sábado, 29 de agosto de 2009

Puros de Coração

Ano B - XXII Domingo Comum

Dois monges caminhavam por uma estrada. Junto ao rio viram uma bela moça:
- Que posso fazer para te ajudar? Perguntou um dos amigos.
- Leva-me para o outro lado do rio.
Sem hesitação o monge carregou-a às costas e deixou-a na outra margem.
O outro colega ficou silenciosamente admirado pela ousadia mas, à noite, no templo, encheu-se de coragem e censurou o seu colega pelo atrevimento de ter levado tão esbelta donzela:
- Não devias ter feito aquilo. Foi uma grande tentação tocar numa mulher tão jovem e bela. A nossa regra não permite tal liberalidade.
O outro respondeu com humildade:
- Eu deixei a jovem junto ao rio mas tu ainda a carregas inutilmente contigo no teu coração.

O que faz com que uma acção seja boa ou má, pura ou impura, não é a letra da lei mas o espírito da mesma lei.
A pureza exterior e ritual pouco importa.
Às vezes, em nome de costumes e letras falta-se à lei essencial da caridade e mata-se o amor.
O que vale é o que vai no coração.
A pureza de coração não é fuga ao amor, mas amar mais e melhor em oblação de nós mesmos.
A letra mata, mas o espírito dá vida.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Hobbies do Pe. Dehon

A) O que fez:

O Leão Dehon sempre foi um homem super dinâmico.
Tinha um espírito de iniciativa muito espontâneo.
Experimentou muita coisa, inovou, estudou, treinou, aprendeu tudo o que poderia ser útil nas suas grandes causas.
Considerava-se um homem de escrivaninha e não um homem de acção ou de trabalho manual, mas não deixou de fazer tanta coisa…
Lia muito, estudava sempre, observava, tomava apontamentos…
Apesar disso sentia-se limitado na escrita ou na literatura.
Podemos fazer uma vasta lista de todos os seus passatempos, ocupações de tempos livres ou hobbies:

1.
Tive uma viva atracção, que duraram toda a minha vida, para construir capelas. A minha mãe tinha estatuetas, imagens piedosas, e até alguns relicários que tinha arranjado no pensionato de Charleville. Tudo isso tornou-se imediatamente o armamento da minha capela… No Verão, as flores eram o ornamento da minha capela. (NHV, I)
2.
Cedo tomei também o gosto da jardinagem; tive sempre o meu jardinzinho. (NHV, I)
3.
Sentia atracção para a dança e para as reuniões mundanas. (NHV, I)
4.
Fizeram-me representar, na distribuição dos prémios (no Pensionato de La Capelle), o papel no Avarento de Molière. Ostentei nisso não pouca vaidade. (NHV, I)
5.
Entrei na Congregação da S.S. Virgem em Hazebrouck, pia associação. Fui secretário e depois vice-presidente da associação.
Também entrei na sociedade de S. Vicente de Paulo. Fui dela tesoureiro durante muito tempo. (NHV, I)
Este segundo ano em Hazebrouck teve as suas graças especiais. Tornei-me acólito e tomei um grande gosto pelas coisas do altar. Mais tarde, encontraria, em Roma, nas mesmas funções de sacristão, um meio de estar muitas vezes ao pé do Senhor durante os recreios, e de ter ao meu cuidado tudo o que era da capela. (NHV, I)
6.
No Círculo eu fazia, em Paris, a minha partida de Whist (jogo de cartas) à noite com alguns frequentadores. (NHV, I)
7.
Tomava chá em família e muitas vezes havia excelente música. (NHV, I)
8.
(Durante os estudos em Paris) Com meu irmão, demos alguns passeios aos Campos Elísios, fomos às corridas de cavalos e assistimos a algumas peças de teatro escolhidas. (NHV, I)
9.
Eu tomava lições de piano e de desenho, mas nunca fui artista. (NHV, I)
10.
Na Inglaterra ficou alojado em casa de uma família. “Partilhamos a mesa com a família e o jogo de Whist. (NHV, I)
11.
Comecei a falar em público na Obra da Doutrina da fé em S. Suplício. Tinha mais boa vontade que talento. Fui catequista.
12.
No mês de Julho inscrevi-me na confraria do S. Coração 1859)
Fui admitido ao círculo católico a 16 de Dezembro de 1859 (NHV, I)
13.
Fazer pesquisas sobre a sua família (árvore genealógica). (NHV, I)
14.
Sob a influência do seu amigo Leão Palustre tornou-se um amador de arqueologia. Foi membro da sociedade francesa a partir de Setembro de 1862. Iria conservar um posto muito acentuado pela arqueologia e pelas belas-artes, até à época em que estaria demasiado ocupado pelas suas obras sociais. (NHV, I)
15.
Nas margens do rio (a 31 de Janeiro de 1965), caçámos para distrair e trouxemos para o barco algumas poupas, cotovias e outras. (NHV, II)
16
Na primavera desse ano (1866) entrei na ordem terceira de S. Francisco a 21 de Março. Já tinha tentado em Paris, mas não tinha perseverado Desta vez fui fidelíssimo até ao dia em que os meus votos religiosos fizeram cair esses laços anteriores com a Ordem Terceira (NHV III)
17.
Tinha uma pequena recolha de frases (NHV, III)
18.
Na minha formação faltava-me a literatura. Só foi mais tarde que eu retomei um pouco de gosto pela literatura. Compreendo, mas tarde demais, que com pouco mais de arranjo, muitas vezes eu teria dado mais eficácia à minha palavra. (NHV, III)
19.
No fim das férias em La Capelle, preguei, confessei, ensinei latim… De manhã e de tarde ia à velha igreja e passava horas deliciosas no jardim rezando o meu breviário e o meu terço, fazendo boas leituras(NHV, III)
20.
Em Agosto (de 1870) eu já começara a dar explicações de Latim a vários rapazes que estavam no Seminário Menor ou que desejavam entrar nele. Continuei até Março. Tinha 4 alunos que vinham cada dia à minha casa. Dois chegaram ao sacerdócio. (NHV, V)
21.
Três meses depois comecei a reunir uma meia dúzia no meu quarto, no Domingo depois das Vésperas. Eles viam alguns livros ilustrados e brincavam por alguns instantes. O Patronato tinha começado. Mais tarde era num pátio, As crianças brincavam duas horas depois e fazia-lhes uma conversa no estudo. (NHV V)
22.
Os meus breves contos interessavam as crianças (do Patronato) porque eu narrava coisas vistas e passadas. (NHV, V)
23.
Feliz é tu, Palustre, que podes entregar-te assim ao estudo. Quanto a mim, deixando-me guiar pela Providência, tornei-me homem de acção, apesar do meu gosto pelo trabalho de escrivaninha. (NHV, V)
24.
Cada Domingo, eu falava às crianças do Patronato. Relatava alguma das minhas recordações de viagens, fotografias, objectos do país etc. As crianças precisam tanto de coisas concretas para ficar com atenção. (NHV, V)
25.
Notas quotidianas, não fui fiel este ano em escrever as minhas impressões quotidianas (diário)… (NHV, V)
26.
Eu não gostava da literatura pura, o romance, o que se chama arte pela arte. (NHV, V)
27.
Organiza lotarias… para angariar fundos para o Patronato (NHV, V)
28.
É Jornalista:
No mês de Dezembro de 1874 começa a sair o Jornal Conservateur de l’Aine, por ele fundado. (Pe. Dehon escreve imensas crónicas e outros artigos, não só neste, mas em vários jornais e revistas) (NHV, VI)
29.
Em Agosto de 1875, recusa o professorado na universidade. (NHV, VI)
30.
Na obra, nós tínhamos 3 ou 4 festas por ano e outras excepcionais… Representavam-se dramas… Eu tornava-me então ensaiador, sugeridor (ponto), maquinista. Isso exigia-me muito tempo e paciência. Dávamos as peças duas vezes, para os benfeitores e para os pais dos nossos jovens. (NHV, VI)
31.
Escritor – Várias dezenas de obras: manuais, sociais, espirituais, biografias, discursos, conferências, estudos…
32.
Conferencista
Não só nas chamadas conferências romanas de 1897 a 1900 sobre a questão social, mas também nos mais diversos congressos a nível diocesano, nacional e internacional sobre as obras.
33.
A Santa Sé deu-me uma certidão de correcção doutrinal ao nomear-me consultor do Índice. Em todo aquele apostolado eu não via senão o levantamento dos pequenos e dos humildes, segundo o espírito do Evangelho.” (NQ 1916)
34.
Durante a primeira Guerra Mundial, quando ficou confinado em Saint Quentin por três anos, continuou trabalhando no jardim, diariamente e cortando madeira. (NQ)



