segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Natal (9)

Sagrada Família

A porta que dá para a Basílica da Natividade, em Belém, é pequena e tão baixa que só se pode entrar curvando-se à altura de uma criança. O guia explica que foi construída assim para evitar a entrada de intrusos, de animais que na altura abundavam por ali.
Esta porta é uma lembrança e um convite:
Lembra que o Natal é o abaixar-se do Altíssimo que visitou o seu povo, fazendo-se tão pequeno, à medida da nossa estatura.
É também um convite a pôr-se numa posição de pequeno: Se não vos tornardes como crianças não entrareis no Reino dos Céus. Todo aquele que por esta porta entra, humilha-se e ajoelha-se.
Esta atitude de oração é o efeito da contemplação da Sagrada Família. Toda está em oração. A Virgem Maria, segundo a tradição, está de joelhos. São José igualmente recolhido e o Menino, de braços abertos, oferece a Deus Pai a oração de toda a Família. Os pastores que acorreram, prostram-se aos pés de Jesus e regressando cantavam os louvores do Senhor. Até mesmo os Anjos entraram neste clima de oração, dando glória a Deus.
Ao celebrarmos a Sagrada Família somos envolvidos neste clima de oração.
Se o presépio não nos leva à oração, se não nos une a Deus e aos irmãos, para que é que Jesus nascer!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Natal (8)

Natal no Quartel


Cumpri o meu serviço militar como capelão numa unidade de instrução, mais concretamente numa Base Aérea. A celebração do Natal, neste ambiente, teve para mim um significado mais genuíno em vários aspectos.
O que mais me surpreendeu foi o Presépio e a representação natalícia fora do habitual. Em vez da gruta havia uma tenda de campanha. O berço era um pneumático. Maria e José estavam vestidos, não como há 2008 anos, mas de camuflado. Os anjos tocavam clarim anunciando o nascimento do Menino como nova alvorada. Os pastores não traziam ovelhas pelos campos mas sim um pelotão pela parada. Ninguém se ajoelhava mas, junto à tenda, apresentavam armas ou faziam continência. Os reis magos substituíram os seus camelos por carros de combate e em vez de coroa na cabeça traziam um capacete militar. E tantos outros elementos da vida militar... Terá sido isto um atentado ao espírito do Natal?
Para mim foi uma boa oportunidade para descobrir algo mais do Natal. Não foi apenas o quartel a adaptar-se ao Natal mas este a traduzir-se em linguagem militar. Deus serve-se sempre da nossa realidade para Se manifestar. É nosso tempo, no nosso mundo, na nossa experiência concreta que deve haver Natal. Senti isso de modo especial na tropa.
No quartel vivi o Natal fora da minha terra, fora da minha família tal como o que aconteceu com Maria, José e o Menino.
O primeiro Natal ocorreu em tempo de guerra, num país ocupado por forças estrangeiras. A minha experiência na vida militar, em tempo de paz, fez-me recordar tudo isso.
Não foi mais do que a concretização da frase: “Deus plantou a sua tenda entre nós”. E realizou-se a profecia de Isaías: “Das espadas farão relhas de arado e das lanças forjarão foices”. É que as armas, aos pés de Jesus, ganharam outro sentido.
Estou grato à vida militar por me ter proporcionado um Natal tão sugestivo.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Natal (7)

