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quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Aprendendo o português


“Logo no dia 19 de janeiro, domingo, dois dias depois de termos chegado à Madeira, fui celebrar para o povo na Capela de Nossa Senhora do Bom Sucesso, um pouco acima da Escola Artes e Ofícios. Aquele bom povo, sabendo que havia padres disponíveis, começou a encomendar Missas. Pouco depois, também começamos a celebrar na Capela do Faial, também perto da Escola. Apercebi-me que o meu português era insuficiente para entender e para me fazer entender.” (Memórias do Pe. Ângelo Colombo)

 

Depois de teremos arrumado roupas e livros, fizemos o nosso horário:

05,30 Levantar - Orações – Meditação – S. Missa

08,00 - Pequeno-Almoço

12,00 - Exame particular – Almoço

13,00 - Aulas de Português

17,00 - Estudo

18,00 - Adoração – Ceia – Recreio – Repouso

“Vivíamos numa casinha um pouco afastada do conjunto da Escola e, embora sem grandes luxos, éramos bem tratados e servidos, especialmente no que se refere à alimentação.

O Pe. Colombo, prático e sem complexos, pediu logo a uns professores da Escola que nos aceitassem nas suas aulas. Foram bastantes benévolos e nós sentadinhos naquelas carteiras de crianças, começámos pacientemente a soletrar a pronúncia portuguesa.

Lembro-me do primeiro ditado. Não entendia a maior parte das palavras e, quanto mais o professor marcava as sílabas, maiores dificuldades sentia em as entender. Quando percebia a palavra, então surgia o problema dos acentos e dos ‘s’ e ‘z’ a brigarem entre si. (O Pe. Colombo confessava que estava a perceber cada vez menos. Dizia que os madeirenses têm o mau hábito de comer as sílabas…)

Porém aquele esforço e aquela humildade valeu-nos uma certa prática e domínio da língua.

Aproveitámos muito as aulas da quarta classe do Pe. Plácido. O bom e culto sacerdote dava aulas muito tempo. A sintaxe portuguesa era passada a pente fino. Os complementos, os verbos, as orações, tudo era analisado, classificado e justificado.” (Memórias do Pe. Gastão Canova).

 

“O trabalho principal era na Escola. Nós é que devíamos fazer assistência aos alunos desde o levantar até ao deitar. Depois da missa matutina e do pequeno almoço, estávamos com eles nos recreios, assim como no estudo, nos intervalos das aulas. (A seguir aos dois primeiros meses, também nas aulas de religião.)

O Pe. Canova era mais dedicado a esse trabalho e em breve entrou na alma daquela instituição e daqueles rapazes. Eu procurava entrar na administração, no movimento de pessoal, no funcionamento das oficinas, na cozinha, no refeitório etc.” (Memórias do Pe. Ângelo Colombo).

 

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Epílogo da viagem


"No fim da viagem fizemos as nossas conas e, se bem me lembro, tínhamos ficado com a dívida das Missas a aplicar e com 50 e tal escudos, poucos dólares e nem sei com quantas liras italianas. Éramos muito ciros para começar uma obra que não poderia ser considerada nossa.

As nossas bagagens e apetrechos tinham ficado na Alfândega. E no dia seguinte à chegada fomos com o Pe. Laurindo buscar as nossas riquezas (18 de janeiro, sábado). Não aparecia um caixote com um duplicador que me tinham oferecido na minha terra e as buscas resultaram infrutíferas. Concluímos que teria ficado em qualquer ângulo do porão do Carvalho Araújo, que a essa hora já ia a caminho dos Açores. No regresso deste, acompanhado pelo Sr. Eduardo paquete, homem de confiança do Sr. bispo, fui a bordo à procura do caixote. Buscas inúteis! O mesmo Sr. Eduardo Paquete escreveu à Alfândega do porto de Lisboa, donde o navio tinha partido. Tudo inútil e o caixote nunca mais apareceu.

O Pe. Canova também tinha trazido um projetor e algumas filminas, como também uma certa quantidade de santinhos para presentear pessoas amigas. O projetor, que era de corrente alterna, queimou-se ma primeira tentativa de ligação à corrente elétrica da Escola, que era de corrente continua. Muitos das santinhas, a um certo momento, desaparecerem: um dos rapazes (mais esperto) andou a vendê-los por aí…

Éramos ainda ricos demais para começar uma obra que não era nossa. A Providência libertou-nos de tudo, para melhor mostrar que seria Ele a fazer tudo." (Memórias do Pe. Ângelo Colombo)

A Escola Artes e Ofícios do Pe. Laurindo


 

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Desembarque no Funchal


Este foi um grande dia e um dia grande.


"No dia 17 de janeiro de 1947, pelas oito horas da manhã, avistámos a esplêndida terá da Madeira. Levantei-me restabelecido do enjoo, agarrei-me ao peitoril do tombadilho a olhar para aquele cenário de fadas. Era a minha linda Madeira: a terra sonhada tantas vezes, mas nunca imaginada tão bela! Tínhamos chegado!" (Memórias do Pe. Gastão Canova)

"Muito antes da primeira claridade do dia 17 de janeiro, já eu estava de pé, pois tinham anunciado a chegada ao Funchal logo para a manhã cedo. Rezei as orações da manhã, fiz a meditação, recitei o Breviário e… esperei, olhando para o horizonte na minha frente. Mas nada aparecia! Finalmente, no lado poente, lá ao longe, aparecia uma luzinha.