B) O que ensinou ou escreveu:

Emprego do tempo
Cada dia tem a sua oportunidade; cada hora, a sua graça.
O tempo é o veículo da graça, o carro que traz a graça.
O tempo prepara o nosso valor de amanhã e a nossa recompensa para a eternidade.
Evitar toda a perda de tempo nos convites, nas distracções, nas simpatias humanas, nos trabalhos sem fim sobrenatural.
Há livros para conservar, os clássicos, a teologia.
Uma boa revista pode ajudar
É preciso evitar: os livros pouco úteis, os jornais demasiado numerosos, as relações sem utilidade.
Horário e obras:
É preciso ter um horário determinado para todas as circunstâncias da vida.
Horas de levantar e de deitar,
Da missa e do ofício.
Do estudo e dos trabalhos de escrita
É preciso saber limitar as horas de recreações, de distracções, de relações exteriores.”
(NQ 247)

“O trabalho é bom para a saúde da alma.” (ACJ 1, Pág. 37)

“O trabalho afasta mil tentações. O demónio não tem poder sobre as almas ocupadas. Ele não tem nada a sugerir àquele que trabalha.” (ACJ 1, Pág. 175)

“Pede por mim aos teus jovens para fazer cada dia alguns trabalhos manuais para a saúde da alma e do corpo. Há árvores secas para cortar, terras para lavrar, etc. “(Carta ao Pe. Falleur, 26/09/1901, Inv. 314.13, AD: B20/8.6)

Todos os Santos amaram o trabalho assíduo e santificado.” (ACJ 1, Pág. 112)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

As férias do Pe. Dehon

Neste tempo de férias, convem comparar a nossa vivência com a experiência do Pe. dehon.
Apesar de ter vivido há cem anos atrás, o seu espírito era muito aberto e a sua visão de futuro.

AS FÉRIAS DO Pe. DEHON

A) Como vivia o Pe. Dehon as suas férias:
Eis alguns relatos, na primeira pessoa, de como Leão Dehon vivia as suas férias.

1.
Em Hazebrouck passei 4 anos. Eu revia a família somente pela Páscoa e nas férias grandes. (NHV I, 43).

2.
Fiz frequentes visitas e passei férias na casa de 2 famílias da região de Hazebrouck. (NHV I, 57)

3.
Viagem a Paris, Agosto de 1855, para visitar a Exposição Universal com o pai. (NHV, I, 39) A partir daí tantas viagens sobretudo nas férias– Aprendi a conhecer o mundo sem sujar-me nele. (NHV, I, 63)

4.
Primeira viagem a Inglaterra (1861) para aprender inglês. (NHV, I, 75) Outras se sucederam.

5.
Ao regressar a casa (depois da viagem à terra santa e depois de ter sido recebido por Pio IX que o aconselhou entrar no Seminário romana francês de Santa Clara) tomei 3 meses de verdadeiras férias. Tive de narrar muitas vezes a minha viagem (NHV II)

6.
As minhas férias começaram com uma grande privação. Meu pai não estava familiarizado com a minha vocação. Escrevera-me que não me queria ver de batina. O Pe. Freyd pensou que eu não devia irritar nada, nem ninguém: voltei portanto à civil. Vivi como seminarista com o hábito secular, durante três meses de férias. A missa e a comunhão diária… (NHV III)

7.
Em Junho, tomado anémico pelo trabalho, tivera de tomar oito dias de descanso. Passei-os em Genzano, na casa dos Franciscanos, onde o ar puro e as sombras retemperaram as minhas forças. ( NHV III)

8.
As férias (1867) – Voltei à França por mar. Um devoto repouso em La Capelle: passeios, leituras, reuniões de família, Eu procurava pregar, pelo exemplo, a modéstia e a oração. (NHV III)

9.
Nas férias da Páscoa, fui com alguns pios condiscípulos fazer uma graciosa peregrinação na Sabina, precisávamos de ar e de movimento.
(NHV, III)

10.
Eu conservava também os meus gostos de turista, porque via nas viagens uma fonte inesgotável de estudo. (NHV, III)

11.
No dia seguinte ao Natal, parti com os meus bons pais para Nápoles. Eram umas feriazinhas de 8 dias. (NHV III)

12.
Depois da missa nova, passei quinze dias na Normandia. Apanhando banhos de mar, na companhia de um amigo, em Agosto. De manhã celebrava na Paróquia. Tomava um banho por dia. Fiz longos passeios. (NHV III)

13.
Preguei, confessei, ensinei latim… durante as férias (NHV III)
Fiz também uma peregrinação a Nossa Senhora de Liesse, em família… Fim das férias: de manhã e de tarde ia à velha igreja e passava horas deliciosas no jardim rezando o meu breviário e o meu terço, fazendo boas leituras (NHV III)

14.
As minhas férias passaram rapidamente. Prestei alguns serviços ao meu pároco, visitava a família e fui estudar a organização da Universidade de Lovaina (NHV, V)


B) O que pensava ou o que ensinava o Pe. Dehon sobre as férias:

“Quero reproduzir aqui alguns pensamentos que notei no meu primeiro ano de filosofia. Gratry indica-me também o sentido cristão das férias: Retemperar-se no espectáculo da natureza, na luz das artes, no trato com os grandes espíritos, nas peregrinações para visitar os ausentes, nas amizades santas, nas associações sagradas a favor do bem, e finalmente em alguns dias de severa solidão, sozinho diante de Deus, não seria isso um bom repouso?” (NHV II, 1º Ano de Roma 1866).

