quinta-feira, 28 de abril de 2011

Mãos e pés

5ª Feira da Oitava da Páscoa

Jesus mostrou-lhes as mãos e os pés…

Para lhes dizer que Ele foi crucificado e trespassado uma vez e ficou crucificado e trespassado para todo o sempre e não precisa de ser outra vez crucificado.

Assim também os discípulos foram redimidos e salvos uma vez para todo o sempre…

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Emaús

4ª Feira da Oitava Pascal

Os discípulos de Emaús

Quando é que os discípulos se encontravam mais perto de Cristo?
Quando escutavam as palavras que não entendiam, ou quando compreendiam as palavras que já não escutavam?

Tenho a certeza quer numa quer noutra situação Deus está sempre lá.
Quando os discípulos escutavam as palavras que não entendiam, era Cristo que estava mais perto deles...
Quando compreendiam as palavras que já não escutavam, eram os discípulos que estavam mais perto de Cristo.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Não me detenhas

3ª Feira da Oitava da Páscoa

No Evangelho de hoje Jesus diz a Maria Madalena: Não me detenhas... vai dizer aos meus discípulos. Ela vai e diz-lhes: Vi o Senhor...

Não me toques, não me detenhas, não me abraces, pois eu ressuscitei...
Agora só podes abraçar-me pela fé, só podes tocar-me através da tua devoção, só podes ver-me através dos olhos do teu coração.

E eu pensava que Jesus tinha dado uma repreensão a Madalena, numa espécie de mira mira não me toques e afinal foi uma ocasião de Madalena apresentar uma grande lição para a posteridade:
Tocar, abraçar e ver fisicamente, agora já não.
O abraço e o olhar já não podem ser visíveis:
Abraçar sim, mas pela fé; ver sim, mas com o coração; e tocar sim, com com a devoção.
Obrigado Madalena por esta lição.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Ele não conheceu a corrupção

2ª Feira da Oitava de Páscoa

Três mensagens da liturgia da Palavra deste dia:

1ª Cristo não conheceu corrupção. Se Ele, ressuscitado, não conheceu nem a corrupção da alma nem a do corpo, foi para que conseguíssemos pelos menos não cair na corrupção da alma, já que a do corpo não nos é possível.

2ª Madalena foi a correr... dizer aos discípulos que fossem imediatamente para a Galileia...
É o ritmo da páscoa, apressado, a correr, com urgência. De facto ninguém pode ficar parado ou inactivo.. É preciso correr, pôr-se a mexer, já que Páscoa quer dizer passagem...então passemos já.

3ª Afinal onde está o Corpo de Cristo? Os discípulos levaram-no...isto é, o corpo de Cristo está nos seus discípulos... Está em nós.

Estar vivo

Ano A - Domingo de Páscoa

"Quem é vivo, sempre aparece..."

Conheci um velhinho que raramente ia à missa. Mas no dia de Páscoa lá estava sempre.
- Porquê? É para se lembrar que afinal Deus ainda está vivo?
- Não. É para mostrar a Deus que eu ainda estou vivo. E para me lembrar a mim mesmo que preciso dos outros e que preciso de Deus. Ele pode contar assim comigo tal como os outros também.
A etimologia confirma o sentir deste homem. Parece-me que o verbo EXISTIR vem do latim “Ex-sistere”, que quer dizer sair de si. Só existe realmente quem sai de si mesmo, quem vai ao encontro dos outros, porque o homem é um ser em relação. Também o pronome pessoal EU, deriva de “Egeo”, verbo que significa necessito dos outros. É frente aos outros que eu me defino, no mais íntimo do meu ser.
Ao celebrarmos a Páscoa do Senhor, saboreemos a vida que partilhamos com Deus e com os outros. Mostremos que estamos vivos. Precisamos de Deus vivo para nos lembrarmos que não estamos sós. Precisamos dos outros para nos recordarmos que devemos estar disponíveis, porque também eles precisam de nós.
Se Cristo ressuscitou, se quis ficar eternamente vivo, é porque vale a pena viver e que a vida é bela. O melhor agradecimento dessa prova é vivermos com alegria, com Deus e com os outros.

 

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Trinta moedas

4ª Feira da Semana Santa

Trinta moedas de prata foi o preço combinado para Judas entregar o seu amigo Jesus.