- É a Madeira? – perguntei a um marujo.

- Não! É o farol do Porto Santo. Daqui a duas horas estaremos na Madeira!

O mar estava calmo, o céu sereno. A oriente, aparecia uma claridade suave preanunciando a chegada do astro, enquanto, lá no alto, as estrelas desapareciam. Aos poucos, na superfície do oceano, viam-se reflexos dourados… brilhantes. Depois, quase improvisamente, uma meia lua surgia das ondas… Foi crescendo… tornando-se redondo…transformando-se em esplendor. Era o sol!

Eu não era poeta, mas naqueles instantes até me veio à mente a exclamação de um poeta: C’est lui! C’est la vie!

- Ainda um pouco e estaremos na Madeira! – disse comigo.

Apareceu o farol de São Lourenço que depois de uma longa meia hora, o dobrámos e entrámos no mar da Madeira.

Agora, já muita gente estava na a murada do lado poente do navio a contemplar a costa madeirense. Eis Machico, a primeira baía visitada pelos descobridores…. Eis Santa Cruz! Eis as Lombadas de Gaula e as encostas do Caniço! Todos os olhos descansavam na visão verde das bananeiras, dos ‘poios’ de batata doce, dos bosques de pinheiros e eucaliptos lá ao alto!

Passámos um cabo, um rochão escuro e a pique sobre o mar e eis a baía do Funchal, com o seu casario em anfiteatro subindo do mar até aos bosques da serra, espraiando.se de São Gonçalo a São Martinho.

Mas não fiquei muito tempo extasiado na contemplação.

- Vamos! Vamos buscar as nossas malas! – disse-me o Pe. Canova que viera até mim e observava a movimentação dos barquinhos que já rodeavam o ‘Carvalho Araújo’. Aí estavam os garotos que acenavam e gritavam, numa mistura de vozes: Senhor! Mister, Madame! Money… Money, uma moeda! E mergulhavam, de cabeça para baixo, para apanharem, debaixo de água, a moeda atirada lá de cima.

Com as malas perto de nós, encostámo-nos à amurada de levante, à espera da possibilidade de descer, eram cerca das 10 horas. Avistámos dois eclesiásticos, que deviam estar à nossa espera porque acenavam e faziam sinais. Respondemos, incertos entre o sim e o não, Mas logo que baixaram a escada e nós descemos, vieram ao nosso encontro e nos cumprimentaram e ajudaram a levar as malas para a Alfândega. Um era o Sr. Pe. Laurindo Leal Pestana e o outro era, o então seminarista, Agostinho Jardim Gonçalves. Pouco depois, subimos para um carro descoberto que nos levou diretamente par a residência do Sr. Bispo. Sua Excia. Revma. O Sr. D. António Manuel Pereira Ribeiro acolheu-nos efusivamente, apesar do ser porte cheio de dignidade e gravidade: Sede bem-vindos! É o Senhor que vos traz! E a viagem foi Boa? Mas devem estar cansados – disse-nos. Depois virando-se para o Sr. Pe. Laurindo: Talvez desejem também rezar a Missa e já passa das onze. Leve-os para a sua casa e nos veremos ainda esta tarde.

Fomos, sempre de carro descoberto, para a Igreja de Nossa senhora do Socorro (ou de Santa Maria Maior) residência do Sr. Pe. Laurindo. Descansámos por alguns momentos, celebrámos a nossa Missa em agradecimento a deus pela feliz chegada à Madeira, destino da nossa viagem. À celebração da missa seguiu-se o almoço... um almoço de festa. Lembro-me sempre que o nosso anfitrião abriu uma garrafa de vinho Madeira de 1847. Cem anos a festejar a nossa vinda. Que honra! pensámos nós.

Pela tardinha, depois de descansarmos um pouco, o Sr. Pe. Laurindo levou-nos novamente à casa do Sr. Bispo. O Sr. D. António falou-nos da correspondência com Roma e com o Cardeal D. Teodósio de Gouveia. Disse-nos que era com gosto que nos recebia na sua Diocese e concluiu dizendo que, por enquanto, ficaríamos al9jados na Escola de Artes e Ofícios do Sr. Pe. Laurindo; depois se veria.

Saídos da casa do sr. Bispo, o mesmo Pe. Laurindo nos levou de carro à sua Escola de Artes e Ofícios, a meia encosta do anfiteatro do Funchal. Ficámos impressionados e receosos quando o carro subia aquelas ruelas ‘empinadas’… mas tudo passou quando chegámos, acolhidos por todos os alunos, com gritaria, salva da palmas e banda de música a tocar…

Fomos levados para uma pequena casa na quinta. Lá encontrámos dois quartinhos, simples e pobres, que nos eram destinados. Depositámos as nossas coisitas e estávamos tricando as nossas impressões e descansando um pouco, sentados na beira da cama, quando nos vieram buscar para o janar de festa. A seguir houve entretenimento com música, poesias, bailinhos e cantos. Lembro ainda com saudade uma dessas canções: Oh! A minha casinha.

