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terça-feira, 26 de agosto de 2025

D. Teodoro e o Pe. Dehon


Neste dia das exéquias fúnebres de D. Teodoro de Faria, bispo do Funchal de 1983 a 2007, recuperamos a sua nota pastoral sobre o Pe. Dehon. Por coincidência, neste mês e ano ocorre o centenário do falecimento do Pe. Dehon.

Nota Pastoral de D. Teodoro de Faria, 13 de março de 2005

A vocação do Pe. Dehon

1. A Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus é conhecida na diocese do Funchal desde 13 de outubro de 1946. O seu Fundador, o Padre Leão Dehon, embora não sendo um desconhecido entre nós, merece uma maior divulgação e reconhecimento, pois é uma eminente figura da Igreja. A sua beatificação será uma ocasião para o tornar mais conhecido e invocado junto de Deus pelo nosso povo.

Nascido em França, junto da fronteira com a Bélgica, a 14 de março de 1843 numa família de nobre ascendência, Deus mostrou por sinais claros ao jovem Leon que o chamava para o sacerdócio. Contrariado pelo seu pai na vocação, Leon estudou direito em Paris, esperando a ocasião propícia para os estudos de filosofia e teologia, o que veio a acontecer em Roma, após uma audiência com o beato Pio IX. Ficou hospedado como aluno no Seminário francês, junto ao Panteon, e frequentou a Universidade Gregoriana. Ordenado sacerdote, com a aprovação do pai, «durante um ano inteiro, escreveu, não fui capaz de celebrar sem lágrimas uma só vez».

Ao deixar Roma, ficou escrito nos registos do Seminário: Leão Dehon, da diocese de Soissons. Carácter excelente. Capacidade grandíssima. Piedade e regularidade perfeitas.

É este o carácter do jovem que Deus vai guiar na sua diocese, através de muitas dificuldades e trabalhos. Ele próprio vai reconhecer que a ação exterior o esmagava e a vida interior ressentia-se com demasiadas obras.

Sentindo-se inclinado para a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e reparação, confia ao seu bispo o projeto escondido de fundar um Instituto. Recebeu o consentimento do seu superior, que para ele significava o selo de Deus. Como em todas as grandes obras da Igreja, as dificuldades foram muitas e as provações muito fortes. Por causa de problemas de membros exaltados, teve até de depor em Roma, junto do Santo Ofício, que usou de mão forte para com o jovem sacerdote. A obra não morreu e a prova teve efeitos benéficos. O bispo escreveu-lhe então: «Hoje vós estais no caminho querido por Deus». A obra expande-se para fora da diocese e da Europa, embora sujeita a numerosas críticas e dificuldades. Em 1902 os religiosos estrangeiros são expulsos da França e os bens das Congregações religiosas confiscados e vendidos ao desbarato. O Padre Dehon procurou resolver todos os problemas surgidos com esta prova, chegando a escrever quinze cartas por dia.

Preparava o nono Capítulo Geral da Ordem, quando o Senhor o chamou à sua presença, a 12 de agosto de 1925.

 

O Coração de Cristo

2 - A característica da obra do Padre Dehon, não é o ensino nem a caridade, mas o «espírito de amor e de reparação ao Coração de Jesus». «O Coração de Cristo, escreve, é o símbolo do amor divino e humano de Jesus... é todo o Evangelho... O Coração de Jesus é como um novo nome de Jesus que ama, manifesta e encarna o amor de Deus».

O Pe. Dehon não inicia uma nova corrente de espiritualidade, ele vai ao centro do cristianismo, o amor. Lê o Evangelho e vive o mistério cristão sob o prisma do amor. Jesus é o amigo que pede o que há de mais central no homem: o coração, isto é o amor. O Pe. Dehon vive em profunda união com Cristo, mas também com as realidades humanas, onde se incarna o amor de Deus. Desta forma ele funde o amor de Cristo com o empenhamento apostólico e até social. «Nisto conhecemos o Amor, escreve S. João. Ele deu a vida por nós. Também nós devemos dar a vida pelos irmãos» (Jo. 3, 16).

 

O Pe. Dehon na Madeira

3 - Através dos seus filhos, os sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus, o Pe. Dehon chegou à Madeira em 1946, há cerca de 59 anos. O Cardeal Teodósio de Gouveia, querendo patrocinar a causa missionária em Moçambique, pediu em Roma a Mons. Tardini, da Secretaria de Estado do Papa, que enviasse sacerdotes dehonianos para a Madeira, onde havia muitas vocações, para preparar sacerdotes para o mundo missionário. O bispo D. António Manuel Pereira Ribeiro, embora não partilhando do «demasiado otimismo» do Cardeal Gouveia, acolheu na Diocese os padres do Sagrado Coração de Jesus.