“Ao partirdes para férias (Alunos do Colégio São João) nós vos entregamos com confiança aos cuidados de Deus que vos ama; aos cuidados dos vossos pais que são os vossos anjos visíveis sobre a terra; aos cuidados das vossas consciências que Deus ilumina e fortalece. Adeus por algumas semanas! Sede felizes, sede ajuizados, sede prudentes. (1º Discurso sobre a Educação 1878).

“De seguida Monsenhor dignar-se-á dar-lhes a sua bênção, depois partirão fortes e alegres para praticar durante as férias as virtudes que são as amáveis companheiras da educação cristã: a piedade, a pureza, a energia e o afecto.” (4º Discurso sobre Educação, 1880)

“Dir-lhes-ia: utilizai as vossas férias, aproveitai as vossas viagens, anotai, observai, comparai. É preciso fazer tudo com medida sem dúvida e não exceder os próprios recursos. Alguém só viajará com a imaginação, ajudado de algum bom livro. Outro que não tem necessidade de fazer cálculos, irá longe. Há vinte anos, o limite de uma viagem de férias era a Suiça, o Reno ou a Holanda. Hoje vai-se à Escócia, a Roma, mesmo a Atenas e até à Síria e ao Canadá. Vem aí o tempo em que se dará em alguns dias a volta ao mundo. Os serviços marítimos alemães vão já em trinta e cinco dias de Hamburgo a Sang-Hai; os serviços ingleses e o caminho-de-ferro trans-canadiano regressam em vinte e cinco dias de Sang-Hai a Londres: Londres só está a dois dias de Hamburgo, isto perfaz um total de setenta e dois dias, precisamente o tempo de umas boas férias
Uma viagem bem feita, grande ou pequena, vale mais do que uma outra recreação ou recompensa. É um estudo, e dos melhores. Este gosto vale mais de que o círculo (convívio), o bilhar ou o romance.” (7º discurso sobre educação: Geografia, 1886)

“Há um certo risco dar-lhes um mês (de férias aos seminaristas), mas é necessário também que as vocações sejam provadas, e ainda, os que não visitam os seus familiares, não conhecem nada do mundo e da vida concreta.” (Carta ao Pe. Kusters, 10/07/1901, Inv. 260.08, AD: B19/5)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Vem ver

24 de Agosto - Festa de São Bartolomeu, Apóstolo

Disse Filipe a Natanael: VEM VER!
Dirá Jesus depois: VINDE VER!

Não basta ir, é preciso ver,
Não basta ver, é preciso ir.
É preciso ser activo - ir.
É preciso ser contemplativo - ver.
São os dois aspectos essenciais e complementares no seguimento de Jesus.
Sejamos então contemplativos na acção,
e activos na contemplação.








São Bartolomeu, também conhecido como Natanael.
Foi provavelmente pregador na fronteira entre a Índia e a Armênia.
O seu escudo apresenta facas de esfolar.
Apresentam também uma Bíblia que lembra a sua fé.
As facas lembram o seu martírio.
De acordo com a tradição, Bartolomeu foi esfolado vivo, crucificado e decapitado.

Café, Tabaco e Pe. Dehon


Embora a sensibilidade dos nossos dias seja diferente, podemos observar que o Pe. Dehon foi bastante tolerante e compreensivo quanto ao tabaco, ao café e às bebidas alcoólicas. Parece que ele experimentou tudo isso, mas nunca foi um consumidor. Aliás a sua precária saúde não lhe permitiria. Em todo o caso podemos ver um homem equilibrado e acolhedor que não condena, mas integra e ajuda.

O uso do Tabaco e do Café

O Pe. Dehon era contra o uso do tabaco, mas deu provas de compreensão:
“Nos países onde o uso (de fumar) é permitido que se fume, mas com moderação; mas nunca no recreio dos alunos, nem pela estrada.”
E esta excepção ainda que bastante restritiva era seguida de um apêndice onde não falta gosto: “Uma maior largueza pode ser deixada aos holandeses, que nascem com o cigarro na boca…” (Règlements divers 43; Vita e Personalità di Padre Dehon, Henri Dorrestein SCJ, Edizioni Dehoniane, Bolonha, 1978, pag 337)

Nas regiões onde há o costume de fumar, este uso deve ser regrado e limitado. Aqueles que têm necessidade de fumar devem fazê-lo no seu quarto, ou na sala de recreio dos padres, mas não nos pátios nem nos corredores. (CC 10/8/1919, Pág. 240)

Escreveu uma carta ao Pe. Falleur, ecónomo de uma comunidade, a 28/09/1919, Inv 295.45, AD: B20(4.2): Zelai pela mesa. É preciso um bom peixe, algumas vezes café, uma infusão à noite para fazer dormir…

O Pe. Dehon fumou cachimbo, durante uma festa nocturna no Egipto. Foi uma excepção, porque de facto era um não fumador:
“No dia 19 de Fevereiro (1865) visitámos Kenéh, (no Alto Egipto, perto de Tebas e de Luxor)…
A França tem lá um agente consular, um amável e rico copta, o Sr. Bichara, que nos recebeu com uma hospitalidade toda oriental…
Tivemos de honrar os ricos Chibuck (cachimbos de longos canos) que nos foram apresentados, já bem acesos.
Entretanto, o jantar ficou pronto.
Tudo isto regado por champanhe, creme de Moka, de aguardente de Dánzica e por duas pequenas chávenas de café.
Depois do café, novos Cachimbos e música.
(NHV, II, 84-85)

Um dia, depois do almoço, sabemos por fonte segura, aceitou um cigarro, mas não fumou até ao fim. Apenas tirou algumas fumaças, pousou o cigarro e não o pegou mais. (SO)

Chegámos ao Mosteiro (Carmelo) tomámos o xarope e o café.
(NHV, II, 126)

sábado, 22 de agosto de 2009

A Alimentação do Pe. Dehon

Leão Dehon, apesar de ser um homem de grande altura (1,92m), sempre se considerou debilitado fisicamente.
A sua alimentação foi cuidada, pois achava-se de estômago delicado.
Bastante novo foi guloso. Durante as suas muitas viagens foi curioso, atrevido/ousado e sobretudo moderado na sua alimentação.

Sempre deu importância à alimentação das pessoas:
- “Os jovens estão um pouco cansados com a comida. Procure variar e melhorar. Há aí um bom cozinheiro? É muito importante para o bom espírito de uma casa” (Carta ao Pe. Kusters, 23/03/1911, Inv 927.37, AD: B74/4).
- Zelai pela mesa. É preciso um bom peixe, algumas vezes café, uma infusão à noite para fazer dormir(Carta ao Pe. Falleur, 28/09/1919, Inv 295.45, AD: B20(4.2)
- “Cuida de ti e cuida da alimentação da comunidade. O bom espírito depende do refeitório (Carta ao Pe. Falleur, 13/02/1923, Inv 279,04, AD: B19/9).

Seguem-se algumas experiências que mostram a sensibilidade e a atenção de um estômago delicado e de um gosto extraordinário.