Já noite, fomos saborear uma cama que não baloiçava, consolados e bem impressionados com o bom acolhimento e a festa. Só mais tarde é que viemos a saber que toda aquela festa era para celebrar o aniversário do sr. Pe. Laurindo, que coincidiu com a nossa chegada. E nós a pensarmos que a festa era para nós!" (Memórias do Pe. Ângelo Colombo)

 

domingo, 16 de janeiro de 2022

Uma viagem atribulada

De manhã no dia 16, alguns passageiros nem se levantaram. Outros, mais afoitos, andavam, ou se sentavam, com ar perdido, agarrando-se a tudo quanto podiam. O pobre Pe. Canova foi uma das vítimas. Levantou-se… mas andava com uma cara que nem de morto. Não teve outro remédio senão refugiar-se no seu beliche. E assim passou quase toda a viagem. Eu tive sorte e defendi-me melhor, pois tinha aprendido algo na anterior navegação. De celebrar, nem palavra: no Carvalho Araújo não havia capela.

Dando voltas a bordo, reencontrei o Cônsul da Itália com a sua família:

- Como?! – exclamou ele ao ver-me – como conseguiu passagem? Este barco anda sempre superlotado! Eu tive dificuldade em marcar lugar, já há um mês atrás, em Génova.

- Ah! Mas nós andamos ao serviço de um ‘Patrão’ que é dono de tudo e de todos! – Foi a minha resposta.

(Memórias do Pe. Ângelo Colombo)

 

sábado, 15 de janeiro de 2022

Partida para o Funchal


“Pelo meio-dia do dia 15 de janeiro de 1947, os dois fundadores da Província Portuguesa SCJ, os pobres D. Quixote e Sancho Pança, largavam do maravilhoso estuário do Tejo para a sua terra prometida: a Madeira.” (Memórias do Pe. Gastão Canova)

“Despedimo-nos agradecidos das boas Irmãs Doroteias e dizendo um até logo aos nossos missionários, embarcámos pontualmente no ‘Carvalho Araújo’. Pela tardinha, nós os dois, estávamos na amurada do navio saudando Lisboa que se afastava aos poucos. Lá foi andando o nosso barco e logo, barra fora, começou o baile. O ritmo do baile aumentou à passagem do enfiamento do estreito de Gibraltar. Estávamos, porém, nos nossos beliches durante a noite.” (Memórias do Pe. Ângelo Colombo)


quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Primeiros SCJ em Fátima


A Primeira Peregrinação Dehoniana a Fátima

“Com a viagem para o Funchal marcada e paga, tranquilizados e agradecidos, pensámos:

- Por que não vamos a Fátima? Temos tempo e precisamos duma boa bênção de Nossa Senhora para nós e para a nossa missão.

E lá fomos! Ficámos alojados, nos dias 12 e 13 de janeiro de 1947, na casa que as Irmãs Doroteias têm na Cova da Iria.

Era janeiro. Chuviscava e não vimos lá muita gente. Quer pela estação fria e chuvosa, quer pelo aspeto geral de pobreza daquelas serras, fiquei persuadido de que Nossa Senhora tinha mesmo escolhido aquele lugar para melhor inculcar o espírito de penitência, de reparação, de desapego das riquezas e comodidades da vida…

Celebrámos na Capelinha, visitámos Aljustrel, falámos com o Ti Marto. Lembro-me que rezámos com fervor pedindo a bênção de Nossa Senhora para a nossa missão e para a nossa obra em Portugal. Não temos nós a finalidade da reparação que Ela veio pedir em Fátima? Seríamos colaboradores da sua mensagem! Que Ela nos ajudasse nisso!

Encontrámos lá o Pe. Marchi, com quem conversámos. Ele tinha vindo da Suíça, durante a guerra. Tinha aberto, um par de anos, um pequeno Seminário instalado numa pequena casa emprestada pelos Salesianos.

Nessa altura deveria o Pe. Marchi estar a preparar o seu lindo livro: “Era uma Senhora mais brilhante que o sol”. Com efeito, lendo o livro, parece-me ainda ouvi-lo falar, como ele nos falou naquela nossa visita da Fátima.”

(Memórias do Pe. Ângelo Colombo)

“Foi em Fátima que ouvimos as primeiras críticas sobre a escolha da Madeira.

- As vocações não parecem muito seguras… não são rapazes muito sadios, também numericamente a ilha não poderá dar muito… O meio é fechado… porque não abrem aqui em Fátima? O Bispo é favorável…

Eu ouvi tudo isso e não sabia responder.

O Pe. Colombo ouvia e não se importava. Fátima, certamente não. Eu também repeti: ‘Fátima não’, mas sem saber porquê. (Agora, depois de quase quarenta anos, ainda repito ‘Fátima, não!’)

E percebo agora o porquê. Um seminário em Fátima quer dizer ter os alunos em constante contacto com um sobrenatural demasiado carregado e num contínuo reboliço de peregrinos, procissões e turistas. Desde maio, as casas religiosas tornam-se hotéis e não há ambiente para estudo e formação. Fátima não em 1947, menos ainda Fátima de hoje. Dou plena razão ao Pe. Colombo.

O contacto com o sobrenatural de Fátima fez-me bem. A mensagem de Nossa Senhora está tão próxima do nosso espírito que quase se identifica. O Padre Fundador, tão devoto de ‘La Salette’, não teria hesitado em aceitá-la plenamente. Teria repetido aquela frase tão sua: ‘É a graça do tempo presente’.