Passados estes anos o Colégio Missionário tem cumprido a sua missão. De alguma forma os seus membros, juntamente com outros padres e leigos, apresentam o rosto missionário da nossa Diocese que nunca perdeu a sua vocação universal…

 

Neste Ano da Eucaristia, a espiritualidade do Pe. Dehon, é uma oferta de Deus para melhor conhecer as «insondáveis riquezas» (Ef. 3, 8) do Coração de Jesus Cristo no sacramento do altar, sinal do grande amor de Deus pela humanidade.

 

Funchal, 13 de março de 2005, D. Teodoro de Faria, Bispo do Funchal

À margem:

Para além desta atenção de D. Teodoro à beatificação do Pe. Dehon, registamos que a sua atenção foi transversal a tantos outros santos:

 

D. Teodoro de Faria, 

Bispo do Funchal de 1982 a 2007.

 

O Bispo que acolheu e tratou dos santos na Madeira:

1º - Recebeu São João Paulo II na Madeira (12 de maio de 1991)

2º - Apresentou Carlos de Áustria na sua Beatificação (3 de outubro de 2004)

3º - Iniciou o processo de beatificação

- Da Madre Wilson (18 de agosto de 1991)

- Da Madre Virgínia (29 de dezembro de 2006)

- Da Irmã Maria do Monte (4 de março de 2007)

 

Que descanse em paz com todos estes santos na glória de Deus.

 

terça-feira, 12 de agosto de 2025

Leão Dehon na eternidade


Comemoramos hoje os 100 anos da partida do Pe. Dehon para a eternidade.

(14/03/1843 – 12/08/1925)

O logótipo do centenário

O conceito do Logótipo do Jubileu Dehoniano surgiu da tentativa de unir as duas datas especiais – o 100º aniversário da morte do Padre Leon Dehon e o 150º aniversário da fundação da Congregação – então, apresenta a citação do Padre Dehon que se relaciona com ambos os aspetos: “Por Ele eu vivo: Cristo vive em mim”. Este também é o slogan do Jubileu Dehoniano. Além disso, o logótipo apresenta uma ilustração do Padre Dehon e sua assinatura abaixo da citação. Atrás da citação, a cruz dehoniana, símbolo da Congregação, aparece em ouro, representando o tempo do Jubileu. Abaixo, as datas do Jubileu Dehoniano, 2024-2028.

A autora é Maria Eduarda Oliveira Batista. Ela é uma jovem formada em Design e mora ao lado de uma paróquia e de um noviciado mantidos pela Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, em Jaraguá do Sul, Brasil. Por isso, ela participa ativamente de vários eventos e atividades da Província BRM e, portanto, é muito familiarizada com a espiritualidade e o carisma dehonianos.

 

O hino do centenário

O hino convida-nos a celebrar o centenário da morte do Fundador e o 150º aniversário de fundação da Congregação como uma oportunidade para exaltar, como fez o Padre Dehon, o Coração de Cristo que vive em nós.

O autor do hino, P. Simão Pedro Claudino dos Santos SCJ, é membro da Província Brasileira Meridional (BRM) e atualmente trabalha como missionário em Ji-Paraná, Rondônia, no norte do Brasil (região amazônica). Foi ordenado sacerdote dehoniano em 2010 e também trabalhou por vários anos na missão do Paraguai.

 

Hino – Vive em nós

 

Vivat Cor Iesu... per Cor Marie. (2x)

 

1. Lá em La Capelle na França nascia

um homem de Deus: Leão Dehon.

Ele não sabia o que acontecia,

mas Deus já falava em seu coração.

 

2. Diante da imagem do Cristo Sagrado

sempre contemplava o seu Coração

e ardia no peito a voz do Senhor:

“Preciso de homens da reparação”.

 

Viva, viva, viva,

o Coração, o Coração de Jesus!

 

Vivat Cor Iesu... per Cor Marie. (2x)

 

3. Fazem cem anos de sua partida,

continua vivo na Congregação.

Unidos a Cristo seguimos seus passos:

ministros do amor e da reparação.

 

Viva, viva, viva,

o Coração, o Coração de Jesus!