A Alimentação do Pe. Dehon
1.
Chegou ao Colégio de Hazebrouk em Outubro de 1855:
Comia-se sempre o pão preto e diversos pratos habituais na campanha flamenga, mas pouco apetitosos para estômagos delicados. (NHV I )

2.
No Colégio a idade crítica começou na minha “terceira” classe. A luta foi terrível. Eu era tentado de orgulho, de vaidade e especialmente de sensualidade. Às vezes era guloso...
Mantinha, contudo, todas as minhas práticas religiosas. Era a luta. Travei-a às vezes com coragem. Dormia sobre uma tábua, impunha ao paladar mortificações bem duras, disciplinava-me até ao sangue. Outras vezes fraquejava vergonhosamente. (NHV I)

3.
Em Abril-Junho de 1861 em estadia em Londres para estudar inglês:
Eu gostava de assistir aos pequenos serões do Domingo. Tomávamos o chá como em família
A dieta alimentar tem a sua razão de ser, nesse clima. Os ingleses tomam chá de manhã e à tarde. Comem ao meio-dia carne assada, especialmente de vaca. A sua cerveja é forte. Alegram as refeições com vinhos generosos de Espanha, sobretudo o Jerés. (NHV I)

4.
Na viagem à Escócia, em Abril-Julho de 1862:
Às 6 horas da manhã (depois de termos passado a noite perdidos) chegámos ao Hotel, devorámos uma perna de carneiro fria, tomando chá. Deitámo-nos para depois nos levantarmos sem uma mínima bronquite ou pneumonia. (NHV I)

5.
Alguns dias antes da saída de Londres, ainda em 1862, tive a boa sorte de passar uma tarde com o Cardeal Wiseman, o ilustre arcebispo de Westminster, o autor de Fabíola. Fez-nos um amável acolhimento e convidou-nos a tomar chá. (NHV I)

6.
Em Novembro de 1862, como advogado:
Ia passar todos os dias algumas horas com o Mestre Maza, procurador, na rua S. Ana. É bastante insípida e monótona a vida dos praticantes de tabelião. Todavia o dia tem um momento de alívio em que se se pode divertir e mostrar a aptidão que cada um tem, é a hora do pequeno almoço onde cada um, conversando, come o que teve fantasia de mandar comprar pelo moço, com o pão e o vinho fornecido pelo patrão. (NHV I)

7.
Agosto- Novembro de 1862:
A mesa na Noruega é frugal: só admite pão de centeio e aveia, leite, batatas, e trutas nos grandes dias. Mais a norte encontra-se presunto de rena, que exigiria dentes de aço para ser bem aproveitado.
Toda esta gente raramente come carne, mas é, todavia, robusta. Vive de leite, de ovos, de pão grosseiro. O peixe, especialmente as trutas, é o que se encontra de mais substancioso.
Nós seguimos este regime durante seis semanas sem prejuízo de saúde, porque o ar puro e o exercício mantinham o nosso vigor. Eu gostaria que, para a saúde da alma e do corpo das nossas populações, elas pudessem voltar a esse regime frugal.
O serviço de mesa na Suécia é o dos russos: petiscos e licor antes da refeição, tomados de pé numa mesa lateral; depois molho açucarado, sopa e assado com fruta cozida. Nós dávamos alguma importância a isto tudo. Viajávamos como turistas e como curiosos….
Chegávamos a Viena no dia 28 de Outubro, desembarcando na sua bela estação de estilo renascença. Meu irmão Henrique viera juntar-se-nos em Munique. Ele faria connosco o resto da viagem. Ele tinha como fim prático, o projecto de estudar na Baviera e na Áustria a indústria da cervejaria. (HNV I)

8.
A partir de 10 de Outubro de 1864:
Iríamos percorrer toda a Grécia, durante seis semanas. Precisámos de organizar toda uma caravana, pois a Grécia não tem nem comboios, nem carruagens, nem mesmo estradas. Tomámos seis cavalos e três homens de serviço: intérprete, cozinheiro e carregador. Não levámos tendas; disseram-nos que poderíamos sempre alojar em casa dos habitantes…
Em Esparta:
Recebemos amável hospitalidade em casa de um antigo magistrado, o sr. Fangoras. Segundo o costume, ele ofereceu-nos um copo de água, o glyko e o café, e pôs à nossa disposição os seus melhores quartos…
Alojámos à noite em Andritsaena. O filho do médico veio visitar-nos, para nos oferecer flores e fruta, e para ensaiar algumas palavras de francês. (NHV II)

9.
26 de Janeiro de 1865 no Alto Egipto:
Os nossos homens compram numa aldeia provisão de cana-de-açúcar e nós tomamos parte na festança
Nas Fontes de Moisés:
O beduíno Jousouf Ibrahim oferece-nos com a melhor graça do mundo as provisões de que dispõe: ovos frescos, leite de cabra, pão quente, lotos e café. A lua e um lindo planeta guiam o nosso regresso a Suez até às 10 horas. (NHV II)

10.
“No dia 19 de Fevereiro (1865) visitámos Kenéh, cidade bastante bem traçada, um pouco modernizada e rodeada de belas palmeiras e sicómoros (no Alto Egipto, perto de Tebas e de Luxor).
A França tem lá um agente consular, um amável e rico copta, o Sr. Bichara, que nos recebeu com uma hospitalidade toda oriental. Mais não teria feito para príncipes de sangue. Ele soube criar no meio das areias… uma graciosa Villa com um jardim encantador plantado de laranjeiras e de quase todas as árvores de fruto europeias. A água do Nilo, vinda de muito longe, operou este milagre.
Fomos mesmo lá, apresentar-lhe as nossas homenagens. Eram cinco horas da tarde, ele reteve-nos para jantar, e a festa prolongou-se pela noite dentro. O nosso anfitrião depressa deu as suas ordens para os preparativos e pôs em acção todo o seu pessoal. A espera foi passada num vasto salão guarnecido de um magnífico tapete de Meca, e rodeado por divãs.
Tivemos de honrar os ricos Chibuck (cachimbos de longos canos) que nos foram apresentados, já bem acesos.
Daí a pouco, entraram músicos vestidos com grandes capas brancas, como as harpistas do sepulcro dos reis. Eles formavam uma pequena banda com um tamboril, a cornamusa, e uma espécie de harpa. Eles cantavam; davam-nos a impressão de menestréis da Idade Média. Um grupo de jovens dançarinos completava o nosso entretenimento.
Entretanto, o jantar ficou pronto. Escravas ajoelhadas apresentavam-nos a água que iam vertendo de ricos jarros. Outros escravos imóveis como cariátides seguraram durante toda a refeição grandes lanternas, nas quais ardiam muitas velas.
Depois da sopa foi-nos servido um perú assado, recheado de arroz, de passas e de avelãs; depois abóboras recheadas, requeijão, carnes frias, pastéis e fruta, tudo isto regado por champanhe, creme de Moka, de aguardente de Dánzica e por duas pequenas chávenas de café.
Nós comíamos com apetite, fazendo de vez em quando brindes ao nosso anfitrião, cuja cara exprimia satisfação. Pouco habituado, acho eu, a se pôr à mesa, ele punha-se por vezes a comer com os dedos, à moda árabe.
Depois do café, novos Cachimbos e música.
Era meia-noite quando dissemos adeus ao nosso anfitrião…
Descrevi aqui esta festa porque revela bem os costumes do oriente. Ela pode ajudar a compreender certas cenas da Bíblia.” (NHV II)