Deixámos Fátima com saudade. Regressámos a Lisboa (continuando por uns dias a viver à grande em casa das Irmãs Doroteias) e preparámo-nos para a viagem até ao Funchal.”

(Memórias do Pe. Gastão Canova)

 

domingo, 9 de janeiro de 2022

Marcando nova viagem

Como bons colegiais, nós dois (Canova e Colombo) procurámos afinar um pouco o nosso português, ao mesmo tempo que tomávamos conhecimento do ambiente, levemente preocupados com a partida para a Madeira.

Estávamos persuadidos de que a ida para aquela ilha fosse coisa simples, tomar um dos barcos que para lá partiriam, tirar o bilhete a bordo, que deveria ser coisa baratinha. Mais ou menos como ir de Itália para a Sicília ou para a Sardenha.

Fomos imediatamente desenganados, ao manifestarmos a nossa ideia.

- Não, não! – disseram-nos – muito longe disso! Só há barco para a Madeira de 15 em 15 dias ou de mês a mês e está sempre cheio de gente que vai para a Madeira ou para os Açores. Tem que se marcar lugar com antecedência. Quanto ao dinheiro, será preciso mais de mil escudos para os dois, em terceira classe.

Com certeza que teríamos ficado em Lisboa, quem sabe quanto tempo, se não tivéssemos do nosso lado a Providência, na pessoa das boas Irmãs Doroteias. Uma delas, a Irmã Cunha, tinha conhecimentos ou parentes na baixa lisboeta e lá meteu uma cunhazinha. Assim tivemos autorização para embarcarmos na próxima viagem do navio Carvalho Araújo.

E o dinheiro para a passagem? E o lugar no barco?

As Irmãs puseram-se em contacto com um tal Pe. Xavier que, em Paços de Lumiar, abrira a primeira residência dos Paulistas (Pia Sociedade de São Paulo), em Portugal. Fomos visitá-lo e falámos-lhe da nossa situação. Ele conhecia uma Senhor amiga, D. Maria de Mello Espírito Santo, da família dos banqueiros Espírito Santo, que morava lá perto. Ele falou à senhora do nosso caso:

- Eles precisam de passagem para a Madeira e do dinheiro para pagar a passagem.

A senhora deu-nos a esmola de 2.000$00 para Missas por sua intenção e depois falou não sei com quem, por meio não sei de quem, à Empresa Insulana de Navegação, propriedade do bom judeu Ben Saúde.

Conclusão: Foi-nos assegurado o bilhete de passagem de segunda classe, na próxima viagem do Carvalho Araújo. A Providência começava as suas intervenções.

A autorização da PIDE para embarque, nesse tempo absolutamente necessária, foi-nos concedida no dia 9 de janeiro de 1947. 

(Memórias do Pe. Ângelo Colombro)

 

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Primeira Missa em Lisboa

Na manhã do dia 29 de janeiro, alguns Padres Missionários e o Pe. Canova vieram ao cais de Alcântara e ajudaram-me no despacho das bagagens e nos contactos com a polícia. Finalmente, saímos do Cais e dirigimo-nos ao Capo Grande, onde o Pe. Canova já tinha combinado o nosso alijamento no Colégio das Irmãs Doroteias.

Lá celebrei a minha primeira Missa em Terras Lusíadas, solenizada pelo canto das Irmãs. Seguiu-se um pequeno almoço de estilo natalício. Aquelas boas Irmãs procuravam fazer-nos esquecer as amarguras da viagem e alegrar-nos com os doces de Natal.

E não ficaram por aí. Deram-nos alojamento na casa dos pensionistas, que então estavam em férias, e serviam-nos a comido na hospedaria do edifício central. E quando as alunas voltaram de férias procuraram-nos hospedagem na casa da Senhora D. Leitão, da família do ourives Leitão, cujo estabelecimento estava junto da igreja do Loreto, no Chiado. Não se limitaram a isso!

Estas boas Irmãs tinham recebido cartas da Itália (Bolonha) a recomendar os dois Padrezinhos que estavam a chegar e estariam em Lisboa apenas o tempo necessário para tomar o barco para a Madeira. Mereciam ser ajudados, pois os Padres dehonianos de Bolonha tinham ajudado as Irmãs Doroteias durante os bombardeamentos daquela cidade. Tinham uma dívida a pagar! (CF. Memórias do Pe. Ângelo Colombo)

 

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Outra chegada a Lisboa

No dia 28 de janeiro, aí pelo meio dia, passámos por umas rochas altas e negras. Depois, à direita lá estava o Cabo de Sagres que anunciava estar próximo o fim daquela viagem.

Pelas 16H00, contemplava-se a costa alta portuguesa. Ouve-se dizer que que pelas 18H00 perderíamos estar em Lisboa. Ao longe avistaram-se alguns navios. Passámos perto de um de pequena tonelagem.

- Que baloiço! Se aqui sentimos o que sentimos, o que não será acolá dentro? – comentei.

- Olha – alguém me respondeu – os dois italianos que estão destinados à Madeira! O barco que vai para a Madeira é mais ou menos como aquela coisita!

- Deus me proteja! – disse eu – E com o enjoo, como se faz?

- É preciso comer… comer é preciso. Mas comer enxuto: pão, queijo, salame, carne e, coisas assim. Nada de beber!

- Nada de beber? E como se resiste?

- Paciência, paciência e nada de medo! As enxovas afastam a saliva e a comida enxuta restringe o estômago que, assim cimentado, fica firme e não baila mais.