 

4. Há mais de cem anos seu sonho é missão:

sou eu, é você, sua Congregação.

“Por Ele vivemos, Ele vive em nós”:

mostremos ao mundo o seu Coração.

 

Viva, viva, viva,

o Coração, o Coração de Jesus!

Para ouvir versão MP3 clicar aqui

 

Ver também a etiqueta Experiências Dehonianas, neste blog.

 

sexta-feira, 14 de março de 2025

Pe. Dehon em português (5)


Quinto Capítulo da Primeira Biografia do Pe. Dehon em Português

Uma Obra de Deus

Um homem de 34 anos pode fundar uma Congregação?

Quando este homem tem uma formação, sob todos os aspetos, completa, e uma tão eloquente realização de obras, como o Cónego Dehon (desde o ano 1876, o seu Bispo tinha-o nomeado Cónego honorário da Sé de Soissons); quando este homem tem uma vontade assim pura e tão firme (“Nada de humano entrou na minha decisão” (Diário)., quando sobretudo é Deus que fala por meio dos seus servos e pela boca da Autoridade, embora de 34 anos, um homem pode encarar com confiança o futuro ao qual inúmeros filhos iram trazer, com veneração, aos lábios, esta palavra: Pai!

E o Cónego Dehon será pai, ou melhor Padre (no sentido latino) Dehon do S. Coração de Jesus, desde o dia em que iniciará o seu Noviciado, 16 de julho de 1877, depois da concessão do seu Bispo que lhe tinha predito: “Vós quereis recoltar Padres e eu desejo um Colégio em Saint Quentin. Podereis começar a vossa Obra, abrindo um Colégio”. E escrevia a 13 de julho: “O projeto da ‘Sociedade0 tem toda a minha simpatia; eu ajudar-vos-ei com o auxílio que eu julgue ser da vontade de Deus; desejo que sejais Vós quem presida à sua realização”.

D. Bosco, em Paris, assegurava-lhe: “A vossa Obra é de Deus!”

No dia mais terrível da sua vida, quando tudo lhe parece por terra, quando, apesar de ser Obra de Deus, a nova Congregação dir-se-ia que encontrara a morte ainda que momentaneamente, por um decreto do Tribunal do S. Ofício: o Fundador escreverá a Mons. Tibeaudier, seu Bispo: “Vossa Excelência sabe que eu fundei o Instituto dos Oblatos do S. Coração de Jesus, com o fim único de procurar a Glória de Deus. Eu só queria alargar o Reino de Nosso Senhor, propagando a Devoção ao S. Coração e oferecendo-lhe as Reparações que Ele pedia à sua Serva Margarida Maria. Circunstâncias providenciais que seria longo demais, revelar aqui, fizeram-me julgar este desejo como um chamamento de Deus. Vós sabeis quanto me animaram homens de Deus a quem pedi conselho. Submeti o projeto a Vossa Excelência. V. Exª. Escreveu-me a 13 de julho de 1877: “Este projeto tem toda a minha simpatia; ajudar-vos-ei com tudo que eu julgar ser a vontade de Deus”. Comecei. Sabe como me entreguei, todo, a esta Obra. A divina Providência enviou-me, pouco a pouco, uns 15 sacerdotes e outros tantos Seminaristas e muitos moços que se preparavam para as Ordens sacras. Muitos não responderam ao chamamento divino, senão à custa de grandes sacrifícios. Eu julguei reconhecer de mil modos a confirmação da vontade divina, tanto pelas repetidas provas que passaram por mim e por muitos outros meus irmãos, como pelas graças extraordinárias de que fui testemunha, e pelos encorajamentos que recebi de pessoas muito consideradas pela ciência e pela piedade” (Diário).

Abençoado pelas autoridades, seguido pelas orações e íntimos oferecimentos de almas santas, Pe. Dehon, finalmente, podia começar. Juntamente a um Instituto de S. João, que ocupou tanto da sua atividade e do seu coração, e no qual as gerações novas cresciam “à luz resplandecente da fé, a atmosfera das virtudes cristãs e no nobre meio da cultura tradicional” (Card. Binet, ser. Fun.), com esta sua a atividade predileta, também a Congregação dos Oblatos do S. Coração de Jesus desabrocha para a vida. Em 28 de junho de 1878 Pe. Dehon fazia Votos Religiosos, aos quais juntava um especial “Pacto de Amor” que em seguida vamos reproduzir.

