quinta-feira, 31 de março de 2016

Pax vobis

5ª feira da Oitava da Páscoa

Cristo ressuscitado apareceu no meio dos seus discípulos e desejou a paz.
Notai a maravilhosa e suma igualdade de Cristo, posto no meio dos discípulos.
Nem a ofensa obrigou ao retiro, nem o obséquio ao favor, mas amado ou ofendido sempre igual.
Foi a igualdade quanto ao lugar.
E quanto à ações igual.
No rosto, na alegria, nas palavras na benevolência, no esquecimento do passado, igual com todos e a todos.
A todos oferece a paz.
A todos anima e consola, a todos convida, a todos regala, a todos se entrega, mas parcialidade ou particularidade, a nenhum.
A todos os discípulos era a paz e sem igualdade e igualdade com todos não há paz.
Paz com Deus, paz com nossos próximos, e paz com nós mesmos.
Com esses três cravos que vos pregaram na cruz, e abriram em vós preciosíssimas chagas das mãos e dos pés, confirmai em nós estas 3 pazes.
Com o cravo da mão direita a Paz com Deus; com o cravo da mão esquerda a paz com os próximos; e com o cravo de um e outro pé a paz com nós mesmos, assim no corpo como na alma.

(Cf. Pe. António Vieira, sermão da oitava da Páscoa)


quarta-feira, 30 de março de 2016

Categorias de discípulos

A) Pregava assim o Pe. António Vieira:
Quatro aparições fez Cristo, depois de ressuscitado a seus discípulos, muito dignas de ponderação.
Apareceu a S. Pedro; e sem mais diligências que aparecer-lhe, S. Pedro o conheceu, e se deu por contente.
Apareceu à Madalena, e ainda que lhe viu o rosto, não bastou isto para o conhecer; chamou-a por seu nome: Maria – e no mesmo ponto o conheceu, e se lhe lançou aos pés.
Apareceu a S. Tomé, e ainda que os discípulos lhe tinham dito que ressuscitara, enquanto não meteu a mão no lado, não creu nem reconheceu a seu Deus e a seu Senhor.
Apareceu aos discípulos de Emaús, e por mais que caminhou com eles, e lhes declarou as Escrituras e as profecias, não o conheceram, senão quando lhes deu o pão.
 Nestas quatro aparições estão representados quatro géneros de discípulos, ou quatro géneros de condições de discípulo:
Há uns que são como S. Pedro: com verem a seu mestre, com lhe aparecer o seu mestre, se dão por contentes.
Há outros que são como Madalena: não lhes basta o ver nem o aparecer; contudo, se o Senhor os chama pelo seu nome, como Cristo chamou à Madalena, se o mestre lhes sabe o nome, não hão mister mais para viverem consolados e satisfeitos.
Há outros que são como S. Tomé: se o mestre lhes não entrega as mãos e o lado, se não manejam o coração do mestre, se não se lhes abrem os arcamos mais interiores – ainda que sejam daqueles que duvidaram, e dos que vieram ao cabo dos oito dias, como Tomé – não se dão por bem livrados.
Há outros, finalmente, que são como os discípulos de Emaús, que por mais profecias que se lhes declarem, por mais razões que se lhes deem, enquanto se lhes não dá o pão, estão com os olhos e com os corações fechados: nem conhecem nem reconhecem.
Os que se contentam, como S. Pedro, só com ver, são finos.
Os que se contentam, como a Madalena, só com que lhes saibam o nome, são honrados.
Os que se não contentam, como S. Tomé, senão com o lado, são ambiciosos.
Os que se não contentam, como os de Emaús, senão depois de lhes darem o pão, são interesseiros.
E os que com todas estas coisas ainda se não contentam? São portugueses.

         A) Ensina assim Santo António
        Lê-se que o Senhor apareceu 10 vezes depois da ressurreição:
      Cinco no próprio dia da ressurreição: primeiro a Maria Madalena; segundo às mulheres que regressavam do túmulo; terceiro a Pedro; quarto aos dois de Emaús; quinto a dez apóstolos sem Tomé. Sexto ao oitavo dia, com Tomé; Sétimo aos sete discípulos na pesca, Oitavo no monte Tabor. No dia da ascensão apareceu duas vezes: A primeira quando comiam no cenáculo; e outra vez depois da refeição no monte das oliveiras e se elevou à vista deles.
O que significa cada uma das aparições:

1- a Maria Madalena, a graça do Senhor aparece à alma penitente, antes que às outras.
2 - às mulheres que regressavam, aparece de facto àqueles que volta da miserável saída da sua morte, para refletir na frágil entrada do seu nascimento.
3 - a Pedro, que é chamado pelo nome para que não desespere por causa da negação.
4 - Os dois discípulos de Emaús significa os dois preceitos da caridade, de Deus e do próximo. O Senhor aparece aos que têm caridade e deseja a pobreza de Jesus.
5 - aos dez – quando os discípulos se reúnem aparece sempre o Senhor. Quando estão fechadas as janelas dos cinco sentidos, então aprece verdadeiramente ao coração.
6 - Oitavo dia quando Tomé estava com eles. Para tirar todas as dúvidas. Ferida e chaga. Ferida diz respeito à alma; chaga ao corpo. Na ferida designa-se o pensamento puro, na chaga a morto do corpo.
7 - estando na pesca Tiberíades
8 - num monte que lhes indicou
9 e 10 -  comeu com eles e depois levou-os até ao monte das oliveiras , abençoou-os e elevou-se à vista deles. 

domingo, 27 de março de 2016

Passemos bem



Com Cristo fomos sepultados
e com Ele ressuscitámos.