Antes de mais, digo eu, Jesus foi vendido com a prata da casa, pois foi um amigo, um dos seus, alguém que comia do mesmo prato... A prata dessas moedas era PRATA DA CASA.
(Ainda hoje quem o atraiçoa são os que deviam estar mais próximos, são os da casa)

Depois, diz o livro do Êxodo, 21, 32: Se o boi escornear um escravo ou uma escrava, dar-se-á trinta moedas de prata ao seu senhor.
Trinta moedas de prata era o que se pagava por um escravo.
Esse foi o desprezível e mesquinho preço oferecido pela vida do Salvador.
(Mas fico a pensar que essa quantia é o preço de um escravo, mas esse escravo não é Jesus mas aquele que o traiu. Foi Judas quem se vendeu por esse valor como escravo... Jesus não foi vendido, pois o escravo foi Judas...)

terça-feira, 19 de abril de 2011

Trevas de Judas

3ª Feira da Semana Santa

No seu livro Jesus de Nazaré da Entrada em Jerusalém até à Ressurreição, o Papa Bento XVI (que faz hoje precisamente 6 anos que foi eleito Papa) escreve acerca do episódio de Judas no Evangelho de hoje:

Para João aquilo qe aconteceu a Judas já não é explicável psicologicamente. Acabou sob o domínio de outrem: quem rompe a amizade com Jesus, quem se recusa a carregar o seu jugo suave não chega à liberdade, não se torna livre, antes pelo contrário torna-se escravo de outras potências; ou mesmo: o fato de atraiçoar essa amizade já resulta da intervenção de outro poder, ao qual se abriu...
João conclui dramaticamente o trecho sobre Judas com estas palavras: (Judas) tendo tomado o bocado de pão, saíu logo. Era noite.
Judas vai para fora num sentido mais profundo: entra na noite, vai-se embora da luz para a escuridão. o poder das trevas apoderou-se dele...

domingo, 17 de abril de 2011

Domingo de Ramos

Ano A - Domingo de Ramos

"Perguntaram um dia à Madre Teresa de Calcutá o que sentia quando entrava numa sala cheia de gente entusiasmada, de pé, a aplaudi-la.
A pergunta era maliciosa. Ficava na mesma? Isso significaria que ela era insensível. Ficava lisongeada? Bem, então talvez não fosse assim tão santa como parecia...
Ela nem hesitou na resposta:
Ficava contentissima! Quando tal acontecia, ao ouvir os aplausos, enquanto andava, pensava em Jesus entrando de burro em Jerusalém entre hosanas de uma multidão entusiasmada e ficava contentíssima.
Ela, claro, era o burro que transportava Jesus! Um burro feliz...
(Cf. Nuno Tavar de Lemos, O Principe e a Lavadeira)

Neste dia de Ramos, possamos nós dizer a Jesus:
- Aqui estou, Senhor, um burrinho pobre e sarnento... Em que poderei te servir?
E Jesus poderá responder:
- Filho, um burrinho pobre e sarnento foi o meu trono mais precioso em Jerusalém.

sábado, 16 de abril de 2011

Grande Paixão

Domingo de Ramos ou da Paixão do Senhor
Explicava eu que o Domingo de Ramos é também conhecido como o Domingo da Paixão.
- Porquê?
- Porque é lida a narração da Paixão de Jesus. E tu sabes o que é a Paixão?
- Eu não. Se fosse a minha paixão, eu sabia responder, mas a de Jesus não sei quem é.
- Quem é?! Que queres tu dizer?
- Então o senhor padre não sabe que a minha paixão é a Susana?
Percebi então que para aqueles garotos, uma paixão era um grande amor, uma pessoa concreta. Ter paixão é estar apaixonado por alguém. Pensei então em perguntar às pessoas mais crescidas o que era uma paixão. Responderam que era os sofrimentos que Jesus padeceu. Fiquei a pensar como seria diferente se se compreendesse a Paixão do Senhor como o seu grande amor.