Em 24 de setembro do mesmo ano inaugura-se a primeira casa do Noviciado: “Casa do S. Coração”. Muitos anos mais tarde Pe. Dehon escreverá, lembrando este dia “Entrámos lá e celebrámos a primeira Missa em 14 de setembro, dia da Exaltação da S. Cruz. A divina Providência tem destas coincidências luminosas. Não era necessário que uma Obra de Reparação se baseasse na Cruz? Quanto padeci, de todos os modos, como me foi predito! Humilhações, doenças, pobreza, contradições… e depois perseguições, expulsões. Fiat!” (Diário).

Mas os princípios são cheios de graças sensíveis. Vive-se numa autêntica “atmosfera de graças, qualquer coisa que comove a alma como os eflúvios cálidos e perfumados dos trópicos impressionam os sentidos” (Diário). O divino e ativo silêncio de Belém e de Nazaré; a intimidade de Betânia; a confiança e as reparações do Cenáculo. Assim se vive numa casa onde o programa se encerra nesta aspiração: Glória, Amor, Reparação ao S. Coração de Jesus! Assim se formam “corações que ainda não se deram e que estejam pronto a sacrificar tudo, até a própria vida, se for preciso, para a glória de Deus, pelo amor do seu S. Coração e pela salvação das almas; corações que, de preferência, pertençam ao seu divino Coração, que se dediquem inteiramente ao seu serviço, à sua vontade, ao seu amor e aos seus interesses; que procurem poupar-Lhe qualquer desonra, qualquer ultraje e ofensa e que, pelo menos, façam todos os esforços para consola-lo e dar-lhe satisfação” (Diário).

Agora, mais do que nunca, e primeiro que entre todos, o Pe. Fundador poderá repetir: “Ecce Venio”: estou pronto, Senhor para cumprir o que for de vosso agrado, estou pronto para sacrificar tudo por vosso Amor” (Diário).

(Continua)

 

sábado, 16 de novembro de 2024

A mais íntima confidente


Memória de Santa Gertrudes, Virgem, 1256-1301

Santa Gertrudes juntamente com Santa Matilde foram consideradas entre “as mais íntimas confidentes do Sagrado Coração”. É o Papa Francisco a citar o Pe. Dehon.

De facto, na mais recente carta encíclica “Dilexit nos” sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus, o Papa Francisco no número 110 cita o Pe. Dehon. Ao falar sobre a difusão da devoção do Coração de Jesus, apresenta algumas mulheres que relataram experiências de encontro com Cristo, caracterizado pelo repouso no Coração do Senhor, fonte de vida e de paz interior. E conclui com a expressão do Pe. Dehon sobre Santa Gertrudes e Santa Matilde “as mais íntimas confidentes do Sagrado Coração (Leon Dehon, Diretório Espiritual dos Sacerdotes do Coração de Jesus, Thournout, 1936, II, cap. VII, n. 141).

 

O Papa Francisco lembra que Santa Gertrudes de Helfta, monja cisterciense, contou um momento de oração durante o qual reclinou a cabeça sobre o Coração de Cristo e escutou os seus batimentos. Num diálogo com São João Evangelista, não fala do que viver quando teve e mesma experiência. Gertrudes conclui ela pergunta-lhe por que razão, no seu Evangelho, não fala do que viveu quando teve a mesma experiência. Gertrudes conclui que a ‘doçura desses batimentos foi reservada aos tempos modernos, para que, ao escutá-los, o mundo envelhecido e morno possa renovar-se no amor de Deus’. (Dilexit nos, 110)

 

O Pe. Dehon e os santos do Coração de Jesus

São Miguel é o admirável porta-bandeira do Sagrado Coração de Jesus, que prepara o Seu Reino. Invoquemo-lo neste sentido.

São João Baptista chamava-se a si mesmo o amigo do Esposo. É um dos santos mais queridos ao Coração de Jesus.

Santo Agostinho é o doutor do amor de Deus.

São Francisco de Sales fundou a Visitação para consolar o Coração de Jesus.

São Francisco de Assis recebeu os estigmas do Salvador a quem amava tão ardentemente.

Santa Gertrudes, Santa Matilde e Santa Margarida Maria foram as confidentes mais íntimas do divino Coração.