11.
Março e Maio na Terra Santa:
Em São Sabas os bons monges de hoje, infelizmente cismáticos, têm a prudência de não abrir a pequena porta de ferro a qualquer um que chega. Eles baixam primeiro do alto dos muros uma cesta na qual os visitantes devem colocar as suas cartas de recomendação. Nós estávamos munidos duma carta do seu patriarca. Abriram-nos graciosamente e ofereceram-nos o “araki” e o café…
Chegámos ao Mosteiro (Carmelo) tomámos o xarope e o café. (NHV II)

12.
Embarque em Beirute para Constantinopla:
A 24 de Maio de 1865 partíamos à noite num navio turco. A 1ª classe estava organizada à europeia; a cozinha era grega. (NHV II)

13.
Excursão com os pais a Pagani, a caminho de Nápoles, no início de 1869:
Os nossos hospedeiros só tinham de bom as suas laranjas, mas tão boas de ultrapassar todas as que eu vira noutras terras. Mas como aí elas eram coisa comum, hesitavam em no-las dar e ofereciam maças como fruta mais distinta. (NHV III)

14.
16 Novembro 1971:
Sendo eu o último vigário de São Quintino, tinha muitas missas tardias: enterros de 5ª classe, casamentos de 4ª classe, missa do meio-dia aos domingos. Jejuava quase um dia sobre dois, mas a minha saúde conservou-se perfeita; pude observar a Quaresma inteirinha, sem nada comer antes do meio-dia. (NHV V)

15.
Assembleia anual dos Círculos, em Paris (1974):
Às 8 horas da noite, um banquete de 200 lugares era oferecido pelo comité de Paris aos seus confrades da província, e os brindes seguidos por aclamações unânimes fizeram vibrar, uma última vez, os corações em uníssono. (NHV VI)

16.
Patronato 1874:
“Mas não julgueis que o dia acabou. Já vos disse que hoje é dia de festa. As crianças do Patronato vão partir, mas os membros do Círculo vão ir jantar e voltarão. Qual é o programa desta noite? Talvez um beberete, organizado pelo director (ao qual tiveram o cuidado de desejar um bom ano), em lugar do beberete e das serenatas, teremos um simples chá com uma conferência de um dos membros do Comité protector (NHV VI).

17.
A Casa de família aumentava.1875:
Os porteiros (família Derniame) tinham até então preparado as refeições da casa de família. Daqui em diante teríamos duas Irmãs, a irmã Verónica e uma outra a tomar conta da cozinha. (NHV VI)

18.
A primeira do ano lectivo 1878/1879 foi a de S. Nicolau, a 6 de Dezembro. Os nossos jovens fizeram uma representação dramática a benefício do Patronato. Representaram graciosamente duas peças: “O surdo ou o Hotel Cheio” e o “Tocador ou os Dois Irmãos”…Durante um intervalo, o Sr. Lefèvre, vestido de S. Nicolau e montado num burro espantadíssimo, atravessava a sala lançando bombons: grande alegria para os nossos pequenos. (NHV VII)

19.
Eis-nos em Valado (Portugal), onde deixámos o caminho-de-ferro para nos aventurarmos pelo campo. O que lá se chama um omnibus, ou melhor uma carripana, nos conduziu a Alcobaça. Lá uma pequena pensão rural deu-nos hospitalidade para a noite. Pela minha parte, tive um quarto com três camas. Gostaria mais que tivesse apenas uma e que parecesse menos uma prancha, para repousar das fadigas da viagem. Serviram-nos uma sopa de azeite, bacalhau e uma omoleta intragável. Entretanto à nossa frente um viajante português ou um hóspede, que constituía connosco toda a clientela do hotel, devorou tudo como quatro pessoas e pareceu deliciar-se perfeitamente. Mas tudo isto se esquece, quando se vêem belas coisas. (Para além dos Pirinéus, Por L. Dehon, Superior dos Sacerdotes do Coração de Jesus, H. & L. Casterman, Éditeur Pontificaux, Paris, Rue Bonaparte, 66, Tournai (Belgique) O Padre Dehon chegou a Lisboa no dia 26 de Março de 1900 e permaneceu em Portugal até 3 de Abril)

20.
A terceira escala é Lisboa. Revejo com agrado a Bizâncio ocidental, que visitei há seis anos:
Uma volta de trém permite-nos admirar a praça do Rossio com o pavimento ondulado e a bela Avenida da liberdade. O museu do Carmo parece-nos bastante modesto. Almoçámos no hotel de Paris e depois temos que partir. (Leon Dehon, Mille lieues dans l’Amerique du Sud: Brésil, Uruguay, Argentine, (1909) Início de Setembro de 1906, mais precisamente no dia 3)

21.
Os Portugueses não nos deixam uma impressão favorável. São pretensiosos e de grande apetite. Os doces desapareceram da sua mesa ainda antes que tenha chegado o momento de tocar-lhes. (Leon Dehon, Mille lieues dans l’Amerique du Sud: Brésil, Uruguay, Argentine, (1909), pag 62).

22.
O prato fundamental das mesas brasileiras, a feijoada, que é apreciada também pelos portugueses, é uma mistura um pouco atabalhoada de mandioca, feijão preto e arroz, com carne seca (Leon Dehon, Mille lieues dans l’Amerique du Sud: Brésil, Uruguay, Argentine, (1909), pad 240-250).

23.
Na Viagem à volta do mundo, em 1910-1911, escreve nas suas notas quotidianas:
No buffet nós almoçámos e depois fomos para casa. No buffet, serve-se à moda europeia e à japonesa. Eu quis tentar os pauzinhos para comer. É pouco cómodo, mas o tempo ajudará…
Eu comi… com resignação, fatigado sobretudo pela posição incómoda que me davam cãibras nas pernas. O meu companheiro achou o jantar muito pouco ao seu gosto. Ele saiu com fome e foi comprar um pedaço de pão para se alimentar.
À noite, visita ao mercado… Eu compro Kakemonos, estes rolos de seda e de papel, ornados com figuras ou de paisagens, para servir de cortinas nas salas.
…De manhã, oferece-nos o pequeno-almoço regulamentar, arroz naturalmente. Ninguém tem apetite. Eu, esvaziei corajosamente a minha taça de arroz com ajuda dos meus dois pauzinhos.