A Melhor Prenda

Neste domingo acordei com vontade de comprar um presente para o Menino Jesus, afinal, no dia 25 de Dezembro o aniversário é dele. Sentia-me cansado de escolher prendas para tanta gente excepto para a personagem principal de mais um Natal. Também não achava bem continuar a receber tantos presentes dos meus amigos quando Ele ficava preterido para segundo plano.
Saí cedo de casa e fui ao maior shopping da cidade sem pensar ao certo que oferta poderia escolher no meio das sugestões que por lá abundam.
Nas lojas de roupa veio-me à ideia comprar uma nova túnica, talvez bordado Madeira, para o meu Menino. Quando vi que o branco mais branco do linho ainda era cinza perto da sua pureza, fiquei com vergonha e passei adiante.
Numa vitrine vi umas sandálias de couro, mas lembrei-me que também eu não sou digno de desatar as sandálias dos seus pés como referiu João Baptista.
Tinha de escolher algo mais moderno. Talvez uma linda caneta de marca famosa, com o nome de Jesus gravado em ouro. Veio-me então à memória tudo o que Ele falou e mostrou com o exemplo e não o que escreveu.
Já meio desanimado continuei a espreitar entre as lojas à procura de algo para oferecer a Jesus, no seu aniversário. Tudo me parecia supérfluo e não apropriado para partilhar com Alguém com tanta dignidade. Afastei ainda outras duas ideias: Uma coroa de pérola que não servia pois o seu reino não é deste mundo e uma almofada de brocados de ouro pois Ele queixara-se um dia de não ter onde reclinar a cabeça. Ri-me de mim mesmo pois tudo o que via era matéria que o tempo iria corroer e ele era o senhor do tempo.
Confesso que saí frustrado do Shopping sem comprar o presente que Jesus merecia.
Junto ao carro cruzei-me com um rapaz, talvez um arrumador, que me cumprimentou sorrindo e estendeu-me a sua mão. Não sei se foi para me dar um aperto de mão ou para pedir esmola. Só sei que fiquei assustado e, tirando a mão do bolso, entreguei-lhe a nota que não gastei na compra do presente sonhado para o Menino Jesus. Ao chegar a casa achei-me ridículo, verdadeiramente de mãos vazias, com um presente adiado e sem o dinheiro reservado para o comprar. Ao abrir a porta encontrei uma carta no chão com uma mensagem que dizia assim:
”Obrigado pelo melhor presente de aniversário que me podias dar: Fizeste feliz um dos pequeninos deste mundo!” assinado, Jesus.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Natal (6)

O SONHO DE MARIA

“Esta noite sonhei, José, que toda a gente estava a preparar uma grande Festa. Limpavam tudo, decoravam as casas e compravam roupa nova. Saíam às compras e adquiriam muitos presentes. Não pude compreender bem o que se passava mas creio que se tratava de um aniversário natalício. Creio até que se tratava do nascimento no nosso Filho.
O que mais me surpreendeu, José, é que esses presentes não eram para Ele. Envolviam-nos em lindos papéis que atavam com preciosas fitas e colocavam-nos debaixo de uma árvore. Sim, José, devias ver essa árvore brilhante! Toda a gente estava feliz e emocionada com as ofertas. Trocavam prendas uns com os outros mas... não ficou nada para o nosso Filho.
Pareceu-me que nem O conhecem pois nunca mencionavam o Seu nome. Não te parece estranho que as pessoas se cansem tanto para celebrar o aniversário de Alguém desconhecido? Se Jesus batesse à porta seria apenas um intruso.
Tudo estava tão lindo, José, e todo o mundo feliz, mas eu senti vontade de chorar.
Que tristeza para Jesus não ser desejado na sua própria festa de anos.
Estou contente porque foi apenas um sonho, mas que terrível seria se tudo isto fosse a realidade!”

Boas Festas e não se esqueçam de colocar Jesus no centro do Natal!

Natal (5)

Deus fez-se homem

O Verbo divino se fez carne e habitou entre nós. É este o ponto central do mistério do Natal. Um Deus que se fez homem como nós, excepto no pecado, para elevar a nossa condição humana.
Os meus colegas, professores de biologia, mostraram-me a lista dos elementos que constituem o corpo humano. Depois de saber as proporções e as medidas destes componentes, cheguei à conclusão da pequenez do nosso corpo humano.
Com a água de um corpo humano lavava-se uma toalha.
Com o ferro tirado dos glóbulos vermelhos do sangue podiam fabricar-se sete cravos para uma ferradura.
Com o gesso poderia caiar-se a parede de um quarto individual.
Transformando em grafite ou carvão, proporcionaria matéria para preparar noventa e cinco lápis.
Com o fósforo poderia fazer-se uma caixa de fósforos.
Com o sal obteríamos algumas colherinhas para condimentar uma salada familiar.
Se tivéssemos de comprar tudo isto em conjunto, diria uma empregada doméstica, gastaríamos apenas um euro e pouco.
De facto a nossa condição humana é reduzida, mas Deus, ao assumir um corpo como o nosso, veio dotar-lhe de grandeza e majestade.
Aos olhos humanos valemos pouco mas aos olhos de Deus somos tão importantes que ele quis ser como nós. Deus nasceu como nós para que pudéssemos viver como Ele.
O Natal mostra-nos um Deus que se preocupa com o homem, que desce ao lado do homem, que se avizinha do homem, que se faz homem. Um Deus que se põe na estrada do homem para fazer caminhada juntos, para compartilhar com ele aflições, misérias, lágrimas, angústias e esperanças.
Deus ao nascer menino supera todos os horizontes terrenos. O homem é elevado à condição divina. Deus é um da nossa família humana e nós pertencemos à sua raça. Este mistério manifesta a grandeza do homem e a valorização plena do nosso corpo. Apesar disso nós consideramos Deus como um intruso na nossa vida. Achamos que ele é um desmancha-prazeres, como um inimigo do nosso corpo. Achamos que Ele veio para nos despojar do nosso corpo.
Materialmente nós valemos um pouco mais de um euro. Jesus Cristo veio repor-nos a grandeza ao assumir um corpo como o nosso.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Natal (4)