Eis os nossos modelos, padroeiros e amigos, aos quais devemos unir-nos todos os dias, para honrar, amar, consolar e invocar o Coração de Jesus. (Diretório Espiritual)

 

Ver também:

Santa Gertrudes

 

terça-feira, 20 de agosto de 2024

O Pe. Dehon e São Bernardo


Memória de São Bernardo,

Abade e Doutor da Igreja, 1090-1153)

Das Meditações do Pe. Dehon:

São Bernardo faz parte do grupo dos iniciadores da devoção ao Sagrado Coração.

Igreja coloca as suas efusões de amor para com Nosso Senhor no ofício da festa do Sagrado Coração.

De facto, os seus escritos estão todos cheios do espírito do Sagrado Coração, sobretudo as suas homilias sobre a Incarnação, o seu tratado do amor de Deus, os seus sermões sobre o Cântico dos cânticos. Explicando este texto: «Olhou para as fendas de pedra», e mostrado que estas fendas são as chagas de Jesus Cristo, sobretudo a do lado através da qual se vê o seu Coração: «Oh! Exclama, porque chegamos ao Coração dulcíssimo de Jesus, não suportamos que dele nos separem.  Ah!  Como é doce, como é bom habitar neste Coração!  Que tesouro precioso o vosso Coração, ó misericordioso Jesus!  Pérola incomparável encontrada esquadrinhando o vosso corpo!  Darei tudo para o possuir.  rocarei todos os pensamentos e afetos da minha alma por ele. Fixarei todos os meus desejos no Coração do meu Senhor Jesus, e sem nenhuma dúvida, ele me alimentará com o seu amor.  Lá, neste Templo, o Santo dos Santos, nesta arca preciosa, viverei, adorarei, louvarei o Senhor. Lá estará a vítima que sem cessar lhe oferecerei, o altar no qual oferecerei todos os meus sacrifícios, sobre o qual as mesmas chamas de amor com que o seu arde consumirão o meu».

O Coração de Jesus foi aberto pela lança: foi ferido, para que a sua ferida visível nos fizesse conhecer a ferida invisível do amor.

 

Ver também:

Vocação contagiada

Bernardo cicerone

São Bernardo

Bernardo de Claraval

 

quinta-feira, 11 de julho de 2024

A atualidade de São Bento


Festa de São Bento, Abade, Padroeiro da Europa

São Bento, patriarca dos monges ocidentais, nasceu em Núrcia, no ano 480. Ainda muito jovem, seduzido e impelido pelo Espírito, abraçou um período de absoluta solidão numa gruta em Subiaco. A sua fama atraiu-lhe discípulos. Organizou para eles a vida cenobítica, inicialmente em doze pequenos mosteiros à volta de Subiaco e, depois, no célebre cenóbio de Monte Cassino. Escreveu uma Regra que resume sabiamente a tradição monástica oriental, adaptando-a ao mundo latino. Esta escola de "serviço ao Senhor" é construída à volta da Palavra de Deus (Lectio divina), da Liturgia de louvor realizada em coro, e do trabalho em ambiente de fraternidade, de humilde e obediente serviço. Faleceu com 67 anos de idade, em Monte Cassino, no ano 547 a 21 de março. A sua festa celebra-se a 11 de julho, dia da transladação dos seus restos mortais.

 

Sermão sobre São Bento pelo Pe. Dehon

S. Bento teve a graça de trabalhar pelas almas.

Na sua solidão, catequizava os pastores da montanha.

Mais tarde, aceitou dar formação a alguns jovens piedosos de Roma, que as suas famílias lhe confiavam em Subiaco.

Foi entre eles que recrutou S. Mauro e S. Plácido, seus amáveis discípulos.

Sabia falar corajosamente aos grandes e recordar-lhes os seus deveres.

Repreendeu ao bárbaro Tótila as suas depredações e as suas crueldades. Ordenou-lhe que não abusasse das suas vitórias, especialmente na ocupação da cidade de Roma.

Que variedade nas suas obras e na sua ação social!

Os seus discípulos, ao longo dos séculos, dedicar-se-ão também ao apostolado em todas as suas formas, segundo os tempos e as necessidades da Igreja.

É preciso tomar forças no recolhimento, especialmente em cada manhã, e dedicar-se depois às obras, segundo a nossa vocação, segundo a vontade de Deus que nos é conhecida. É um dever para nós hoje rezar pela conservação da vida regular e monástica através das dificuldades que o demónio lhe suscita. (Cf. Leão Dehon, OSP 3, p. 314s.).