24.
Um dia numa casa da Itália, em época de grande carestia, o Pe. Dehon estava cansado e com a saúde combalida. Os tempos eram difíceis. Tanto isto é verdade que se comia muito pouco. O Fundador calava-se, mas o seu estômago dava sinais evidentes de carência. Um dia, saindo para o jardim com o reitor e com o ecónomo, reparou numa vaca muito magra que pastava por lá. Olhando de soslaio o Pe. Dehon declarou:
- Olhem só a coitadinha da vaca. Está a olhar atravessado para nós porque pensa que queremos comer a sua ração…
(Cf. Giuseppe Manzoni, Leon Dehon y su mensajem, Madrid 1995, pág. 644, José Fernandes de Oliveira, Por Causa de um Certo Reino, S. Paulo, 1978, pág. 186).

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

As doenças do Pe. Dehon


Tinha eu planeado, com os meus colegas, fazer nestes dias uma visita aos lugares onde nasceu, viveu e trabalhou o Pe. Dehon, fundador da Congregaçãoao à qual pertencemos. Era uma boa oportunidade de assinalar os nossos 25 anos de sacerdócio. Um contratempo veio alterar esse plano. Após uma colisão de viaturas na Auto-estrada fiquei retido no hospital em observação. Os meus colegas partiram nessa viagem e eu fiquei... É que a saúde perde-se a galope, mas regressa a passo...
Em recuperação, no Seminário em Alfragide, faço a minha viagem espiritual contemplando as experiências dehonianas. A primeira etapa é esta:

As Doenças do Pe. Dehon

Se é certo que o Pe. Dehon era um homem grande, nem por isso teve uma grande saúde. O seu carácter inteligente e vivaz escondia uma constituição frágil, devido a várias enfermidades que ao longo da sua vida foram deixando sequelas.

1.
Quando Leão Dehon tinha apenas 4 anos padeceu de febre cerebral (uma espécie de meningite) idênticas àquelas, que alguns anos antes, tinham levado à morte o seu irmão.
“A minha mãe julgou-me que ia perder-me, como tinha perdido o seu primeiro. Daí por diante pegou-se ainda mais a mim. Ficou-me uma certa tendência às dores de cabeça e ao cansaço cerebral.
(NHV, I, 38)

2.
“Tenho a lembrança mais clara de uma leve doença que me veio alguns anos depois, uma urticária. Sofri muito. Eu implorava a ajuda da minha boa mãe que sofria comigo, rezava e me encorajava. Voltaram-me alguns ataques mais tarde, mesmo em Roma e em São Quintino.”
(NHV, I, 38)

3.
Na idade escolar, foi vítima de um acidente a caminho de casa.
“Eu voltava uma tarde do pensionato, com um tempo horrível, no meio de turbilhões de neve. Choquei com um cavalo, fui atirado ao chão, o cavalo avançava sempre, um condiscípulo tirou-me da frente da roda quando estava para ser esmagado. Com certeza devo ter recebido um coice do cavalo na cabeça, porque durante dias tive zumbidos nos ouvidos, e do acidente ficou-me uma leve surdez.”
(NHV, I, 38)

4.
Em 1885, Leão Dehon foi com o seu irmão Henrique, estudar para o Colégio de Hazebrouck e lá ficou 4 anos, revendo a família somente pela Páscoa e nas férias grandes. A vida nesse colégio era austera. “Comia-se sempre pão negro e diversos pratos típicos do campo da Flandres, mas pouco apetitosos para estômagos delicados. O regulamento era viril: levantar cedo, pouco aquecimento, muito trabalho e poucos feriados.”
(NHV, I, 43)

5.
Durante o 2º Ano em Hazebrouck, em 1856, Leão Dehon viveu um período crítico: “dormia sobre uma tábua, impunha ao paladar mortificações, bem duras, disciplinava-me até ao sangue.”
(HNV, I, 57)

6.
Durante a viagem pelo Oriente, de Agosto de 1864 a Junho de 1965, devido a grandes caminhadas e à subida ao Monte Carmelo, “pedi a Nossa Senhora do Carmo a cura duma chaga que me fizera no pé durante a viagem. Esta chaga contra todas as previsões estava curada no dia seguinte; desde então fiquei sempre convencido de que devia este favor a Nossa Senhora do Carmo. Fiquei-lhe reconhecido para sempre.”
(NHV, II, 126)

7.
Ainda durante a viagem ao Oriente, “durante dois dias, 22 e 23 de Maio de 1865, “a febre quebrou-me as forças. O meu companheiro percorreu pormenorizadamente Tróia, que eu simplesmente avistei… Nesses dois dias realmente eu sentia-me mal. Recorri ao meu grande médico, a Santíssima Virgem e estou convencido que a sua intercessão me sarou.”
(NHV, II, 145)

8.
Em Roma, nos anos de seminaristas, Leão Dehon não se furtava a esforços: “Eu procurava a união com Deus por vezes com tensão de espírito e por isso apanhei algumas dores de cabeça.”
(NHV, III, 48)

9.
“Este ano lectivo pôs à prova e muito a minha saúde. As repetições de estenografia somavam-se cada dia às aulas normais; apanhei um esgotamento cerebral completo. No começo de Junho tive de parar e ficar de cama. Eu tossia, não tinha forças, tinha todos os sintomas de tuberculose. O bom Pe. Brichet receava uma catástrofe… O que sei é que a convalescença começou desde que tomei água de Lourdes, e poucos dias depois estava pronto para partir para a minha terra natal e lá celebrar a primeira missa.”
“Também em La Capelle assistindo às minhas primeiras missas certa gente dizia: ‘Este pobre padre não celebrará muitas missas.’ Todavia a Santíssima Virgem ia trabalhando pouco a pouco. As minhas forças voltaram lentamente…”
(NHV, III, 204)

10.
Nos primeiros anos como Pároco coadjutor em São Quintino, comprometido com várias actividades, discernindo o seu futuro como religioso, foi incubando uma tuberculose.
“No mês de Maio (1978) eu estava no extremo das minhas forças, cuspia sangue; a saúde iria ficar vacilante para sempre. Era um sacrifício que o Senhor me pedia… Cada ano terá daqui em diante as suas pesadas cruzes.
Em Setembro realizou-se o Congresso se Soissons… fui muitas vezes durante as sessões vomitar sangue até encher a bacia no meu quarto…”
(NHV, VII, 85-86)

11.
“Este ano (1879), eu estava seriamente doente dos pulmões. Tive escarros de sangue e uma dor contínua ao pé do ombro anunciava-me que havia uma chaga no pulmão.”
Em pouco tempo, estava numa situação muito precária. Os médicos não lhe davam mais de três meses de vida. Em particular, a Irmã Maria de Jesus, irmã da Madre Fundadora Ulrich, ofereceu a sua vida para ser ceifada em lugar do Pe. Dehon. Depois de 10 meses, a Irmã partiu para a eternidade. O Pe. Dehon recuperou e pôde continuar a trabalhar até aos 82 anos.”
(NHV, VII, 135)

12.
“Cada ano devia ser marcado pela cruz. Nesse aspecto, a cruz foi bem distribuída neste ano (1880). Eu estava menos adoentado, mas tinha frequentes indisposições.”
(NHV, VII, 175)

13.
Quando tinha 40 anos, o aluno de São João, Guilherme Crinon, depois ordenado Padre, encontrou o Pe. Dehon no seu quarto a vomitar sangue, segundo o seu testemunho partilhado num encontro de antigos alunos em São João a 15 de Novembro de 1925. Dizia que isso aconteceu aos quarenta anos e o Pe. Dehon ainda viveu outros 40 anos.