Antes de chegarmos a Lisboa tocou para o jantar. Deixo a sopa e outros líquidos e engulo o resto com pão. Depois, para não perder a vista da paisagem. Tomo um pão, ponho nele carne e queijo e subo para sentar-me ao ar livre, roendo e resistindo à vontade de beber.

Depois de muito tempo de espera, lá apareceram no cais os Padres Comi e Pezzotta. Desço do navio: abraços e saudações.

- O Padre Canova chegou? E os outros onde estão?

- Estão todos nos Salesianos.

O Pe. Canova tinha chegado no dia 27 e nesta manhã tinha vindo ao porto, mas inutilmente, visto que o Cabo de Hornos se tinha atrasado muito. Voltou para casa.

- E agora que fazemos? – Perguntei eu – Já é tarde, eu não vou para a cidade. Também porque a bagagem só pode ser retirada amanhã.

Separámo-nos e eu subi para o navio para gozar o último, mas tranquilo, descanso no Cabo de Hornos.

(CF Memórias do Pe. Ângelo Colombo)

 

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Chegando a Portugal


"Cheguei a Lisboa pelas 10 horas do dia 27 de dezembro de 1946. Fui alojar-me nas Oficinas de S. José, dos Salesianos, nos Prazeres e aí estive até à chegada do Pe. Colombo (dois dias depois).

Em Lisboa encontravam-se já os quatro primeiros missionários destinados à fundação da nossa Missão em Moçambique. Eram eles: Pe. Pedro Comi, Pe. Celestino Pizzi, Pe. Joaquim de Ruschi e Pe. Luís Pezzotta. Os padres Comi, Pizzi e Pezzotta tinham saído de Roma no dia 29 de outubro de 1946, de avião com breve escala em Madrid. O Pe. De Ruschi saíra de Génova, no dia 5 de novembro no navio Ciudad de Valencia, com uma parte das bagagens. As dificuldades encontradas com estas bagagens em Barcelona foram a causa da nossa partida no navio Cabo de Hornos, naquela estranha data. Para evitarmos semelhantes complicações, tínhamos que levar o resto das malas dos missionários diretamente para Lisboa, sem passar pela Espanha. Os quatro missionários permaneceram em Lisboa até ao dia 12 de fevereiro de 1947." (Memórias do Pe. Gastão Canova).

 

O Pe. Colombo continuava em viagem marítima:

“Como bem me soube a paragem do navio no porto de Cádis! Como respirei e descansei em terra firme, num assento que não baloiçava, contemplando a solidez dos bastiões e das muralhas de defesa do porto, que não se mexiam nem um centímetro para qualquer lado! Também a visita à cidade confortou o meu espírito.

Pela noite dentro do dia 27, sem que me tivesse apercebido, o navio zarpou de Cádis. Dormi toda a noite e acordei bastante tarde.” (CF. Memórias do Pe. Ângelo Colombo)

 

domingo, 26 de dezembro de 2021

No Lusitânia Expresso

No dia 26 de dezembro, de manhã, estava eu à porta do afamado Banco para fazer o meu pedido: trocar liras por dólares. O meu espanhol era o que era! Fiquei admirado porque logo que fiz o meu pedido, abriram-se todas as portas com uma gentileza fora do comum. Passei de uma sala para outra, uma mais ornamentada do que a outra, com tapetes cada vez mais grossos. No fim encontrei-me diante de quem tratavam como senhor diretor. Com toda a atenção dispôs-se a ouvir o meu pedido. Eu estava interessado em dar liras italianas e receber dólares. A cara do homem mudou logo de aspeto e disse-me que não podia ser. E eu tive de voltar, passando pelas salas com tapetes cada vez mais pobres até à rua. Então percebi o engano. Julgavam que eu lhes trazia dólares à fartura em troca de liras italiana. O meu pobre espanhol tinha-os enganado.

À noite saí de Madrid, no Lusitânia Expresso, em direção a Lisboa. (CF. Memórias do Pe. Gastão Canova)

 

Por seu lado, o Pe. Colombo ia adaptando-se à vida do mar, pois ainda tinha mais três dias de viagem à sua frente.

“Ondas alterosas, batendo na amurada do navio e provocando um movimento de baloiço da proa à popa alto e rápido. Procurei resistir respirando fundo, fechando os olhos para não ver aquele baloiçar, agarrando-me a tudo… mas, por fim, tive de entregar às ondas o almoço, que andava cá dentro aos trambolhões… Envergonhei-me e fugi para o beliche!”

 

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

O Natal em viagem


No dia 24 de dezembro, depois de celebrarmos a missa, fomos buscar as coisas necessárias para o Pe. Canova e corremos à Estação de Caminho de Ferro, justamente a tempo de apanhar o ‘rápido’ das 11 horas para Madrid.

Eu voltei ao Seminário, onde agradeci ao Mons. Reitor as atenções recebidas.

Parti apressadamente para o porto, pois estava determinado que se deveria estar a bordo pelas 12H00…

Uma vez a bordo, procurei reunir alguns italianos para fazer uma certa preparação para a Missa de Natal. Pelo menos cantar ‘Tu scendi dalle stelle’. Mas, pela intervenção do capelão de bordo que só então apareceu, o meu programa foi posto de lado.