Paixão dos homens é amor, paixão de Deus é sofrimento. Não serão dois aspectos da mesma realidade? O sofrimento não faz parte do amor e vice-versa?
Contemplemos o amor sem medida de Jesus na sua paixão, morte e ressurreição. Essa amor é a força dos fracos e a fraqueza dos fortes.
Todos nós nos revemos no Domingo da Paixão. Todos estamos envolvidos como acusadores ou como vítimas, flagelando e sendo flagelados, crucificando e sendo crucificados, tirando a liberdade e exigindo a nossa liberdade, ferindo e sendo feridos.
A paixão de Cristo é a nossa própria paixão porque um dia a nossa paixão foi a sua própria paixão.





quarta-feira, 13 de abril de 2011

Renúncia quaresmal

O rei D. João II, foi informado de que um dos seus servos estava gravemente doente e não queria tomar o remédio. O rei foi visitá-lo. Confortou-o e tentou convencê-lo a ingerir o medicamento. O doente recusou-se dizendo:
- Eu já sofro muito. Não quero mais sofrimento. O remédio é tão amargo, que não suportarei mais essa dor...
Então o rei, visivelmente impaciente, tomou ele próprio o remédio amargo que o doente recusava e bebeu alguns goles. Depois disse:
- Eu, o rei, são de corpo e de mente, por teu amor tomei esta amarga bebida; e tu, servo doente, não tomarás este pouco que resta por meu amor e para tua salvação?
E o servo, já decidido, ingeriu de uma só vez todo o remédio, para estar ao nível do amor do seu rei, e a cura não se fez esperar.
Jesus Cristo fez o mesmo por nosso amor.
Estamos na Quaresma, tempo de penitência ou sacrifícios, tempo de esforço e de curas. É preciso decidir-se a tomar a cruz para seguir um pouco mais além. Para isso necessitamos do estímulo e do exemplo dos outros, bem como da nossa coragem e discernimento.
Vivemos num tempo em que toda a gente se queixa que já não se aprende a sofrer. Estamos habituados a ter uma vida fácil e sucumbimos ao menor obstáculo. O Papa João Paulo II escreveu sobre o sofrimento no mundo contemporâneo: “O homem é chamado a dar amor através do sofrimento. O sofrimento conduz o homem em direcção ao futuro. Não deveríamos preocupar-nos com quantos de nós sofrem, mas com tantos de nós que não sabem sofrer.”
A renúncia quaresmal é uma oportunidade para exercitar a nossa vontade e coragem e para aprender a assumir os pequenos sofrimentos. Só assim estaremos bem treinados para acolher qualquer dificuldade da vida.
A penitência vivifica o homem. E não é apenas por uma questão de disciplina que nos faz falta. O sofrimento engrandece o homem, por isso o homem pode engrandecer o sofrimento. Como? O que temos a suportar, podemos levá-lo ou como uma coroa ou como um jugo. O que leva a sua dor como uma coroa, enobrece-se, transformando a sua dor em coroa. O que leva a sua dor como um jugo, rebaixa-se.
O Pe. Dehon escreveu no Directório Espiritual: “Carregar a cruz externamente e por necessidade não basta. É preciso abraçá-la com amor, carregá-la com alegria e coragem, desejá-la com ardor.”

Impacientou-se

3ª Feira – V Semana Quaresma

No deserto, o povo de Deus impacientou-se…

Dizia o Pe. Ângelo Caminati, SCJ:
Paciência é o que se quer!
É aquela virtude que metade dos homens pratica e que a outra metade faz praticar os outros…

Santa Catarina de Sena dá-nos 3 razões para não perdermos a paciência.
1. Pensar como a vida é breve. Nem do dia de amanhã estamos seguros. Relativamente às dificuldades do passado, nós não mais as sofremos. Resta-nos tolerar o momento presente que é fugaz.
2. Considerar as vantagens do sofrimento. Diz São Paulo que não há comparação entre as dificuldades presentes e o prémio da glória que nos está prometido.
3. Pensar nos males que sobrevêm aos que padecem na ira e na impaciência – tristeza nesta vida, castigo na outra, dor acrescentada agora, pena no além.

domingo, 10 de abril de 2011

Ser reeditado

Ano A - V Domingo da Quaresma
Antigamente havia o curioso costume das pessoas, em vida, prepararem o seu epitáfio. Benjamim Franklin, no seu início de carreira, como tipógrafo, preparou também a sua inscrição tumular, bastante original: “ O corpo de Benjamim Franklin, tipógrafo, como a capa de um velho livro que perdeu a moldura e o título, aqui jaz. Mas a obra não desaparecerá pois, como sempre acreditou, reaparecerá de novo numa edição melhor, corrigida e ampliada pelo Autor.”