14.
“Eu retomo os meus pequenos trabalhos quotidianos: notas, estudos, redacções. É em aparência uma grande paz. Estas flores escondem a cruz: a má saúde permanece sempre com insónias…”
(NQ T XVII 1901 41)

15.
“Nosso Senhor disse a Santa Gertrudes que a doença substitui a penitência e purifica as almas… Eu não sou assim tão penitente, mas sofro habitualmente alguma dificuldade excepcional de tempos a tempos.
Ao longo de 15 dias, eu tenho uma dor violenta na mão com inchaço e uma grande sensibilidade. Apanhei isto por um esforço ao levantar um móvel. Eu ofereço isto a Nossa Senhor, mas eu tenho tanto que expiar.”
(NQ T XVIII 1902 35)
Um bom abcesso nas gengivas faz-me sofrer durante alguns dias. Tanto melhor, eu tenho tanta necessidade de expiação.
NQ XVIII, 1903, 56

16.
No dia seguinte à chegada a Roma (1904): “apanho uma gripe com febre, debilidade geral, com ataque de gota na mão e dor de costas. A minha permanência será um período de reparação e expiação. Melhor! Não obstante posso manter-me em pé e começar a fazer algumas visitas cada dia.”
(NQ T XVIII 1904 127-128)

17.
“No mês de Julho (1904) de volta a São Quintino, desde há vários dias tenho fortes dores de estômago. Passo mal as noites. Por outro lado nunca estou sem sofrer um pouco, e é uma grande graça, tenho tanto que expiar.”
(NQ T XIX 1904, 1)

18.
Operação à vista, por causa do lacrimejar constante de um dos seus olhos, desde há um ano, em Namur, na Bélgica.
Eu tenho, desde há um ano, o olho direito lacrimejante, por causa de um encolhimento ou de obstrução do canal lacrimal. É embaraçoso, faz-me ter sempre o lenço na mão, mesmo durante a missa. Eu tentei em vão aplicar colírio. Decidi-me ir a Namur submeter-me a uma operação de desobstrução do canal lacrimal. Fui a Namur segunda 30 ao Novo Instituto de Oftalmologia. O Dr. Bribosia depois de ter anestesiado o meu olho com cocaína, fez-me a primeira limpeza e injecções na terça de manhã, depois introduziu a sonda por dois dias. Isto doeu e foi bastante incómodo. Eu dormi graças a cápsulas de sulfanol.
(NQ T XIX, 1905, 68-69)

19.
“Um tipo de erisipela incha-me a cabeça, tudo se resume em borbulhas e herpes. Tenho para 3 semanas. É bom expiar um pouco por todos os membros”.
(NQ T XIX, 1905, 75)
A 22 de Maio vomitei muito sangue. Será um novo ataque de tísica? Terá sido provocada pela humidade do meu quarto?
(NQ XIX 1905, 76


20.
Em Julho, “nestes dias tive várias vezes escarros de sangue. São advertências: Nosso Senhor não prolonga a minha vida para que a viva na tibieza, mas para que a santifique.”
(NQ T XX, 1906, 52)

21.
Durante a sua viagem pela América Latina, em 1906, no dia 21 de Dezembro, depois de uma noite péssima e uma violenta tempestade no mar, o barco em que seguia o Pe. Dehon passou algumas horas em Montevideu.
“Não desembarco em terra, porque tenho a cara inchada devido a um fluxo. O Médico goza de mim dizendo que masco tabaco como os seus marinheiros. Leio uma bela reflexão de David: Estou prestes a cair, a minha dor está sempre presente… É necessário aceitar o sofrimento para espiar as nossas culpas (Sl 37).”
(NQ T XXII, 1906, 142)

22.
(3 de Abril) Em Roma dei um trambolhão na berma do passeio, não é nada, pode ser uma pequena advertência providencial.
(NQ XXIII, 1907, 54)
Em Roma, “eu padeço violentamente de nevralgias durante alguns dias. O dentista remediou-as.
(NQ XXIII, 1907, 63)

23.
Algumas misérias: nevralgia, abcesso, tudo isto paga dívidas espirituais.
(NQ T XXIV, 1908, 49)

24.
“Eu queria trazer um cinto ou cilício, mas a saúde obriga-me, ao longo de 20 anos, trazer um cinto que é duro e incómodo; eu aceito-o como instrumento de mortificação…”
(NQ T XXXIV, 1912, 177)

25.
“Hoje tenho uma pequena doença muito dolorosa, uma cistite. Há expiações necessárias. Há tanto para reparar por mim e pelos outros! É uma boa preparação para o Natal.”
(NQ T XXXIV, 1912, 184)

26.
“Não posso ir ter convosco antes do verão. Tenho uma bronquite que dura já alguns meses. Abençoo a todos paternalmente…”
(Carta do Pe. Dehon ao Pe. Pedro van Hommerich, reitor de Bergen op Zoom, de 4 de Dezembro de 1912)

27.
Eu bem sei que é preciso praticar macerações, velhas e novas, para chegar à contemplação. Para mim estas mortificações não são impostas pela Providência: eu tenho pouco sono à noite; uma enfermidade obriga-me a trazer um cinto penoso, o estado do meu estômago obriga-me a diversas privações…”
(NQ T XXXV, 1913, 43)

28.
“Fiz duas novenas para ser curado da bronquite que me fatiga, mas Nosso Senhor não me quer curar.
Na minha idade, a vida está toda cheia de doenças, de sofrimentos e de incapacidades. Possa eu fazer de tudo isso uma boa reparação para mim e para os outros!”
(NQ T XL, 1916, 67)

29.
“Eu começo o ano com alguns sofrimentos: uma queda, um forte entorse e um cansaço geral. Porque não? Não tenho eu bastante para expiar antes de terminar a minha vida e não me ofereci como vítima ao Coração de Jesus pelo seu Reino e pelas almas?”
(NQ T XLV, 1925, 8)

30.
Em Julho de 1925, uma epidemia de gastroenterite assolou Bruxelas. O Pe. Dehon, que não deixa de visitar os seus confrades doentes, é acometido, ele mesmo, pela epidemia. Contudo, não muda nada os seus hábitos e assiste regularmente aos exercícios da comunidade.
Na noite de 9 para 10 de Agosto, uma complicação cardiovascular coloca a sua vida em risco. Foi esta complicação que o levou à morte, nas palavras de um médico assistente: “Morre curado!” isto é, curou-se da gastroenterite, mas o coração não resistiu.
Na manhã do dia 11 de Agosto, o padre assistente prepara-o para o desenlace, que se aproximava, e na presença de toda a comunidade, administrou-lhe o sacramento dos enfermos. O Padre Dehon renovou os seus votos religiosos e pediu perdão à comunidade pelas faltas e falhas.
A agonia começou pela manhã do dia 12 de Agosto, interrompida apenas por estas palavras, pronunciadas com dificuldade, fixando o seu olhar na imagem do Coração de Jesus: “Por Ele vivi, por Ele morro”. Foram as suas últimas palavras. Adormeceu na paz do Senhor, pelas 12H10.
(Das lembranças de D. Philippe, escritas em 1952, em alemão, traduzidos em italiano pelo Pe. Lellig para o Pe. Memolo, pp. 286.296 (P. Mtz. de Alegría scj).

