quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Retratos de Santo Agostinho


Memória de Santo Agostinho

Bispo e Doutor da Igreja

 

Santo Agostinho (Aurelius Augustinus) nasceu em 354 em Tagaste, no norte de África (Argélia). A mãe, católica fervorosa, transmitiu ao filho a sua fé ardente. Mestiço africano (tuaregue) mas romano pela cultura, foi escritor, filósofo, teólogo e bispo. Converteu-se ao Catolicismo sob influência de Santo Ambrósio, Bispo de Milão. Foi ordenado sacerdote em Hipona, no norte de África, e eleito bispo coadjutor de Hipona e pouco depois bispo titular. Escreveu tratados filosóficos, teológicos, comentários de livros da Bíblia, sermões e cartas. Morreu a 28 de agosto de 430, em Hipona.

O grande pregador Pe. António Vieira chamava-lhe o maior Santo entre os Doutores e o maior Doutor entre os Santos.

1º - O retrato mais antigo

Esta é a pintura ou fresco mais antigo conhecido de Agostinho de Hipona. Foi pintado no século VI por artista desconhecido e encontra-se no Palácio de Latrão.

Podemos confirmar os seus traços africanos, a sua paixão pela Palavra e pela escrita (livros e pregações) estilo coloquial, mestre de oratória e perfil filosófico.

2º - O retrato mais conhecido

Existem muitos retratos de Santo Agostinho na arte, com o estilo variando de acordo com a época e o artista.

As representações de Santo Agostinho frequentemente o mostram com a mitra e os atavios episcopais, como báculo e anel, características da iconografia posterior à sua vida, em contraste com seu hábito de monge cinza usado no dia a dia.

O retrato mais conhecido de Santo Agostinho, é a pintura de Philippe de Champaigne, criada entre 1645 e 1650.

A obra retrata Santo Agostinho sentado em uma cadeira ricamente decorada, vestindo ornamentadas vestes. Ele segura uma pena na mão e olha para cima em direção à Verdade divina. Um coração em chamas ascende do seu peito…

O cenário é um estúdio, com estantes repletas de volumes ao fundo, sugerindo um ambiente académico. Um púlpito com um livro aberto é visível à esquerda, e uma mesa com mais livros e um tecido ricamente estampado está à direita. A luz concentra-se na figura do Santo, criando um efeito dramático. O estilo geral é Barroco, caracterizado por cores ricas, iluminação dramática e representação detalhada das texturas. A pintura mede 0,622 metros de largura e 0,787 metros de altura e faz parte da coleção do Museu de Arte do Condado de Los Angeles.

Os sinais identificativos ou iconográficos de Santo Agostinho são – alfaias episcopais, livros, pena e um coração na mão. Este último símbolo refere-se à sua frase emblemática - “Fizeste-nos para ti, Senhor, e o nosso coração estará inquieto, enquanto não descansar em ti.” (Confissões, livro I, cap. 1).

Para Santo Agostinho o amor é uma chama inquieta. Não pode ficar parado.

3º - O retrato mais fiel

O melhor retrato para conhecer Santo Agostinho não saiu dos pincéis de nenhum artista, desenhado por outrem a não ser da sua própria pena e reflexão. Falamos do seu livro autobiográfico Confissões, o retrato mais fiel do Bispo de Hipona, feito por ele próprio. De facto, como lembrava o Pe. António Vieira - Os corpos retratam-se com o pincel, as almas com a pena...

No décimo livro das Confissões ele expõe precisamente as razões que o levaram a escrever a obra: não se trata apenas de reconhecer e admitir os próprios pecados, mas de descobrir, através da confissão dos mesmos, que só em Deus há verdadeira alegria e que só reconciliando-se com Deus através de Cristo o homem pode encontrar o seu caminho.

Ele o escreveu entre os anos 397 e 400, quando já era bispo, como uma obra autobiográfica e espiritual. Claro que como autobiografia está incompleta, porque depois de o ter escrito ainda viveu mais 30 anos e escreveu outras obras, graças a Deus.

O livro é considerado uma das primeiras autobiografias do Ocidente, mas vai além do simples relato da vida: Agostinho mistura a sua história pessoal com reflexões filosóficas, teológicas e orações a Deus. Fala sobre a sua infância, juventude marcada pelo pecado, a sua busca pela verdade e a conversão ao cristianismo, mostrando como a graça de Deus atuou na sua vida.