 

Atualidade de São Bento

Reflexão de G. K. Chesterton sobre São Bento - Cada século é salvo pelo santo que lhe é mais contrário. A simplicidade monástica de São Bento era justamente a resposta de que a corrupção e a opulência do decadente Império Romano precisavam. Ele respondeu à luxúria com a pureza, à avareza com a simplicidade, à ignorância com a sabedoria, à decadência com a diligência e ao cinismo com a fé. As suas comunidades nas montanhas tornaram-se faróis numa época de trevas e um refúgio para as tempestades que estavam prestes a cair.

Vale a pena lembrar o exemplo de Bento hoje, quando muitos veem aproximar-se as mesmas tempestades do que parece ser a derrocada da civilização ocidental. Quando consideramos o fim que levou a Roma pagã, os paralelos são sensivelmente similares.

Também a nossa cultura está enfraquecida desde dentro por incríveis opulência, luxúria e sensualidade. Como os antigos romanos, a nossa sociedade mata os seus filhos que ainda não nasceram num nível alarmante e também investe grandes montantes em máquinas militares para dominar o mundo. Os ossos ricos “patrícios” reinam nos seus templos de poder sem nenhuma preocupação com o povo, enquanto os “plebeus” comuns rangem os dentes com descontentamento cada vez maior. Também nós nos sentimos ameaçados por bárbaros desconhecidos que vêm do outro lado do mundo e também nós nos preocupamos em defender-nos dos bandos que cruzam as nossas fronteiras.

 

À margem

Segundo relatos históricos São Bento morreu, em pé, amparado por dois monges, como se estivessem sustentando a cruz de Cristo, logo após ter sido ministrada a ele a Santa Comunhão, o Pão Eucarístico, o viático do Senhor. Ele já havia previsto sua morte seis dias antes, mandando seus monges cavarem sua sepultura.

Configurado com Cristo na morte, com Cristo entrou na glória da ressurreição.

Morreu como sempre viveu – configurado com Cristo e com a sua cruz.

 

Ver também:

A cruz, o livro, a charrua

Trabalho e oração

As 3 brechas

Oração e ação

Oração de São Bento

São Bento

Ora et labora

 

quinta-feira, 21 de março de 2024

Pe. Dehon em português (4)


Quarto Capítulo da Primeira Biografia do Pe. Dehon em Português

Pauperes evangelizantur

Em 16 de novembro de 1871, a cidade de Saint-Quentin (Soissons) tinha um novo vigário: o R. Padre Dehon. Era o sétimo Vigário daquela cidade, o recém-chegado.

Uma alcova sempre no alto e uma grande visão diante dos olhos: a basílica magnífica e a “cidade inteira a que era preciso valer, dizia com tristeza o moço sacerdote, mas seria necessário a ajuda do estado, da opinião pública, e do clero” (Diário). Trinta mil almas, muita pobreza económica e espiritual, nenhuma instituição para proteger a mocidade que vive em misérrimas casas dos arredores. O que se apresentava à sua alma era então propriamente o contrário do que sempre sonhara: “uma vida de recolhimento e de estudo” (Diário). Mas não devia ele escrever mais tarde que o culto ao S. Coração de Jesus há de começar na vida mística das almas, e descer depois até penetrar na vida social dos povos, para levar um supremo remédio às cruéis doenças do mundo? (Il Regno del S. Cuore, 1879) Otium sanctum quaerit charitas veritatis, diz S. Agostino (de Civit. Dei. XIX, c. 19), regotium justum suscipit necessitas charitatis.

Perante as tormentosas necessidades que a caridade nos mostra, sacrificar-se-ão também os santos ócios a que a verdade nos convida.