Todos fomos batizados no dia de Páscoa,
independentemente da semana, mês ou ano.

Se o nosso batismo é a nossa páscoa,
então a Páscoa é o dia do nosso batismo.

E se Páscoa quer dizer PASSAGEM,
então passemos todos muito bem!



sexta-feira, 25 de março de 2016

Cruz ao peito





















Em terras de Angola não há a cultura do beijo, de modo que, na sexta-feira santa, a veneração da CRUZ tem de ser feita de maneira diferente.
No Luau a adoração da Santa Cruz foi, como de costume nesta missão, muito sugestiva: Dois acólitos seguravam uma cruz na horizontal, cada um numa ponta, de modo que cada crente passava de joelhos por baixo dela.
Não sei o que é mais significativo: A cruz ficar por cima do cristão ou este ficar por baixo da cruz.   
A cruz torna-nos pequeninos, por isso ficamos de joelhos...
E depois da cruz pairar sobre nós, levantámo-nos quais criaturas novas...



















Por outro lado, neste dia, toda a gente trazia ao peito uma cruz… 
"No peito eu levo uma cruz;
no meu oração o que disse Jesus..."

segunda-feira, 21 de março de 2016

Beijar a cruz

















Na semana santa até o astro-rei presta a sua veneração àquele que está elevado na cruz.
Foi na igreja matriz do Luau, interior de Angola.
Às 6 horas da manhã, o sol nascente ao entrar pela rosácea transparente, foi beijar a cruz.
Eu vi e acreditei.
E registei para que outros acreditem também!

domingo, 20 de março de 2016

Palmas e oliveiras

Ano C - Domingo de Ramos

Os ramos que cortaram das árvores os que hoje saíram a receber a Cristo, posto que Mateus não declare quais fossem, João diz que eram de palma, e Lucas de oliveira. E com estes dois afectos que estes ramos significam, devemos nós seguir e acompanhar o Senhor em todos os seus passos, oferecendo esses humildes obséquios a seus sacratíssimos pés. A palma é símbolo da paciência, como a oliveira da misericórdia e compaixão. E tais eram os dois mistérios que encerrava o aparato e diferença daqueles ramos: padecer e compadecer. Acompanhámo-lo: não só hoje mas todos estes dias padecermos alguma coisa com ele, e nos compadecermos dele. (Sermão de dia de Ramos, Maranhão 1656)

Entrou Cristo triunfando em Jerusalém e os que acompanhavam e seguiam o triunfo com aclamações e aplausos, cortavam ramos das árvores, diz o evangelista, e estes ramos como declara o uso e tradição da Igreja, e refere o antiquíssimo Clemente Alexandrino, eram de oliveira e palma. Não pare o triunfo mas reparemos nós a união destes ramos. Os ramos da palma muito bem diziam com o triunfo, porque cada folha dos ramos das palmas é uma espada, porém a oliveira, que antes significava paz que guerra, misericórdia e piedade e não violência nem rigor, porque se ajunta neste triunfo com a palma? Por isso mesmo. Porque a palma significa a vitória, a oliveira significa a misericórdia, e nos triunfos dos cristãos, como no de Cristo, os ramos da palma andam tão unidos e como enxertados nos da oliveira, que da oliveira dependem as palmas, e da misericórdia as vitórias.
Diz o evangelista que os meninos de Jerusalém lançavam os ramos no caminho por onde o Senhor Triunfante havia de passar. E vós da mesma maneira os ramos da oliveira que são as obras de misericórdia aplicai-as aos pés de Cristo, que são no seu corpo místico os pobres e miseráveis. (Sermão da visitação de nossa senhora, Baia, 1638)

sábado, 19 de março de 2016

Rogai por nós





















Todos os homens tiveram a graça de ser adotados por Deus.
Só São José teve o privilégio de adotar a Deus.

Ó Glorioso São José, rogai por nós!

terça-feira, 15 de março de 2016

Distrações de um pregador




















Fé e misericórdia.