Na manhã do dia de Natal, reuniram-se na sala nobre o clero, algumas irmãzinhas e muitos fiéis. Foi celebrada Missa solene com os cantos em perfeito gregoriano…” (CF. Memórias do Pe. Ângelo Colombo).

“Imaginem o fradinho Canova, no comboio para Madrid, com uma família catalã à sua frente, que nem espanhol falava, e a mulher de vez em quando a repetir: Parece impossível que não tenha aprendido catalão… Nós ensinamos logo as crianças a falar catalão.

Entretanto o comboio ia andando com a lentidão daqueles tempos, já tínhamos passado por Saragoça, e estávamos a aproximar-nos da meia noite.

Eu levava comigo um pequeno Menino Jesus deitado numas palhinhas, resto do meu presépio de criança. Peguei na imagem e comecei a rezar o terço. Às Ave-marias todos respondiam com devoção: eu em italiano, a tal família em catalão e os outros em castelhano. Estávamos todos tão comovidos que nem percebíamos a diferença de línguas.

Assim passei a noite de Natal de 1946.

Cheguei a Madrid pelas duas horas da madrugada. Um ‘sereno’ indicou-me uma pensão ali perto onde fui descansar o resto da noite. No dia seguinte fui almoçar na casa de asilo dos Padres de Madrid. Passei o Dia de Natal no ‘metro’, de um lado para o outro, a ver se dava com o Banco de Espanha, para lá me dirigir no dia seguinte.” (CF. Memórias do Pe. Gastão Canova)

 

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Escala em Barcelona

Chegámos a Barcelona ao nascer do sol do dia 23 de dezembro de 1946. Celebrámos, tomámos o pequeno almoço no barco e saímos, não sem passar pelo controlo da polícia, à qual cheios de escrúpulos, declarámos o dinheiro que trazíamos: ‘entra con ciento dos dólares, diez chelinos y milciento vente escudos’, escreveram no passaporte.

Fomos pela cidade pedindo informações de quatro em quatro passos e chegámos a um edifício grande e antigo: era o Seminário Maior Diocesano. O Reitor, ao qual nos dirigimos, confiou-nos a um estudante de Teologia – ex-falangista – que nos ajudou imenso nas práticas da Alfândega, necessárias para a viagem do Pe. Canova para Madrid e Lisboa. Até nos levou a admirar um pouco de Barcelona. Entre outras coisas, vimos a célebre igreja da Sagrada Família de estilo gótico fantasioso. Dormimos nessa noite no Seminário. (CF. Memórias do Padre Ângelo Colombo)

 

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Partida e viagem


“Manhã cedo do dia 22 de dezembro, domingo, nós, Pe. Colombo e Pe. Canova, acordámos e celebrámos Missa. 

Mal estava eu a concluir a missa, o barco Cabo de Hornos afastou-se do cais e saiu do porto de Génova. 

Apoiados à amurada, comtemplámos as terras de Itália a se afastarem aos poucos e finalmente a desaparecerem. 

Saudades? Não muitas! 

Éramos novos e íamos ao encontro do nosso ideal de apostolado.

O dia estava claro e o mar calmo. Tudo corria bem! No entanto, pela tardinha, experimentámos um certo mal-estar de estômago e de cabeça. Nada de preocupações – explicaram-nos. É um pouco de agitação do mar no Golfo do Leão, ali mesmo em frente de Marselha e da foz do Ródão. Passámos calmamente o resto da tarde e a noite seguinte.” (CF. Memórias do Padre Ângelo Colombo)


Àcerca do barco Cabo de Hornos
“Tras la guerra civil española, la falta de buques de pasaje, sobre todo para atender el enorme tráfico a Sudamérica proveniente de la emigración, hizo que las navieras españolas comprasen de segunda mano, buques que ya otras naciones tenían de más.
Es el caso del Cabo de Hornos, comprado a la naviera President Lines de USA, botado en 1920 con el nombre EMPIRE STATE, de 163 metros de eslora, fue asignado a la ruta de San Francisco a Asia, Hawái y New York. En 1922 pasó a llamarse PRESIDENT WILSON, comprado en 1940 por la naviera YBARRA, se le puso el nombre de CABO DE HORNOS.
Pasó a ser el trasatlántico de más porte de la marina mercante española, asignado a la línea de Sudamérica, amplía sus puertos de embarque mas tarde a Génova.
En 1959 realiza sus últimos servicios, y en febrero de ese año marcha para Avilés donde es desguazado, señalar que Vigo fue su primer puerto de llegada cuando fue comprado, salió de USA con el nombre de MARIA PIPA, y sobre la marcha se lo cambiaron a CABO DE HORNOS.”

 

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Despedida e embarque

Génova e o seu porto

Na tarde de 21 de dezembro de 1946 os Padres Colombo e Canova embarcaram no navio espanhol, Cabo de Hornos, no porto de Génova, rumo a Portugal onde iniciariam a presença dos Dehonianos.

“Lembro-me que no momento do embarque eu tremia muito. Não sei se pelo vento de nortada que soprava, se pelas saudades, se pelo medo que fosse notado o excesso de peso da bagarem e os controladores mandassem parar. Efetivamente, o fiscal da alfândega não queria deixar passar a máquina de escrever, pois dizia que era nova… Depois exigiu a garantia da ‘Banca d’Italia’ para a exportação do duplicador… depois, finalmente, deu ordem para marcar as bagagens todas com o hierógrafo de passagem… Respirámos!