O novo Vigário de Saint Quentin pronuncia com todo o coração o seu primeiro “Fiat”. “Pesa-me não poder aproveitar a excecional preparação recebida nos meus longos estudos. O ministério da cidade impõe aos jovens Sacerdotes demasiado trabalho material. Para entrar na jerarquia e por obediência, sacrifiquei todo o meu gosto pelos estudos, pus de parte toda a minha preparação superior, recebida em Paris e em Roma” (Diário). Mas de resto: “Nada faz tão bem como fazer o bem”, disse Legouvé. O jovem Vigário, experimentá-lo-á de dia para dia, em contacto com os humildes que consola e socorre, perto das crianças que recolhe e instrui; no seu “patronato S. José”, que abre com quarenta rapazes, no mês de junho de 1872, e que no mês de janeiro de 1873 já conta 200 e no ano seguinte 227, e mais 74 aspirantes; na direção do Conselho Protetor da Assistência Operária Católica de Saint Quentin; nos numerosos congressos de estudos sociais que ele próprio promove… É tudo uma eflorescência de Obras, uma magnífica atividade que não arrefece por se sentir isolado, não se assusta com as oposições, não deixa de avançar pelas incompreensões que encontra. “Estava tudo por fazer; mas eu era só. A organização das nossas grandes freguesias não deixa os padres fazer apostolado. Quando os nossos pobres Sacerdotes têm de assistir a funerais, o seu tempo e a sua atividade ficam esgotados. Podemos viver assim muitos séculos sem renovar a sociedade cristã… E tudo foi organizado neste sentido: ofícios, pregações, associações. E depois fica-se espantado se o povo diz que a religião é só feita para mulheres e rapazes. Esta geração pusilânime transformou o Cristo! Não é já entre os pecadores, os publicanos, “Pauperes evangelizantur”, o <Cristo que exercia o seu constante apostolado entre os pecadores, os publicanos e os homens mundanos” (Diário).

Com que zelo, por isso, ele havia de exclamar: “Ide aos vivos, ide ao povo, ide aos homens!” (Diário).

Este jovem a quem chamam fanático revolucionário socialista, é, ao contrário, um precursor daquelas doutrinas das quais será defensor, divulgador incansável, quando o Papa Leão XIII as consagrar nas suas imortais encíclicas, lançando a palavra de ordem Prodire ad populum (ir aos povos)!.

Um trabalhador, um lutador, um amigo dos pequenos, dos humildes, dos pobres! Cronologicamente é o último Vigário de Saint Quentin. O Cardeal Binet podia dizer: “Qual é a grande iniciativa em Saint Quentin, sob o aspeto religioso, em que não apareça a obra, e sobretudo, o grande espírito do Pe. Dehon (Serv. Fun.)

***

Ainda não falámos duma outra missão do Pe. Dehon: missão que pode ser secundária, mas que. Ao contrário. É providencial, constante chamamento à secreta aspiração que a predileção de Deus há muitos anos lhe tinha feito germinar no seu coração: “Eu tive a vocação religiosa desde a adolescência. Era sempre a conclusão dos meus retiros. Mas não via com clareza, qual a comunidade que devia escolher. Andava à procura e ia esperando. A mais viva inclinação era o S. Coração e a Reparação” (Memórias).

Em julho de 1873, as Escravas do S. Coração estabeleceram-se em Sainte Quentin e o jovem Vigário foi logo eleito seu confessor e diretor espiritual. O fim da recente Congregação era: “Uma vida de Amor puro e de Imolação ao S. Coração de Jesus, com inteiro oferecimento de todas as orações e obras ao divino Coração e por meio do zelo em fazer amar e consolar! Palavras que pareiam tiradas inteiramente das Constituições dos Padres do S. Coração de Jesus, e que bem indicam o espírito que o Padre Dehon infiltrará no ânimo dos seus filhos. De parte a parte se desejava que uma Obra de Sacerdotes se juntasse à destas almas generosas, vivendo e espalhando o ideal, perfeitamente, segundo as necessidades da época e dos desejos do S. Coração de Jesus. Mons. Fava, Bispo de Grenoble, escrevia o Pe. Dehon: “Esta ideia da Reparação foi sempre e em toda a parte inspirada à Igreja pelo Espírito Santo”. E a veneranda Madre Fundadora das Escravas: “Vós sabeis melhor do que eu – escrevia – quanto é necessária a Reparação, nestes tempos, e quanto o S. Coração de Jesus a deseja para alcançarmos graças e misericórdias… Parece-me que seriam precisas também, amas sacerdotais para esta reparação: mas Nosso Senhor manifestará a Sua vontade, neste sentido, na ocasião própria. Espero-o e desejo-o, para sua maior Glória e triunfo da S. madre Igreja.”

Há quanto tempo começara a ardes esta luz!... Por quanto tempo esperou ele uma resposta à insistente oração: “Domine, quid me vis facere?” (Senhor o que queres que eu faça?). Até agora tinha trabalhado tanto pelos pobres, pelos humildes, os benjamins do S. Coração de Jesus! Agora que a luz está a nascer, agora que a voz de Deus se manifesta claramente, jamais os abandonará. Voltará para eles, mas não irá só. Voltará com uma multidão sempre crescente de apóstolos, aos quais deixará um programa sagrado, como testamento de um pai, como os desejos do Céu: “A instrução dos rapazes, o ministério entre os pequenos e os humildes, entre os trabalhadores, os pobres e as Missões longínquas que requerem amor e sacrifício” (Memórias). Mas tudo isso não há de ser mais que o desabrochar da caridade que abrasa a alma, o cálix cheio, a derramar, a sede ardente da amizade do S. Coração que se aproxima e pede Amor, Consolação e Reparação.