O MELHOR PRESENTE


Neste Natal, como o momento é de austeridade, tive de cortar no orçamento, poupar no luxo, reduzir as expressões, juntar as visitas. À medida que limitava os gastos, os compromissos e as atenções, vi-me concentrado no essencial do Natal. Para quê tanto folclore se o Natal é tão simples? Natal é apenas isto, e é tão grande: “é o Filho de Deus que Se fez homem para fazer dos homens filhos de Deus.”
Tenho de agradecer à crise económica a oportunidade que me deu de me centrar na especificidade do Natal.
Nesta quadra natalícia, não quero nem posso dar e receber ofertas vazias de sentido, fazer celebrações banais, receber inutilidades – troca de prendas, postais, mensagens de telemóvel, brindes… Nada disto.
Quero apenas estar com os meus amigos e que Cristo seja um deles.
Para todos eles, partilho um episódio que me contaram e que me estimula a viver de maneira diferente o meu Natal:

“Uma senhora ia todos os Domingos à Missa. À porta da igreja, um homem pedia esmola. A senhora passava, o pedinte estendia a mão e uma moeda sempre lá ficava. Fosse Verão ou Inverno, Natal ou Páscoa, a esmola era entregue como ritual de entrada no lugar sagrado.
Um dia, porém, sem saber como, a senhora à porta da igreja reparou que se tinha esquecido da carteira em casa. E agora? O seu pobre lá estava de mão estendida e ela, pela primeira vez, não podia exercer a sua caridade. Toda envergonhada disse:
- Peço-te desculpa. Hoje não te posso dar nada. Esqueci-me do dinheiro em casa!
O mendigo sorriu feliz e respondeu com toda a sinceridade:
- Muito obrigado! Hoje a senhora deu-me muito mais do que todos os outros dias. Hoje dignou-se falar comigo pela primeira vez. Obrigado!”

O Verbo encarnou e habitou entre nós. É este Menino Deus que veio falar connosco que quero celebrar neste Natal.
Dispensarei as ofertas, a dar ou a receber, para estar mais disponível para falar com Ele e estar os outros.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Natal (3)


LAPINHA OU ESCADINHA MADEIRENSE

1. A escadinha
É formado por três ou mais degraus, de aspecto piramidal, tendo no topo o menino Jesus de pé para quem tudo converge.
O Deus Menino desce pelos caminhos dos homens para os elevar até aos Céus. A nossa vida é assim uma escalada que representa esforço e ascese.
É o altar do presépio no qual Deus se nos oferece.
Por fim é a analogia com o Monte Calvário – O Cristo que nasce veio salvar-nos pela sua Cruz e Ressurreição.

2. Searinhas
Criam um ambiente natural, como campo fértil. Cristo como novo Adão passeia por esta terra, novo Éden. É sinal de esperança e de reconciliação.
Representa também o trabalho do homem e a harmonia da natureza.
Por fim é a referência ao mistério da Eucaristia. Desse trigo das searas a crescer, Cristo se servirá, na Última Ceia, como sacramento do seu corpo.

3. A fruta
Espalhada pela escadinha encontra-se a melhor fruta. São oferecidos a Deus os melhores frutos da terra. Dão cor e sabor à nossa vida.
Aos pés do Menino Deus é reposto o fruto que outrora foi roubado da Árvore da Vida pelos nossos primeiros pais.

4. Arco florido
É uma espécie de baldaquino ou cúpula natural de alegra-campo e flores.
Representa a abóbada celeste expressando a antífona: abram-se os céus, germine a terra e chova o Salvador.
O colorido das flores do arco e dos ramalhetes sugere o arco-iris da Nova Aliança que o Messias veio instaurar.
Este céu é de esperança e de alegria realçado pelo alegra-campo.