Recebida a bênção do Padre Provincial (que deveria tomar o comboio para Bolonha às 19 horas) subimos para bordo e, feitos os acenos de mão para as últimas saudações, refugiamo-nos na nossa cabine. Sabia bem o tepor lá de dentro. Uma vez jantados, deitámo-nos e dormimos saborosamente, apesar da gritaria e dos barulhos de bordo, onde continuaram a carregar durante toda a noite.” (CF. Memórias do Padre Ângelo Colombo)

 

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Viagem marcada

“Só no dia 3 de dezembro (de 1946) tive na mão o passaporte com os vistos de passagem pela Espanha e de entrada em Portugal. (O meu passaporte foi concedido ‘in nome de Sua Majestà Umberto II re d'Ítalia’ então no poder. Tem a data de '8 Giu. 1946').

De Roma parti para Génova, onde fui hóspede do meu antigo educador e professor, Pe. Alfonso Franceschetti, então capelão da Stella Maria.

Com a ajuda deste padre, fui procurar uma passagem marítima para mim e para o Pe. Canova. Encontrámo-la numa Agência da Companhia A. Costa, para viajar num navio espanhol que partiria nos fins de dezembro. Os bilhetes de passagem deveriam ser diferentes: para o Pe. Canova, até Barcelona; para mim, até Lisboa com a bagagem toda.

- Porquê, se ambos vão para Lisboa? – perguntaram-nos.

- É que só eu vou acompanhar as bagagens até Lisboa e o meu companheiro irá de Barcelona para Lisboa via Madrid.

- E a bagagem dele?

- Eu é que a acompanho até Lisboa.

- Mas isso é pouco ortodoxo…

Interveio então o Pe. Franceschetti, bem conhecido no ambiente marítimo. A dificuldade ficou esquecida e a passagem marcada. E ainda bem, pois seríamos também portadores das bagagens dos missionários que já tinham partido para Lisboa de avião.

A questão era que o dinheiro era pouco naquele tempo e… precisava poupar!

Marcada a passagem, fiz uma visita ao Noviciado de Albissola e daí voltei a Roma para despedir-me do Superior Geral, Pe. G. Govaart, e em meados de dezembro voltei a Bolonha para fazer o mesmo com o Superior Provincial e Confrades do Studentato Missioni e para preparar as últimas coisas. Subi à minha terra para uma derradeira visita de despedida à família e, no dia 19 de dezembro, descia no comboio de Milão para Génova, com armas e bagagens.” (CF. Memórias do Pe. Ângelo Colombo)


Conclusão: 

Mesmo antes de chegarem a Portugal já tinham aprendido a poupar!

 

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Preparação da viagem

Preparando a viagem para Portugal, 

jardim da Europa à beira-mar plantado

 

“No mês de dezembro (de 1946), o Pe. Colombo encarregou-me de obter das várias Congregações Religiosas de Bolonha, cartas de apresentação para as casas correspondentes em Barcelona e Portugal.

As duas Congregações escolhidas foram os Salesianos e as Doroteias.

Aos primeiros fui pedir especialmente uma carta para Barcelona; mas, na minha ignorância geográfica confundi Barcelona com Lisboa (ou confusão de palavras Barcelona/Lisbona). Para me corrigir, pedi para as duas cidades. Cartas aliás, que nos serviram imenso.

Às Doroteias pedi para Lisboa.

Um nosso padre de Bolonha fora capelão das Doroteias durante os tristes anos da guerra. A casa delas foi bombardeada e o capelão ajudou muito as Irmãs seja para salvaguardar as Espécies Eucarísticas, seja para dar um pouco de calma durante os bombardeamentos. Entre as Irmãs havia também uma portuguesa que, reconhecidamente, escreveu uma carta para a Superiora do Colégio do Lumiar com todos os elogios e recomendações possíveis para que nos tratasse bem. Ao entregar-me a carta, a saudosa portuguesinha não se coibiu de me dizer que Portugal era uma terra muito bonita: Um jardim à beira-mar plantado. Admirei o espírito poético da Irmã, não sabendo eu de quem era aquele verso.” (CF. Memórias pessoais do Pe. Gastão Canova, SCJ)

 

Nota:

Jardim da Europa à beira-mar plantado” é um verso da autoria de Tomás Ribeiro (1831-1901), incluído no poema “A Portugal”, que abre o seu livro D. Jaime, publicado em 1862. Este poema, constituído por 15 oitavas, dá o mote do livro no seu acentuado pendor nacionalista:

Jardim da Europa à beira-mar plantado
de loiros e de acácias olorosas;
de fontes e de arroios serpeado,
rasgado por torrentes alterosas,
onde num cerro erguido e requeimado
se casam em festões jasmins e rosas;
balsa virente de eternal magia
onde as aves gorjeiam noite e dia.

 

terça-feira, 30 de novembro de 2021

À descoberta da Madeira


Foi assim há precisamente 75 anos:

“Num dia de novembro (de 1946), pelas quatro horas da tarde, o Provincial veio dizer-me:

- Pensei que tu fazias um jeitão lá na Madeira, na Escola de Artes e Ofícios… sabes de eletricidade….

O mais difícil foi dizer aos meus pais! Primeiro ao pai… depois à mãe!