A vida parece de facto um livro. Quanto mais avançamos, mais podemos ver o seu sentido, a solução do seu enredo. À medida que vamos desfolhando cada dia, tanto mais nos envolvemos. Parece que somos uma obra-prima à procura do seu Autor. Não há páginas em branco, mas quantos riscos, palavras distorcidas. Cada folha não voltará atrás. Um dia, mais tarde, a edição completa, perfeita, será recebida na biblioteca da eternidade. A morte não é fim, mas fronteira de vida nova.

A experiência de Lázaro, o amigo de Jesus, mostra que tudo o que é velho passou. Regressando à vida, anuncia o renascer da nova edição. A ressurreição de Lázaro é argumento de fé pois muitos, ao verem o acontecimento, acreditaram nele. Jesus ajuda a ler esses acontecimentos da vida.

É morrendo que se ressuscita. É saindo, para fora, que nos caem as ligaduras. O que seremos depois já o somos agora, ressuscitados na fé e na esperança.


sexta-feira, 8 de abril de 2011

Em segredo

6ª Feira - IV Semana da Quaresma

"Jesus partiu também para a festa..., mas em segredo."

Toda a gente deseja este autêntico tempo de festa da vida eterna; é um desejo natural, porque todos os homens querem naturalmente ser felizes. Mas não basta desejar. É por Ele mesmo que devemos seguir a Deus e procurá-lo. Muitos gostariam de ter o antegozo do verdadeiro e grande dia de festa, desse grandioso encontro, e lamentam-se que não lhes seja dado. Quando, na oração, não fazem a experiência de um dia de festa no fundo de si próprios, e não sentem a presença de Deus, entristecem-se. Rezam menos, fazem-no de mau humor, dizendo que não sentem Deus e que é por isso que a acção e a oração os aborrecem. Aí está o que o homem não deve fazer nunca. Nunca devemos fazer nenhuma obra desanimados, porque Deus está sempre presente e, ainda que não o sintamos, todavia ele veio secretamente à festa.

(Cf. Jean Tauler, 1300-1361, Estrasburgo)

E eu acrescento:
Se devemos ter cuidado quando rezamos ou fazemos algo, pois Deus vem marcar a sua presença em segredo, com muito mais razão devemos estar atemtos quando celebramos a Eucaristia, pois Deus às claras está presença e deliberadamente vem ter connosco.


terça-feira, 5 de abril de 2011

Toma a tua enxerga

3ª Feira - IV Semana da Quaresma

No Evangelho de hoje Jesus aconselha a tomar a enxerga e ir em frente...

Isto quer dizer que as nossas limitações, parilisias, pesadelos, frustrações etc devem ser atiradas para trás para que possamos avançar.

Mas também me faz lembrar uma fábula clássica:
Os dois fardos ou as duas sacolas que os homens trazem: um à frente para as virtudes e um atrás para os defeitos. Assim cada um só pode ver as suas virtudes, pois os defeitos próprios estão para trás. Mas consegue ver os defeitos dos outros e os outros vêm os nossos defeitos...

E eu corrijo a fábula:
Os burros de carga têm um alforge com duas sacolas, uma de cada lado.
Nós homens temos também um alforge com duas sacolas, mas uma à frente e outra atrás.
Assim podemos atirar para trás tudo o que nos atrapalha.
Mas ainda bem que assim é, pois se os nossos defeitos ficassem à frente, com certeza iriam pesar mais e dificultariam o nosso andar.

É preciso atirar para trás a nossa enxerga e ir em frente.

domingo, 3 de abril de 2011

O cego e a onça

Ano A - IV Domingo Quaresma

3 ecos da prática do evangelho de hoje


Ser cego é ter vistas curtas.
É preciso alargar os horizontes, ver mais além...