5. Pastores
Na lapinha madeirense figuram não são os pastores de há dois mil anos, mas também gente tradicional da Madeira. É uma expressão anacrónica com bandas de música, matança do porco, procissões, romarias, igrejas, cenas do quotidiano da nossa terra.
Lembra que Cristo veio não só para o mundo de então, mas também ao mundo do nosso tempo, aqui e agora.
É a valorização do presente e a actualização da redenção.
Os homens precisam de Deus e este precisa dos homens de hoje e de sempre.

6. A lamparina
Permanece acesa durante toda a quadra natalícia.
É o sinal da presença de Alguém. Cristo é a verdadeira luz que veio a este mundo. Na sua presença ninguém vive nas trevas.

7. O Menino de pé
É um vencedor no pódio para onde tudo converge.
Não está a dormir, mas quer caminhar connosco.
Aponta para o alto donde veio e para onde nos quer levar.
Assume a nossa condição humana, como ‘homo erectus’.
Lembra também a sua Ressurreição como Cristo glorioso.
Finalmente, está de braço levantado como que a pedir a palavra.
Deixemo-lo então falar…

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

... Deus, esse desconhecido

Ano B - IV Domingo Advento

Certo dia, uma menina de seis anos veio contar-me, toda satisfeita:
- Senhor Padre, eu ontem fui à catequese.
- Muito bem, Marilisa. E com certeza aprendeste muitas coisas. Diz-me, por exemplo, o que é que já sabes.
- Eu aprendi que o Pai do Menino Jesus não é São José...
- Óptimo! És capaz de dizer então quem é o Pai de Jesus?
A Marilisa põe-se a pensar, esforça-se e desiste:
- É um Senhor que já não me lembra o nome...É verdade, Deus é um Senhor que não conhecemos bem.
Tal como nos diz São Paulo neste IV Domingo do Advento, é "um mistério encoberto desde os tempos eternos mas agora manifestado e dado a conhecer a todos os povos".
Somos limitados para compreender o mistério de Deus mas Ele conhece-nos bem, tal como conhecia a Virgem Maria e os desejos do rei David.
O Natal vem ensinar-nos algo sobre Deus: Ele é Pai. É ao mesmo tempo um Irmão, que nasceu com um rosto humano para nos lembrar que O podemos encontrar no nosso semelhante.
Obrigado, Marilisa, por me teres lembrado que se sabemos pouco de Deus, Ele Se nos revela como Alguém próximo, a caminhar connosco. Ele entrou na nossa história para nos ajudar a conhecer melhor, a Ele e a nós mesmos.

O Caminho do amor

Ano B - II Domingo Advento

Um pai contou-me, emocionado, uma lição que recebera da sua filha mais nova.
Durante a missa do passado fim-de-semana, o Padre falou da preparação que era preciso fazer para o Natal. A miúda, desde a Igreja até casa, não parou de pedir coisas ao Pai, que comprasse isto, aquilo e mais outra coisa e tal. Por fim o pai perdeu a paciência (e só se perde aquilo que se tem):
- Compra-me isto! Compra-me aquilo! - explodiu - E tu? Já pensaste o que é que vais dar aos teus pais? Só falas em ti. E nós? O que tens para nos dar?
A resposta da filha deixou-o sem palavras:
- Só tenho amor. Disse simplesmente.
O amor é o lugar de encontro onde se cruzam os caminhos de Deus e o dos homens. Preparar os caminhos do Senhor é afinal apurar o coração, afinar o amor, partilhar aquilo que afinal todos têm. O amor deve ser a única coisa que quanto mais se dá mais se terá. Deus amou de tal maneira o mundo que lhe enviou o Seu Filho. Foi o amor que nos trouxe o Salvador. Só o mesmo Amor que nos levará até Ele. É preciso amar a Deus servindo os irmãos e ao mesmo tempo amar os irmãos servindo a Deus.