Conclusão
No seu corpo quase sempre adoentado, sobressaía uma alma vigorosa e rica, dotada de uma inteligência viva, de uma vontade enérgica e de uma sensibilidade excepcional.

O valor da dor, do sofrimento, das doenças e da mortificação nas palavras do Pe. Dehon:

A)
“Os seus sofrimentos são um tesouro,
que Nosso Senhor põe nas suas mãos,
para que consiga graças de fidelidade
e de vocação para várias pessoas.
É nas provas que se reconhece os seus amigos.
Mostre-se então bem generoso.
Faz mais bem à Obra com um mês passado na cama com paciência,
que com um ano passado em acção e nas obras.”

(Carta do Pe. Dehon ao noviço Falleur que estava acamado a 18 de Setembro de 1880, AD, B 20/13)

B)
“Ofereça os seus sacrifícios ao Coração de Jesus
pela sua obra e para as almas que já não pode evangelizar mais.
O apostolado do sofrimento é o mais fecundo.”
(Carta do Pe. Dehon ao Pe. Kusters, de 27 de Janeiro de 1901, AD, B 19/5)

C)
“Uma pequena humilhação não deve desanimá-lo.
Aceite esta pequena humilhação.
A cruz é a nossa vida.
Uma cruz vale 500 rosários.”
(Carta do Pe. Dehon ao Pe. París de 15 de Maio de 1913, AD, B 20/7.4)

D)
“Eu sofri muito durante a minha vida, quer porque Nosso Senhor aceitou o meu acto de oblação e me enviou algumas boas cruzes, quer porque Ele me puniu na medida das minhas faltas para poder perdoar-me…”
(NQ T XL, 1917, 133)

E)
Para nós possa uma pia mortificação e uma perfeita resignação à vontade de Deus, substituir o martírio.
(NHV, III, 126)

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

São Bernardo

20 de Agosto
Morreu no dia 20 de agosto do ano 1153.

Bernardo depois de laboriosas jornadas retirava-se para a cela para escrever obras cheias de optimismo e de doçura, como o Tratado do Amor de Deus e o Comentário ao Cântico dos Cânticos que é uma declaração de amor a Maria. É também o compositor do belíssimo hino Ave Maris Stella. Também é sua a invocação: " Ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria" da salve-rainha. Foi chamado pelo Papa Pio XII "O último dos Padres da Igreja, e não o menor".

Salvé Rainha
São Bernardo sempre manifestou uma grande devoção a Nosso Senhor Jesus Cristo e a Virgem Maria. Certo dia, quando entrava na catedral de Spira, em 1146 na Alemanha, depois de ter pregado na Missa do Galo, no meio de todo o Clero e do Povo que acabava de cantar a Salvé Rainha, ajoelhou-se em êxtase por três vezes, dizendo na primeira: "Ó clemente!"; na segunda: "Ó piedosa!"; e na terceira: "Ó doce Virgem Maria!", invocações que foram acrescentadas ao final da Salve Rainha.


Oração de S. Bernardo

Lembrai-vos, ó Piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que, algum daqueles que têm recorrido à Vossa protecção, implorado a Vossa assistência e reclamado o Vosso socorro, fosse por Vós desamparado.
Animado eu, pois, com igual confiança, a Vós Virgem, entre todas singular, como a Mãe recorro, de Vós me valho, e, gemendo sob o peso dos meus pecados, me prostro aos Vossos pés.
Não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Filho de Deus Humanado, mas dignai-Vos de as ouvir propícia, e de me alcançar o que Vos rogo.
Amen.


Ave, do mar Estrela
De Deus mãe bela,
Sempre virgem, da morada
Celeste Feliz entrada.

Ó tu que ouviste da boca
Do anjo a saudação;
Dá-nos a paz e quietação;
E o nome da Eva troca.

As prisões aos réus desata.
E a nós cegos alumia;
De tudo que nos maltrata
Nos livra, o bem nos granjeia.

Ostenta que és mãe, fazendo
Que os rogos do povo seu
Ouça aquele que, nascendo
Por nós, quis ser filho teu.

Ó virgem especiosa,
Toda cheia de ternura,
Extintos nossos pecados
Dá-nos pureza e bravura,

Dá-nos uma vida pura,
Põe-nos em vida segura,
Para que a Jesus gozemos,
E sempre nos alegremos.

A Deus Pai veneremos:
A Jesus Cristo também:
E ao Espírito Santo; demos
Aos três um louvor: Amém.


Ave, Maris Stella,
Dei mater alma,
Atque semper Virgo,
Felix caeli porta.

Sumens illud Ave,
Gabrielis ore,
Funda nos in pace
Mutans Evae nomen.

Solve vincla reis,
Profer lumen caecis,
Mala nostra pelle,
Bona cuncta posce.

Monstra te esse Matrem,
Sumat per te preces,
Qui pro nobis natus
Tulit esse tuus.

Virgo singularis,
Inter omnes mitis,
Nos, culpis solutos,
Mites fac et castos.

Vitam praesta puram,
Iter para tutum:
Ut, videntes Jesum,
Semper collaetemur.

Sit laus Deo Patri,
Summo Christo decus
Spiritui Sancto,
Tribus honor unus. Amen

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Admitido ao Sacerdócio

4 de Agosto - São João Maria Vianney

Tenho a felicidade de celebrar os meus 25 anos de sacerdócio num ano especial: Ano sacerdotal pelo 150º Aniversário do falecimento do Cura d'Ars, padroeiro dos Sacerdotes.
Nestes dias, de férias ou de descanso, estou a ler a Vida do Cura d'Ars, de Francis Trochu.
Hoje, li que João Maria Vianney não conseguiu passar nos exames... Não dava nada para os estudos. Tinha já 27 anos e mal conseguia expressar-se em francês, como é que conseguiria estudar em latim, compreender a logica, a filosofia e a teologia... ainda por cima tudo em latim.
Como é que foi admitido às ordens sagradas?

“ Na ausência de S. Eminência, o Pe. Courbon, primeiro Vigário Geral, assumiu o governo da diocese. Era pois este quem haveria de decidir sobre a sorte de João Maria Vianney…”
O Pe. Courbon, simples e bondoso, limitou-se a perguntar:
- Sabe rezar o Rosário?
- Sim, é um modelo de piedade.
- Um modelo de piedade? Pois bem. Eu o admito ao sacerdócio. A graça de Deus fará o resto…”
Mais uma vez Deus serviu-se de coisas simples e de gente humilde para fazer maravilhas...

Escreveu o Pe. Dehon:
“Não tenhamos medo de admitir nas nossas escolas apostólicas crianças simples e pobres, desde que tenham coração, isto é, boa vontade e amor (CA 143).”