Ser cego é olhar só para si mesmo...
Contaram-me esta história da onça:
Farta de ver os outros animais bem feios, a nça, pintada, sentiu desejo de se ver a si mesma, pois achava-se a única bonita.
Foi então ao cirurgião para que lhe mudasse os olhos: em ves de estarem virados para fora, que ficassem virados para dentro para que pudesse ver-se a si mesma e deliciar-se com a sua própria beleza.
O cirurgião fez-lhe a vontade.
Quando acordou, após uma operação de sucesso, a onça queixou-se que via tudo negro, tudo escuro...
- Mas eu sou tão bonita, porque é que vejo tudo negro?
- É que os olhos foram feitos para ver a beleza dos outros e não para a nossa própria beleza. Os olhos foram feiras para serem virados para fora e não para dentro...
Quando alguém só se vê a si mesmo, é cego e verá tudo negro ou escuro...

3º Ser cego é não ver a luz pequenina que temos dentro de nós.
Mesmo que nós caíssemos na tentação da onça e os nossos olhos ficassem virado para dentro, nós cristãos poderíamos muito bem olhar para dentro e com certeza não veríamos tudo preto ou escuro como a onça porque temos uma luz dentro de nós - é a luz da fé que recebemos no nosso baptismo e que devemos deixar brilhar. Além disso temos também a luz da presença de Deus no nosso coração...

Ser cego

Ano A - IV Domingo Quaresma

Num grupo de jovens, estávamos a reflectir sobre o episódio evangélico da cura do cego de nascença. Pedi que cada um apresentasse uma condição dessa limitação física. Seleccionei estas quatro, que mostram a sensibilidade juvenil:

1º Um cego não pode piscar o olho. Antigamente, piscar o olho era sinal de declaração amorosa. Assim o cego estava impedido de manifestar, desse modo, os seus sentimentos. Jesus repõe-lhe essa capacidade.

2º Um cego só consegue ver com a ponta dos dedos. Ao ser curado, recupera a capacidade de conhecer, não só com a ponta dos dedos mas com todas as suas potencialidades.

3º Um cego conhece o mundo com os olhos dos outros. Por isso, Jesus ao curá-lo, está a devolver a possibilidade de fazer a sua própria experiência. Assim se compreende a reacção dos seus pais: “Perguntai-lho. Ele já tem idade para responder por ele próprio.”

4º Num cego, quais são as janelas da alma? Para uma pessoa comum, são os olhos... O cego de nascença tinha uma grande alma, por isso acreditou em Jesus. Este, curou-o, isto é, abriu-lhe o coração ou a alma. “O Principezinho” descobriu esse segredo: O essencial é invisível aos olhos. Só se vê bem com o coração”.

Também nós somos cegos? Perguntaram os ouvintes de Jesus e perguntemos também nós. E a resposta é sim, quando não nos comunicamos, quando não aprendemos com todo o nosso ser, quando não fazemos a nossa própria experiência e quando fechamos o nosso coração.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Apresentação de Livro

Foi no dia 25 de Março, no auditório do Museu Casa da Luz, a apresentação d um novo livro da Professora Gizela Dias da Silva.













RASGOS DA MINHA INFÂNCIA

Gizela Dias da Silva - Texto
Louisa Isabel Roldão – Ilustração
Editorial Eco do Funchal, Março 2011