Natal (2)

NATAL É DOM

Aproxima-se o tempo de Natal. A azáfama é grande nas ruas, lojas, casas e por toda a parte. Preparam-se iguarias, enfeites, presépios e ... muitos presentes. Todos se preocupam para que não falte uma prenda a ninguém nesta quadra natalícia.
Numa loja de brinquedos, entre tantas compras e vendas, um jovem casal mostra-se enervado por entre os brinquedos de várias cores alinhados nas estantes, pendentes do tecto ou em desordem sobre o balcão. Pegam em bonecas que choram e riem, jogos electrónicos, cozinhas em miniatura. Não conseguem escolher um brinquedo ou porque a oferta é diversificada demais ou porque o grau de exigência não corresponde ao exposto.
Aproxima-se então uma funcionária muito simpática com a habitual pergunta:
- Posso ajudá-los em alguma coisa?
- Olhe - explica a mulher - nós temos uma menina muito pequena, mas estamos quase todo o dia fora de casa e, por vezes, até de noite.
- É uma menina de poucos sorrisos pois não se contenta facilmente - explica o marido.
- Nós queremos comprar um brinquedo que a torne feliz – acrescentou a mulher – Não nos interessa o preço ... desde que seja algo com que a nossa filhinha se entretenha, que lhe dê alegria mesmo quando esteja só...
A funcionária olha-os com uma expressão desolada, mas com gentileza avisa:
- Lamento muito não poder ajudar, mas aqui não vendemos pais.
Muitas vezes nós refugiamo-nos por detrás de prendas, procuramos compensar défices de atenção ou de carinho através de presentes ou gestos vazios de significado.
No meio de tanta partilha, saibamos colocar ao dispor dos outros aquilo de que eles mais precisam. Mais do que dispor de coisas, saibamos dispor-nos a nós mesmos e o resto virá por acréscimo. E quanto mais nos dermos em atenção, tempo e companhia, menos necessidade teremos de nos fazer representar por brinquedos ou outros objectos e menos falta irão fazer.
Jesus Cristo veio até nós não para nos trazer coisas, iguarias ou entretenimentos, mas para estar connosco. A seu exemplo que a nossa melhor prenda, neste Natal, seja DISPONIBILIDADE.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Natal (1)


O sonho do jovem cavaleiro

Como prenda de Natal ofereço a reprodução de uma pintura com o comentário do Pe. Dehon (A Crónica do Sudeste, nº 3, Março 1903):
A National Gallery de Londres tem um pequeno quadro de Rafael, do qual todos os jovens deveriam ter uma reprodução.
Aos 16 anos Rafael traçou um projecto de vida, mas como era pintor, tudo fazia pintando. Rezava, meditava, sempre com o pincel na mão, isto é, as suas orações ou reflexões eram pinturas e as suas pinturas eram orações e reflexões.
Escreveu com o seu pincel a reflexão que qualquer jovem faz e que hoje a National Gallery nos mostra: O sonho do jovem cavaleiro.
Um loureiro esguio divide a cena em duas partes. A paisagem é variada, límpida e profunda. Debaixo da árvore, um jovem e belo cavaleiro, armado dos pés à cabeça, bem recostado e com a cabeça apoiada sobre o seu escudo, entrega-se ao sono.
Uma jovem mulher está de pé à sua direita e uma outra à sua esquerda, uma simboliza a virtude e a outra a voluptuosidade. Esta é muito sedutora: tem um rico e gracioso vestido, oferece flores, os seus traços exprimem uma doce despreocupação. Do seu lado a paisagem está em harmonia com este aspecto: um vale fértil e florido, com aliciantes zonas de água e frescas sombras. É o caminho da vida fácil e agradável.
À direita do cavaleiro, a Virtude tem um vestido simples e austero. Apresenta uma espada e um livro, símbolos da luta, do trabalho e da oração. A paisagem deste lado é mais austera, um caminho tortuoso numa montanha escarpada, coroada por um castelo e uma igreja.
Rafael representou assim o cavaleiro que queria ser. Vemo-lo escolher o caminho da virtude e do trabalho, recusar as flores inebriantes da voluptuosidade e agarrar o livro e a espada, símbolos do estudo e da luta.
Jovens cavaleiros, tal deve ser o vosso sonho. Tal deve ser o vosso projecto de vida. O livro e a espada devem caracterizar a vossa vida. O livro é a oração, a leitura, o estudo pessoal. A espada é a luta, a conquista, a acção social.
O livro e a espada, tais são, caros jovens, as armas do vosso brasão.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Criancices (32)

De manhã ao entrar na Sala de Professores, alguém reparou que eu tinha ainda os olhos ensonados. Desculpei-me:
- Levantei-me cedo por causa da missa do parto…
Uma professora, que morava junto à Igreja do Monte, lamentou-se:
- Por causa dessa missa acordei hoje com um corno…
- Ai sim?! Com quem dormiu, Senhora Professora
É que na Madeira, acorda-se o pessoal para a missa do parto com o som de cornos, búzios, campainhas etc…

Vida de Capelão (32)

- Um padre a fumar? Você não devia ter nenhum vício.
- E não tenho! Estou apenas a queimar incenso.
- Ó Capelão, você sabe que isso faz mal à saúde.
- Sim, sim. Morrer por morrer morro satisfeito.

