documento do futuro.

(Cf. José Tolentino Mendonça, Metamorfose necessária – reler São Paulo, novembro 2022, Quetzal Editores)

 

Ver também:

De livro e espada na mão

 

De livro e espada na mão


Festa da Conversão de São Paulo, Apóstolo

Na figura acima, quem é quem?

Como se identifica o Apóstolo São Paulo?

Pelo Livro e pela Espada.


Doutrinar e defender

 

"Por que traz Paulo em uma mão o livro, noutra a espada? Por que Paulo entre todos os outros apóstolos foi o vaso de eleição escolhido particularmente por Cristo para preparador dos gentios – e quem tem por ofício a pregação e conversão dos gentios há de ter o livro em uma mão, e a espada na outra: o livro para os doutrinar, a espada para os defender. E se esta espada se tirar da mão de Paulo, e se meter na mão de Herodes, que sucederá? Nadará toda a Belém em sangue inocente, e isso é o que vemos.

Mas, por que não faça dúvida o nome de espada, troquemos a espada em cajado, que é instrumento próprio dos pastores – como ali somos – e respondei-me: Quem tem obrigação de apascentar as ovelhas? O pastor. E quem tem obrigação de defender as mesmas ovelhas dos lobos? O pastor também. Logo o mesmo pastor, que tem o cuidado de as apascentar, há de ter, também, o poder de as defender. Esse é o ofício do pastor, e esse o exercício do cajado. Lançar o cajado à ovelha para a encaminhar, e terçá-lo contra o lobo para a defender."

(Cf. Sermão do Pe. António Vieira, Séc. XVII)

 

Ver também:

Conversão ou vocação

 

 

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Sermão de Luís de Camões


A pregação de hoje ou o sermão deste dia vai estar a cargo de Camões porque ocorre hoje os 500 anos do seu nascimento.

NASCIMENTO

Luís Vaz de Camões terá nascido, segundo alguns investigadores, a 23 de janeiro de 1524, dia de um eclipse solar visível em Portugal. O próprio poeta refere num seu soneto esse acontecimento:

 

O dia em que nasci moura e pereça,

Não o queira jamais o tempo dar;

Não torne mais ao Mundo, e, se tornar,

Eclipse nesse passo o Sol padeça.

 

A luz lhe falte. O Sol se [lhe] escureça,

Mostre o Mundo sinais de se acabar,

Nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar,

A mãe ao próprio filho não conheça.

 

As pessoas pasmadas, de ignorantes,

As lágrimas no rosto, a cor perdida,

Cuidem que o mundo já se destruiu.

 

Ó gente temerosa, não te espantes,

Que este dia deitou ao Mundo a vida

Mais desgraçada que jamais se viu!

 

OBRA

Para além do seu poema épico Os Lusíadas, publicado em 1572, escreveu centenas de poemas (Lírica, sonetos, redondilhas e elegias) e ainda 3 peças de teatro.

 

SERMÃO

Vamos dar a palavra a Camões para nos pregar neste dia através de passagens ou mensagens retiradas de Os Lusíadas.

 

1) – O Deus em quem acredita:

 

A Lei tenho d’Aquele a cujo império

Obedece o visíbil e invisíbil,

Aquele que criou todo o Hemisfério,

Tudo o que sente e todo o insensibil;

Que padeceu desonra e vitupério,

Sofrendo morte injusta e insofríbil,

E que do Céu à Terra, enfim, desceu,

Por subir os mortais da Terra ao Céu. (Os Lusíadas, 65, I)

 

O mesmo testemunho desenvolvido num soneto de Natal:

 

Dos Céus à terra desce a mor Beleza,

Une-se à nossa carne a falá-la nobre;

E sendo a humanidade dantes pobre,

Hoje subida fica à mor alteza.

 

Busca o Senhor mais rico a mor pobreza;

Que ao mundo o seu amor descobre,

De palhas vis o corpo tenro cobre,

E por elas o mesmo Céu despreza.

 

Como? Deus em pobreza à terra desce.

O que é mais pobre tanto lhe contenta,

Que este somente rico lhe parece.

 

Pobreza este Presépio representa;

Mas tanto por ser pobre já merece,

Que quanto mais o é, mais lhe contenta.

 

O mesmo tema desenvolvido na história da salvação noutro soneto:

 

Desce do Céu imenso, Deus benino,

Para encarnar na Virgem soberana.

"Porque desce divino em cousa humana?"

"Para subir o humano a ser Divino".

 

"Pois como vem tão pobre e tão minino,

Rendendo-se ao poder da mão tirana?"

"Porque vem receber morte inumana

Para pagar de Adão o desatino".

 

"Pois como? Adão e Eva o fruto comem

Que por seu próprio Deus lhe foi vedado?"