Estive há dias a pregar uma missão quaresmal em New Bedford, Massachusetts, e tive oportunidade de constatar quão diferente de cá é a devoção que lá se vive.
Cheguei à conclusão que a fé nos Estados Unidos é maior do que em Portugal.
Lá tem 5 letras e cá apenas duas: FAITH = FÉ
Por sua vez entre nós a Misericórdia é mais extensa do que entre eles.
MISERICÓRDIA tem 12 letras enquanto MERCY apenas 5.
Mas quer a fé quer a misericórdia não podem ser medidas nem declaradas pequenas ou grandes. Ou existem ou não existem, ou temos ou não temos!

segunda-feira, 14 de março de 2016

sábado, 12 de março de 2016

O santo e a pecadora

Ano C - V domingo da quaresma

A) Quatro Olhares
Olhar para trás: 1ª leitura, para ver os resultados que vão aparecendo da nossa caminha, porque Deus faz-nos criaturas novas através da conversão.
Olhar para a frente: 2ª leitura, para ver o que ainda nos falta e para continuar a correr como nos lembra S. Paulo.
Olhar para os lados e para o nosso interior: Evangelho, para sermos misericordiosos para com os outros e reconhecendo os nossos pecados, recebendo assim a graça de Deus.

B) Jesus e a adúltera
Conta o muçulmano Abu Uthman al-Jahiz (+ 868) que um dia Jesus foi visto a sair da casa de uma prostituta.
Alguém lhe disse:
- Espírito de Deus, o que fazes na casa dessa mulher?
- São os doentes que o médico visita – respondeu ele.

C) Cristo tentado pelos homens
“Cristo foi tentado pelos homens no episódio da mulher adúltera.
Houve adultério. Apanharam uma mulher culpada. E o cúmplice? Foram dois os pecadores, e só um culpado?
Antes de tratar com os homens, Cristo conviveu com os animais e foi tentado pelo demónio.
As feras não quiseram fazer mal, nem lhe fizeram.
O demónio quis-lhe fazer mal, mas não lhe fez.
Os homens quiseram-lhe fazer mal e fizeram-lhe!
O demónio defendemo-nos com a cruz; os homens põem-vos nela.
Os homens são piores inimigos que os demónios.
A minha dúvida é se não piores tentadores. Sim, os homens são piores.
As tentações do demónio vencem-se com um sim ou um não. As dos homens são como os laços escondidos debaixo de pedras.
A intenção dos homens não era castigar a acusada, senão acusar a Cristo.
Ou Cristo havia de dizer que fosse apedrejada a adúltera ou não. Se dizia que a apedrejassem convenciam-no de injusto; se dizia que a apedrejassem parecia que não era misericordioso.
Ou faltava à justiça ou à misericórdia, concluiriam que não era ele o Messias… que vinha para salvar.
Da primeira tentação do diabo, Cristo livrou-se com facilmente com um não.
Da segunda também se livrou com outro não.
Agora se dizia não, ia contra a justiça.
Se dizia sim, ia contra a piedade.
Se se mostra rigoroso, falta à piedade.
Se se mostra piedoso, falta à justiça.
Se falta à justiça ou à piedade não é Messias.
Cristo para se defender nas três tentações do demónio bastou-lhe um só livro das Escrituras. Para se defender das tentações dos homens não lhe bastavam todas as escrituras… foi-lhe necessário fazer novas escrituras.
São Gregório diz: As Escrituras são os armazéns de Deus.
Jesus escreveu o que podia ter dito em voz alta, porque as palavras divinas têm mais eficácia para vencer as tentações escritas que ditas.
… Está escrito!
Guardai-vos dos homens.
O diabo anda pelos desertos porque nas cortes os homens tomaram o ofício.
Guardai-vos dos inimigos.
Guardai-vos dos amigos.
Guardai-vos cada um de si mesmo.
Os três amigos de Job: Foram visitar e consolar. Todos eles príncipes, todos sábios, amigos. A princípio estiveram mudos por sete dias. Depois falaram e falaram muito. E fizeram-lhe perder a constância e a paciência. O demónio era demónio e inimigo. Os homens eram amigos, mas homens. As tentações do demónio foram para ele coroa, as consolações dos amigos foram não só tentação mas ruína.
O maior tentador de todos é cada um de si mesmo: o vosso apetite, a vossa vaidade, a vossa ambição…
Cristo livrou-se hoje dos homens que o tentaram mas eles não se livraram de si.
Cristo é o único de quem não nos devemos guardar.
A pecadora ficou ao pé de Jesus, sozinha, em vez de fugir porque ele não tinha pecado algum, e era maior a segurança da pecadora.
A tentação o fazia compassivo e a isenção do pecado misericordioso.
Quem tem pecado não atire pedras, quem não tem pecado não atira.
Os homens que tinham pecado tentavam, acusavam, perseguiam.
O homem que não tinha pecado escusou, defendeu, compadeceu-se, perdoou, livrou, absolveu e pecadora.”
(Cf. António Vieira, Sermão do Sábado 4º da Quaresma, Lx 1652)

terça-feira, 8 de março de 2016

Paisagens do Céu (24)






















No céu de Boston…
No meio de tantos arranha-céus há espaço para a natureza.
Ao olhar para o alto, reparei que, de facto, o céu estava todo arranhado.