Passados alguns anos, considero-me hoje um FUMADOR NÃO PRATICANTE.

Dizem? Esquecem!

6ª Feira - II Semana Advento

No Evangelho de hoje: "João não comia nem bebia e diziam que era do maligno... Eu como e bebo e dizem que sou glutão..."
O povo tem sempre algo a dizer... Deixai-o.
Presos por ter cão e presos por não ter... Continuemos fieis a nós mesmos.
Não somos mais quando nos lisonjeiam nem somos menos quando nos vituperam...

O poeta Fernando Pessoa escreveu:

Dizem?
Esquecem!
Não dizem?
Dissessem!

Fazem?
Fatal!
Não Fazem?
Igual!

...

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Vinde a Mim

4ª Feira - II Semana Advento

A Palavra de ordem deste tempo é MARANATHÁ, VEM SENHOR JESUS.
Jesus no trecho do Evangelho de hoje vem lembrar-nos que o movimento deve ser mútuo: VINDE A MIM...
Jesus virá até nós se nós formos até Ele.
Vem Senhor Jesus, dizemos nós.
Vinde a mim, diz-nos o Senhor.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Pregar no Deserto

Ano B - III Domingo Advento

- Senhor Padre, porque é que João Baptista pregava no deserto?
- Porque era lá que ele vivia - respondi - Para além disso o deserto sempre foi um lugar de encontro consigo mesmo e com Deus. Mas porque é que me perguntas isso?
- É que eu pensava que ele pregava no deserto porque ninguém o ouvia...
De facto, parece que João pregou para o deserto pois, passados 2000 anos, a mesma voz se faz ouvir sem surtir ainda o efeito desejado. E mesmo acordado sonhei.
No meu sonho apresentei-me diante de João Baptista para lhe dizer:
- Repara que ninguém te ouve. Tu não consegues mudar as pessoas. Todos os anos a mesma pregação... Muda o teu discurso...
- Não. Se eu não sou capaz de mudar as pessoas, não serão elas a mudar-me. Endireitai o caminho do Senhor - gritou ainda mais forte.
Ao acordar ainda me soavam essas mesmas palavras. Que fazer para endireitar esse caminho para que esta pregação não ficasse por terra? Lembrai-me então das sandálias de que João falava. Pois é. Em vez de retirar todas as pedras do longo caminho o melhor é calçar uns fortes sapatos para não sentir a aspereza do chão. Pareceu-me então ouvir a mesma voz a dizer: mãos à obra, ou melhor, pés a andar.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Sobre a Rocha

5ª Feira - I Semana Advento

Casa construída sobre a areia ou sobre a rocha:

1.Todos somos trabalhadores de construção civil – todos estamos a construir uma casa. Ou construímos sobre a Areia ou sobre a Rocha:
O trabalho é diferente num ou noutro caso:
Cauteloso – R
Imprudente – R
Fácil – A
Inseguro – A
Sensato – R
Precipitado – A
Difícil – R
Seguro –R
Se construímos sobre a Areia o nosso trabalho será mais fácil, mas imprudente, inseguro e precipitado. Por outro lado se construirmos sobre a Rocha o nosso trabalho será mais difícil, mas mais sensato, seguro e cauteloso e sobretudo com mais futuro.
2. Uma situação comum ou constante: Tanto uma casa como outra têm de enfrentar as mesmas tempestades. Pelo facto de ser uma boa construção, não está isenta de enfrentar ventanias e torrentes… O problema não são as tempestades mas a capacidade de resistir com segurança.
3. Nós recebemos Jesus Cristo na nossa morada através da eucaristia, da palavra de Deus e do bem que fazemos. Que tipo de habitação lhe oferecemos a Deus: uma casa segura ou uma morada sobre a areia?