(Continua)


Ver também:

Pe. Dehon em português (3)

segunda-feira, 18 de março de 2024

Pe. Dehon em português (3)


Terceiro Capítulo da Primeira Biografia do Pe. Dehon em Português

Os melhores dias


19 de dezembro de 1868. Em S. João de Latrão, 200 levitas de todas as nações do mundo esperavam com a alma em alvoroço, as grandes palavras “como o pai me mandou a mim, assim eu vos mando a vós… Chamo-vos amigos!,,, Sois Sacerdotes por toa da eternidade!”

Entre estes afortunados estava também o nosso querido Padre. E não se achava só. Acompanhavam-no o pai e a mãe; e as lágrimas selavam aquele último dom concedido, o definitivo em que não se onde andar para trás.

Estava também o pai, sim. Não o gentil-homem estranho a todas as formas da vida Cristã; mas vencido, e transformado. “Naquele dia, diz o Pe. Dehon, a emoção foi grande que não pude tomar alimento nenhum” (Diário). Depois de tantas orações, depois de tantas exortações do filho, depois das belas impressões da Roma Cristã e da bênção de Pio IC, a cerimónia augusta desta oração sacerdotal acabava por fazer nova lu

“Levantei-me, já Sacerdote, escreve o Pe. Dehon, “possuído por Jesus, todo cheio d’Ele, do seu amor pelas almas, do seu espírito de oração e de sacrifício. Eu era um louco de amor por Nosso Senhor e sentia-me cheio de desprezo pela minha pobre pessoa” (Diário). São os melhores dias da sua vida. Durante um ano inteiro, no Sacrifício de cada dia, ele não poderá reviver aquelas horas, benditas, sem chorar. Nem quer ouvir falar em remuneração das sua Missas. Desgostava-o imenso associar uma ação tão santa a preocupações materiais. “Era Nosso Senhor que me pedia aquelas Missas, rezando só para Ele, em espírito de Amor e de Reparação” (Diário).

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Novos horizontes se abrem ao novo Sacerdote. Em Roma, passou “anos inolvidáveis, bem empregados, cujo valor só no Céu poderei compreender” (Diário).

Ganhava ricos tesouros: o Sacerdócio, a ciência eclesiástica (doutor em Filosofia, em Teologia, em Direito Canónico), bons costumes, saudosas recordações, o sentimento católico profundamente enraizado em todo o seu ser, uma inabalável dedicação ao S. Padre, uma admiração cheia de entusiasmo pela Igreja: “Ó Igreja Católica, quanto és admirável! Tu nasceste do Coração de Jesus, meu Salvador. Tu tens a doçura de Cristo que é a tua cabeça, e de todos os santos que são os teus membros” (Diário).

O Pe. Dehon protesta que sempre tivera dois grandes ideais: a verdade e a caridade. A verdade que o iluminara na sua longa preparação, a caridade com que se fortalecera no S. Coração de Jesus: “podemos passar por uma fornalha de amor sem sermos abrasados de amor?” (Diário).

E agora verdade e caridade estavam diante dele como dois caminhos a seguir e duas riquezas para distribuir.

Os anos de 1870-1871 eram anos de guerra, de inquietação, descontentamento. Andavam agitadas as multidões, exacerbado o sentimento nacionalista. Havia necessidade de ordem, era preciso melhorar aquela situação.

O liberalismo económico e político tornava bem difícil o caminho da Igreja. Era preciso esclarecer as ideias com a verdade, pacificar os corações com a caridade. Um campo magnífico de ação!

“Meu Deus! – suplicava então o Pe. Dehon. Meu Deus! Vós que transformastes as paixões de Paulo, de Agostinho e de Girólamo em santos, ardentes afetos, purificai os ardores do meu coração e transformai-os em ardente amor para convosco.

Aqui me tendes, mais uma vez, Senhor! Estou pronto.

Deixai-nos lutar! Queremos salvar a sociedade para reconduzi-la a Cristo, seu Rei, hoje dolorosamente destronado” (Diário).

(Continua)


Ver também:

Pe. Dehon em Português (2)