Para conhecer com fidelidade a figura de Santo Agostinho, não há maneira mais apropriada do que ler esta sua autobiografia.  De facto, As Confissões de Santo Agostinho são o retrato extraordinário desta alma tão grande, cuja sombra cobriu não só a Idade Média, como toda a história da humanidade.

Nota explicativa – Santo Agostinho não se refere a uma confissão sacramental como muitas que podemos pensar no senso comum. A confissão proposta por Agostinho é reflexiva, ou seja, é realizada pelo próprio indivíduo a si mesmo. Uma vez reconhecida a sua história pessoal e buscando a ajuda necessária para crescer, o homem pode entender a ação de Deus em todos os momentos da sua vida. E, por isso, a mudança acontece. A confissão sacramental, como estamos acostumados, é um sinal da presença de Deus. E é um alimento salutar no exercício da vida cristã católica.

 

À margem 1:

Peregrinos na Esperança – Ano jubilar 2025

Santo Agostinho (354-430) explica que a esperança é como um ovo.

O ovo embora já seja uma realidade (algo que existe empiricamente), ele não é um fim em si mesmo: transporta dentro de si algo mais, que ainda não se vê, mas que se intui que exista (o pintainho), porque existe o ovo. Portanto, quando vemos um ovo, não vemos apenas o ovo em si, mas algo mais: a esperança que o ovo transporta dentro de si (o pintainho).

Deixando para os mais hábeis a pergunta de quem nasceu primeiro, se a galinha ou o ovo, esta metáfora agostiniana elucida-nos sobre a importância da esperança: a capacidade de ver algo mais na realidade do que aquilo que a realidade nos permite ver “à primeira vista”.

A esperança não é tanto o ver coisas novas, mas ver as coisas de um modo novo. Porque a nossa vida não se reduz a este mundo, somos «peregrinos da esperança» em direção à eternidade.

Por esta razão, na relação com Deus não nos basta apenas alimentarmo-nos da fé e da caridade, precisamos também de ovos, ou seja, da esperança.

Sem esperança, a fé corre o risco de se reduzir a uma filosofia transitória e a caridade, a uma mera filantropia.

Em rigor, é a esperança que distingue um cristão de todos os outros (1Ts 4,13).

 

À margem 2

Santo Agostinho ao comentar a 1ª carta de São João, pergunta:

Que rosto tem o amor?

Que forma, que estatura, que pés, que mãos?

O amor tem pés que o levam à Igreja,

tem mãos que fazem o bem aos pobres,

tem olhos com os quais se descobre quem está em necessidade.

 

À margem 3:

Na vida do padre não há panela sem toucinho

Nem sermão sem Santo Agostinho.

À margem 4

Um Papa agostiniano.

O papa Leão XIV é membro da Ordem de Santo Agostinho desde 1977 e da qual foi o Prior Geral por 12 anos (2001-2013). É a primeira vez que um Papa faz parte desta Congregação.

Numa entrevista recente, o Cardeal Prevost foi questionado:

- Como é que a figura de Santo Agostinho o ajuda na sua vida diária?

- Quando penso em Santo Agostinho, na sua visão e compreensão do que significa pertencer à Igreja, uma das primeiras coisas que me vem à mente é o que ele diz sobre como não se pode dizer seguidor de Cristo sem fazer parte da Igreja. Cristo faz parte da Igreja. Ele é a cabeça. Portanto, aqueles que pensam que podem seguir Cristo "à sua maneira" sem fazerem parte do corpo, infelizmente, estão a viver uma distorção do que é realmente uma experiência autêntica. Os ensinamentos de Santo Agostinho tocam todas as áreas da vida e ajudam-nos a viver em comunhão. A unidade e a comunhão são carismas essenciais da vida da Ordem e parte fundamental da compreensão do que é a Igreja e do que significa estar nela.


Ver também:

A comunidade de Agostinho

Tolle, lege, toma, lê

Coração inquieto

Salmo de Santo Agostinho

Tríplice conversão

Agostinho é o seu nome

Lição do Doutor Agostinho

Tarde vos amei

Agostinho de Hipona

Coração de pedra

Pai nosso nos salmos

Pai nosso agostiniano

 

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