- Onde é a Madeira?

A verdade é que eu não sabia bem onde estivesse esta Madeira.

Procurei no planisfério dependurado na sala de jantar. Havia lá no meio de tanta água; mas o sinal da ilha perdia-se entre outras letras e marcas.

- Está no meio do Oceano…

Ficaram na mesma.

Foi uma minha tia, grande devoradora de livros, que resolveu o problema e tornou a Madeira familiar em minha casa.

Encontrou um romance italiano que fala de “um dia na Madeira”.

O livro foi lido… estudado! Ilha maravilhosa, cheia de flores… clima ótimo. Meus pais ficaram um tanto aliviados.

Mais aliviados ficaram quando, uns dias depois, lhes pude apresentar o meu Superior: Pe. Ângelo Colombo.

Ficaram logo a gostar do homem.

- Confiamos-lhe o nosso filho – disse meu pai.

- É tão criança ainda – acrescentou minha mãe.

Eu era um rapaz de 25 anos, saído há meses do seminário, com os olhos fechados, apenas com um desejo grande de semear a Boa Nova aos pobres.

O Pe. Colombo, já com 2 anos de sacerdócio, uns tantos de Universidade, com o seu doutoramento, com uma experiência romana… e, especialmente, um padre com verticalidade e humanidade servidas por uma inteligência serena e clara, foi a pessoa escolhida pela Providência, capaz de responder ao desígnio que tinha sobre nós.

Passámos o último mês na azáfama da preparação da partida.

Pus-me a estudar também português. Empresa difícil!

Comprei a única gramática que havia no comércio naquele tempo: o Ragliavini. Começava, como é natural, pela pronúncia.

Desanimei!

Umas tantas maneiras de pronunciar o ‘e’, outras tantas de pronunciar ‘a’, meia dúzia de sibilantes e regras sem fim.

Estava mesmo para largar tudo da mão quando, mais adiante, encontrei um trecho em português que me encantou. Era a descrição da menina de olhos verdes de “As Viagens da Minha Terra”. À minha maneira, mas entendi tudo. Aquele trecho, reconciliou-me com a língua portuguesa para sempre!”

Isto foi há 75 anos, nas vésperas de partirem para Portugal e fixarem-se na Madeira!

 

(CF. Memórias pessoais do Pe. Gastão Canova)

 

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Memorial Pe. Colombo (16)


Dois livros publicados

Faz hoje 21 anos que partiu para a eternidade o Pe. Colombo (1995).
É dia para valorizar o património espiritual, vocacional e humano que deixou por onde foi passando…
Entre tanta herança, quero recordá-lo através dos livros que escreveu e publicou, o último postumamente, fruto das suas investigações para a tese de doutoramento e depois como complemento ao mesmo tema.
Em 1953 a Universidade Pontifícia Gregoriana de Roma editou a dissertação de doutoramento apresentada no Instituto Pontifício de Estudos Orientais com o título: As origens da hierarquia da Igreja Copto-Católica no século XVIII.
Em 1996 o Instituto Pontifício de Estudos Orientais de Roma publicou um novo livro com o título: O nascimento da Igreja copto-católica na primeira metade de 1700,
No prefácio deste último, escrito pelo próprio Pe. Colombo, podemos encontrar o porquê do seu interesse por este tema:
“Desde então (1953), passaram-se muitos anos e múltiplas vicissitudes amadureceram no mundo e na Igreja Católica; mas sempre conservei na mente e no coração a atração pela Igreja Copto-católica. Devido aos acontecimentos históricos, tive de desistir do desejo de trabalhar em terras onde se encontra implantada tal Igreja. Impossível é, naturalmente, esquecer os sonhos da juventude e os estudos realizados em vista de uma atividade específica missionária. Cultivei, todavia, especialmente nestes anos, a aspiração de completar a tese publicada para prestar um útil e humilde serviço à Igreja e a quantos se interessam pela história das Igrejas Orientais, com dados documentados acerca do nascimento da Igreja Copto-Católica.”


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Colombo, Angelo, SCJ
La nascitta della chiesa copto-cattolica nella prima metá del 1700
Pubblicazione
http://oseegenius.unigre.it/pug/img/blank.png;jsessionid=BB213C2729239FF3C5A8B4B51C45491B
Roma : Pont. Institutum Orientalium Studiorum, 1996 


Collocazione
http://oseegenius.unigre.it/pug/img/blank.png;jsessionid=BB213C2729239FF3C5A8B4B51C45491B
Mag. 8 CC 250 
Record Nr.
http://oseegenius.unigre.it/pug/img/blank.png;jsessionid=BB213C2729239FF3C5A8B4B51C45491B
295954

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Colombo, Angelo, SCJ
Le origini della gerarchia della Chiesa copta-cattolica nel secolo XVIII
Pubblicazione
http://oseegenius.unigre.it/pug/img/blank.png;jsessionid=BB213C2729239FF3C5A8B4B51C45491B
Roma : Pontificiae Universitatis Gregorianae, 1953 


Collocazione
http://oseegenius.unigre.it/pug/img/blank.png;jsessionid=BB213C2729239FF3C5A8B4B51C45491B
Mag. 7 CN 5
Mag. 8 CC 140 
Record Nr.
http://oseegenius.unigre.it/pug/img/blank.png;jsessionid=BB213C2729239FF3C5A8B4B51C45491B
35064