Memória de Santo Agostinho
Bispo e Doutor da Igreja
Santo Agostinho (Aurelius Augustinus) nasceu em 354 em Tagaste, no norte de África (Argélia). A mãe, católica fervorosa, transmitiu ao filho a sua fé ardente. Mestiço africano (tuaregue) mas romano pela cultura, foi escritor, filósofo, teólogo e bispo. Converteu-se ao Catolicismo sob influência de Santo Ambrósio, Bispo de Milão. Foi ordenado sacerdote em Hipona, no norte de África, e eleito bispo coadjutor de Hipona e pouco depois bispo titular. Escreveu tratados filosóficos, teológicos, comentários de livros da Bíblia, sermões e cartas. Morreu a 28 de agosto de 430, em Hipona.
O grande pregador Pe. António Vieira chamava-lhe o maior Santo entre os Doutores e o maior Doutor entre os Santos.
1º - O retrato mais antigo
Esta é a pintura ou fresco mais
antigo conhecido de Agostinho de Hipona. Foi pintado no século VI por artista
desconhecido e encontra-se no Palácio de Latrão.
Podemos confirmar os seus traços africanos, a sua paixão pela Palavra e pela escrita (livros e pregações) estilo coloquial, mestre de oratória e perfil filosófico.
2º - O retrato mais conhecido
Existem muitos retratos de Santo
Agostinho na arte, com o estilo variando de acordo com a época e o artista.
As representações de Santo Agostinho
frequentemente o mostram com a mitra e os atavios episcopais, como báculo e
anel, características da iconografia posterior à sua vida, em contraste com seu
hábito de monge cinza usado no dia a dia.
O retrato mais conhecido de Santo
Agostinho, é a pintura de Philippe de Champaigne, criada entre 1645 e 1650.
A obra retrata Santo Agostinho
sentado em uma cadeira ricamente decorada, vestindo ornamentadas vestes. Ele
segura uma pena na mão e olha para cima em direção à Verdade divina. Um coração
em chamas ascende do seu peito…
O cenário é um estúdio, com estantes
repletas de volumes ao fundo, sugerindo um ambiente académico. Um púlpito com
um livro aberto é visível à esquerda, e uma mesa com mais livros e um tecido
ricamente estampado está à direita. A luz concentra-se na figura do Santo,
criando um efeito dramático. O estilo geral é Barroco, caracterizado por cores
ricas, iluminação dramática e representação detalhada das texturas. A pintura
mede 0,622 metros de largura e 0,787 metros de altura e faz parte da coleção do
Museu de Arte do Condado de Los Angeles.
Os sinais identificativos ou iconográficos
de Santo Agostinho são – alfaias episcopais, livros, pena e um coração na mão.
Este último símbolo refere-se à sua frase emblemática - “Fizeste-nos para ti,
Senhor, e o nosso coração estará inquieto, enquanto não descansar em ti.”
(Confissões, livro I, cap. 1).
Para Santo Agostinho o amor é uma chama inquieta. Não pode ficar parado.
3º - O retrato mais fiel
O melhor retrato para conhecer Santo
Agostinho não saiu dos pincéis de nenhum artista, desenhado por outrem a não
ser da sua própria pena e reflexão. Falamos do seu livro autobiográfico
Confissões, o retrato mais fiel do Bispo de Hipona, feito por ele próprio. De facto, como lembrava o Pe. António Vieira - Os corpos retratam-se com o pincel, as almas com a pena...
No décimo livro das Confissões ele
expõe precisamente as razões que o levaram a escrever a obra: não se trata
apenas de reconhecer e admitir os próprios pecados, mas de descobrir, através
da confissão dos mesmos, que só em Deus há verdadeira alegria e que só
reconciliando-se com Deus através de Cristo o homem pode encontrar o seu
caminho.
Ele o escreveu entre os anos 397 e
400, quando já era bispo, como uma obra autobiográfica e espiritual. Claro que
como autobiografia está incompleta, porque depois de o ter escrito ainda viveu
mais 30 anos e escreveu outras obras, graças a Deus.