Fomos convidados para o lançamento do Livro “Rasgos da minha infância”.
Engana-se quem está à espera da apresentação de um livro.
Não se trata de um livro, de mais um livro, e já lá vão 8 desta mesma autora, mas sim de uma viagem.
De facto é de uma viagem que se trata:
Lemos na página 4: “Agora, que despejei no papel … vou terminar meu relato… Melhor falando: vou pôr um ponto final a esta viagem que me propõe sedução.”
É uma viagem que nos leva longe:
Lemos na página 30: “Que saudade me transporta aos meus tempos de infância”.
Viagem que não esquece malas e bagagens, como lemos na página 32: “ Encerro a bagagem que me deram no trem das minhas memórias.”
Viagem com trajecto delineado, pois lemos na página: “Que lindo trajecto efectuado, por mim, na travessia do meu íntimo”.
Ou na mesma página: “ Apenas trazia consigo o entusiasmo do enfoque e a contenção do percurso.”
Não é uma viagem qualquer: é uma viagem, não para fora, mas ao íntimo de si mesmo.
Mas é uma viagem feita também no terreno: Cancela, Caniço, São Gonçalo – lugares que por coincidência fazem parte também da minha experiência de menino e moço. Mas a geografia da nossa infância é sempre universal, pois não é o local que nos marca, nós é que marcamos o local. Não é a experiência que nos dignifica, nós é que dignificamos a experiência. Enfim, não é o que fazemos que nos valoriza, nós é que a valorizamos tudo o que de mais simples fazemos.
Esta viagem tem 15 etapas – os 15 títulos ou episódios ou memórias de tempos idos, tempos a tempo renascidos.
Viagem reveladora de novas paisagens, largos horizontes, cores diferentes: cada história a sua tonalidade, cada episódio a sua cor, cada memória o seu movimentos. É uma viagem narrada e projectada: é um livro para se ver e ouvir. É uma viagem de texto (Gizela Dias da Silva) e ilustração (Louisa Isabel Roldão).
O risco, a cor, o traço, a forma, o escuro, o claro, o desenho, a pintura, outras histórias fazem dessas histórias. Outros contos, outras perspectivas das mesmas paisagens vieram realçar a vida dessas histórias.
No dia em que a Louisa Isabel Roldão acrescenta mais um ano à sua jovem vida, dá-nos o prazer, pelas suas ilustrações nesta obra, de acrescentar mais vida aos nossos anos, às nossas memórias.
É uma viagem pelo mundo da criatividade, uma viagem misteriosa, que se vai recriando à medida que vamos penetrando “nas origens do infinito” (Momentos de sonho). Tudo é criado e recriado.
Parte-se das simplistas brincadeira de antigamente, onde cada criança fazia os seus próprios brinquedos: as bonecas de trapo, os joeiras, as papoilas transformadas em bailarinas…
Mas a criatividade não se esgotava na arte de confeccionar. Alarga-se também pela personificação, pela vida e dinâmica que se lhes transmite: Ser mamã de uma boneca, ou uma gatinha transformada em brinquedo, ou um canteiro ajardinado pelos anjos, ou pôr as plantas a dormir, ou ainda o sonho de querer casar com as rosas…
A mesma criatividade alarga-se não apenas através da evocação do passado mas também através das ilustrações, como contributos abertos à sua potencialidade máxima. E nós hoje continuamos a viajar e a alargar os horizontes dessa acção criadora através da leitura, da contemplação e da nossa fantasia…
É também uma viagem de recordações… São constantes as evidências deste exercício da memória: rever, recordar, reviver, reencontrar, encontrar-se com o passado, marcas da infância, confrontar o hoje com o ontem, saudade, nostalgia… são alguns exemplos.
E eu posso concluir:
Todos dizem que recordar é viver, é reviver, é trazer do passado, é desenterrar, é ressuscitar, é dar nova vida.
Eu também pensava assim que Recordar é viver!
Mas hoje descobri o contrário, e foram estes rasgos que me despertaram para uma verdade diferente:
Recordar não é viver, viver é que é recordar,
Viver é recordar, é nunca se esquecer, viver é marcar, viver é eternamente celebrar. Mais do que recordações da minha vida, quero manter a vida das minhas recordações, porque recordar não é viver, viver é que é recordar.
Finalmente este livro, mais do que uma viagem é uma peregrinação…é um percurso que nos transcende, é um trajecto que nos engrandece, é uma caminhada envolvida de mensagens, uma escalada ou ascese rumo à eternidade.
Destaco algumas mensagens, ipsis verbis:
“Todo o bem que fazemos fica por Deus registado nas páginas do historial da Humanidade.”
“As tradições respeitam-se e transportam-nos nas asas do tempo…”
“Todas as pessoas têm sonhos… adormecidos no seu peito…”
“A vida é cheia de encontros, ou melhor, de reencontros... Saibamos procurá-los.”
“A vida sem luta é como um campo que nada produz…”

Rasgos da minha infância é pois um livro de viagens…
É uma viagem rasgada, traçada, delineada… mas aberta como sulcos cavados pela criatividade e imaginação, com esforço e dedicação.
Obrigado à autora Gizela Dias da Silva por nos propor desta maneira a viagem mais difícil e a mais importante de se fazer: a viagem até ao mais íntimo do nosso coração.
Obrigado e bem haja!

(Foto de Alfredo Rodrigues, Jornal da Madeira)