"Si, por que o próprio ser de deuses tomem".

 

"E por essa razão foi humanado?"

"Si. Porque foi com causa decretado,

Se o homem quis ser deus, que Deus seja homem".

 

2) – A sua fé e confiança:

 

Quem poderá do mal aparelhado

Livrar-se sem perigo, sabiamente,

Se lá de cima a Guarda Soberana

Não acudir à fraca força humana? (30, II)

 

Vendo Vasco da Gama que tão perto

Do fim de seu desejo se perdia,

Vendo ora o mar até o Inferno aberto,

Ora com nova fúria ao Céu subia,

Confuso de temor, da vida incerto,

Onde nenhum remédio lhe valia,

Chama aquele Remédio santo e forte,

Que o impossíbil pode, desta sorte: (80, VI)

 

Divina Guarda, angélica, celeste,

Que os Céus, o Mar e Terra senhoriais:

Tu, que a todo Israel refúgio deste

Por metade das águas Eritreias;

Tu, que livraste Paulo e defendeste

Das Sirtes arenosas e ondas feias, (81, VI)

 

3) – Missão atribuída por Deus

 

Deus, por certo, vos traz, porque pretende

Algum serviço Seu por vós obrado;

Por isso só vos guia e vos defende

Dos imigos, do mar, do vento irado. (30, VII

 

No fim de tantos casos trabalhosos

Porque somos de Ti desemparados,

Se este nosso trabalho não Te ofende,

Mas antes Teu serviço só pretende? (83, VI)

 

4) – Ação de graças

 

Os geolhos no chão; as mãos ao Céu,

A mercê grande a Deus agardeceo (93, VI)

 

As graças a Deus dava, e razão tinha,

Que não somente a terra lhe mostrava

Que, com tanto temo, buscando vinha,

Por quem tanto trabalho experimentava,

Mas via-se livrado, tão asinha,

Da morte, que no mar lhe aparelhava

O vento duro, férvido e medonho,

Como quem despertou de horrendo sonho. (94, VI)

 

5) – Sagradas Escrituras

 

Deste Deus-Homem, alto e infinito,

Os Livros que tu pedes não trazia,

Que bem posso escusar trazer escrito

Em papel o que na alma andar devia. (66, I)

 

Outras lições de Camões neste Quintal:

Mudam-se os tempos

Rezando com os poetas

No dia de Camões

Chagas de Cristo


segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

A raposa e as uvas


2ª feira – III semana comum

Falta de fé e de solidariedade

A murmuração dos Escribas, no Evangelho de hoje, não era apenas uma blasfémia em relação a Jesus, como também um pecado contra o próximo.

- Era um pecado contra Deus, pois não acreditavam que Jesus fazia o bem com o poder e o Espírito de Deus.

- Era um pecado contra o seu próximo porque não ficavam felizes com a cura e o bem que era feito aos seus irmãos.

Os Escribas criticavam o bem que era feito a quem precisava de ajuda, não eram solidários nem caridosos.

Hoje peço a Deus que ilumine o meu coração para que me alegre sempre com o bem dos outros, que seja sempre solidário com quem precisa e confie em Deus que está sempre ao lado de todos, dos necessitados e seus cuidadores.

 

À margem:

A Raposa e as Uvas – É uma fábula de Esopo (Grécia, Delfos, +564 A.C.), reescrita por La Fontaine (França, Paris, +1695).

Com pequenas variações, basicamente conta a história de uma raposa que tenta, sem sucesso, comer um cacho de apetitosas uvas penduradas numa alta vinha. Não conseguindo chegar até lá, afasta-se, desculpando-se que as uvas estariam verdes.

Do mesmo modo desculparam-se os Escribas frente a Jesus. Não conseguindo fazer o que ele fazia, desculpavam-se dizendo que era fruto do maligno. Como a raposa da fábula, era fácil para eles desprezar aquilo que não estava ao seu alcance.

Outras expressões similares – Ah, mas são verdes:

Na Pérsia – O gato que não pode alcançar a carne, diz que ela fede.

Na Escandinávia – Onde não há vinhas dizem que as sorvas estão azedas.

Em Portugal – Quem desdenha quer comprar.

Versão do poeta Bocage (Portugal, Lisboa, +1805):

Contam que certa raposa,

Andando muito esfaimada,

Viu roxos, maduros cachos

Pendentes de alta latada.

 

De bom grado os trincaria,

Mas sem lhes poder chegar,

Disse: ‘Estão verdes, não prestam,

Só os cães os podem tragar!’

 

Eis cai uma parra, quando

Prosseguia o seu caminho,

E, crendo que era algum bago,

Volta depressa o focinho.

Ver também outras reflexões:

Meia palavra basta

Dar obediência

Expulsar os demónios

Obedecer