O livro é considerado uma das
primeiras autobiografias do Ocidente, mas vai além do simples relato da vida:
Agostinho mistura a sua história pessoal com reflexões filosóficas, teológicas
e orações a Deus. Fala sobre a sua infância, juventude marcada pelo pecado, a sua
busca pela verdade e a conversão ao cristianismo, mostrando como a graça de
Deus atuou na sua vida.
Para conhecer com fidelidade a figura
de Santo Agostinho, não há maneira mais apropriada do que ler esta sua autobiografia. De facto, As Confissões de Santo Agostinho são
o retrato extraordinário desta alma tão grande, cuja sombra cobriu não só a
Idade Média, como toda a história da humanidade.
Nota explicativa – Santo Agostinho não se refere a uma confissão sacramental como muitas que
podemos pensar no senso comum. A confissão proposta por Agostinho é reflexiva,
ou seja, é realizada pelo próprio indivíduo a si mesmo. Uma vez reconhecida a
sua história pessoal e buscando a ajuda necessária para crescer, o homem pode
entender a ação de Deus em todos os momentos da sua vida. E, por isso, a
mudança acontece. A confissão sacramental, como estamos acostumados, é um sinal
da presença de Deus. E é um alimento salutar no exercício da vida cristã
católica.
À margem 1:
Peregrinos na Esperança – Ano jubilar
2025
Santo Agostinho (354-430) explica que
a esperança é como um ovo.
O ovo embora já seja uma realidade
(algo que existe empiricamente), ele não é um fim em si mesmo: transporta
dentro de si algo mais, que ainda não se vê, mas que se intui que exista (o
pintainho), porque existe o ovo. Portanto, quando vemos um ovo, não vemos
apenas o ovo em si, mas algo mais: a esperança que o ovo transporta dentro de
si (o pintainho).
Deixando para os mais hábeis a
pergunta de quem nasceu primeiro, se a galinha ou o ovo, esta metáfora
agostiniana elucida-nos sobre a importância da esperança: a capacidade de ver
algo mais na realidade do que aquilo que a realidade nos permite ver “à primeira
vista”.
A esperança não é tanto o ver coisas
novas, mas ver as coisas de um modo novo. Porque a nossa vida não se reduz a
este mundo, somos «peregrinos da esperança» em direção à eternidade.
Por esta razão, na relação com Deus
não nos basta apenas alimentarmo-nos da fé e da caridade, precisamos também de
ovos, ou seja, da esperança.
Sem esperança, a fé corre o risco de
se reduzir a uma filosofia transitória e a caridade, a uma mera filantropia.
Em rigor, é a esperança que distingue
um cristão de todos os outros (1Ts 4,13).
À margem 2
Santo Agostinho ao comentar a 1ª
carta de São João, pergunta:
Que rosto tem o amor?
Que forma, que estatura, que pés, que
mãos?
O amor tem pés que o levam à Igreja,
tem mãos que fazem o bem aos pobres,
tem olhos com os quais se descobre
quem está em necessidade.
À margem 3:
Na vida do padre não há panela sem
toucinho
Nem sermão sem Santo Agostinho.
À margem 4
Um Papa agostiniano.
O papa Leão XIV é membro da Ordem de Santo Agostinho desde 1977 e da qual foi o Prior Geral por 12 anos (2001-2013). É a primeira vez que um Papa faz parte desta Congregação.
Numa entrevista recente, o Cardeal Prevost foi
questionado:
- Como é que a figura de Santo Agostinho o ajuda na
sua vida diária?
- Quando penso em Santo Agostinho, na sua visão e
compreensão do que significa pertencer à Igreja, uma das primeiras coisas que
me vem à mente é o que ele diz sobre como não se pode dizer seguidor de Cristo
sem fazer parte da Igreja. Cristo faz parte da Igreja. Ele é a cabeça.
Portanto, aqueles que pensam que podem seguir Cristo "à sua maneira"
sem fazerem parte do corpo, infelizmente, estão a viver uma distorção do que é
realmente uma experiência autêntica. Os ensinamentos de Santo Agostinho tocam
todas as áreas da vida e ajudam-nos a viver em comunhão. A unidade e a comunhão
são carismas essenciais da vida da Ordem e parte fundamental da compreensão do
que é a Igreja e do que significa estar nela.
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