Um conto de Natal
Talitaki,
a ovelha perdida no presépio
Era
uma vez uma ovelhinha a quem todos chamavam Talitaki.
Ela
não parava quieta, estava sempre a afastar-se do rebanho, parecia que andava à procura
de alguma coisa ou de alguém, mas nem ela nem ninguém conseguiu saber o quê nem
quem.
Numa
tarde de inverno, ao recolher o seu rebanho, o pastor Azarias, como sempre,
estava à porta do aprisco e cada ovelha foi-se apresentando – Raquel, Énia,
Belinha, Vitalina, Fofinha, Dolly etc.
Mas
naquele dia faltou uma ovelha, de novo!
Só
estavam ali noventa e nove... faltava uma, o suficiente para amargurar o pastor
Azarias. Faltava a ovelha Talitaki. O seu nome dizia toda a verdade – estava
aqui, estava ali, andava sempre onde não devia andar, como carta fora do
baralho.
Contado
e recontado, foi confirmada a ausência da Talitaki. O pastor Azarias deu um
suspiro de resignação. Teria uma vez mais de deixar o rebanho e procurar a
ovelha faltosa… mas nem uma palavra de desagrado, nenhum gesto de impaciência
se viu ou ouviu. Pelo menos aquela noite estava calma, com o céu muito
estrelado. Era de facto uma noite de paz. Tinha de apressar-se porque os lobos
nessa altura do ano estavam famintos e não podiam encontrá-la primeiro do que
ele.
Fechou
a porta prometendo ao rebanho que voltaria muito em breve…
Quando
se viram sós as ovelhas começaram a dar à língua sobre a tresmalhada, a
fugitiva, a perdida, a ovelha negra, a desobediente:
-
Estás a ver o que aprontou outra vez a nossa amiga Talitaki?
- É
uma aventureira que não mede as consequências das suas ações.
- Bem
feito que ela se perdeu. Não tenho pena nenhuma dessa irresponsável.
- Os
lobos deviam persegui-la desta vez para que sinta na pele o perigo que corre lá
fora e aprenda de vez a lição
-
Nós é que corremos o perigo aqui, sozinhas, sem o nosso pastor por causa
daquela ingrata.
-
Ela não presta, só dá trabalho e canseiras ao pastor.
- O
pastor devia deixá-la por lá. Se é isso o que ela quer, assim devia ter.
- Se
a Talitaki fugiu do nosso rebanho é melhor que não volte para não influenciar
mais ninguém com o seu mau exemplo.
-
Ela saiu daqui porque não é das nossas. Que procure outro rebanho.
- Alta madrugada lá virá ela, machucada e chorosa aos ombros do pastor. Nunca
terá emenda.
E
muitos outros comentários foram surgindo cada vez menos abonatórios para a
ovelha Talitaki.
A
meio da noite, quando o pastor Azarias pedia ajuda aos outros colegas de ofício
para encontrar a sua ovelhinha, alguém o advertiu:
-
Não vale a pena o esforço. Uma ovelha não vale o trabalho de tanta gente… vai
descansar e amanhã encontrá-la-emos de qualquer maneira.
Ainda
ele falava quando um clarão de luz pairou sobre as suas cabeças. Ficaram todos
sem respiração. O pastor Azarias só teve tempo de pensar:
-
Que mais irá me acontecer nesta noite?! Eu, Azarias, sou mesmo azarado!
Um
Anjo do Senhor aproximou-se deles e tiveram grande medo. Disse-lhes o Anjo:
-
Não temais, porque vos anuncio uma grande alegria para todo o povo: nasceu-vos
hoje, na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhor. Isto vos servirá de
sinal: encontrareis um Menino recém-nascido, envolto em panos e deitado numa
manjedoura.
Imediatamente
juntou-se ao Anjo uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus,
dizendo:
-
Glória a Deus nas alturas e paz na terra.
Quando
os Anjos se afastaram em direção ao Céu, começaram os pastores a dizer uns aos
outros:
-
Vamos a Belém, para vermos o que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer.
O
pastor Azarias só pensava no seu íntimo:
-
Quem me dera encontrar pelo caminho a minha Talitaki. Seria sorte demais… Quem
sabe?! Se ela não tivesse desaparecido, eu não estaria agora aqui e não teria
recebido esta boa notícia. Grande Talitaki!
Para
lá se dirigiram apressadamente e encontraram Maria e José e o menino deitado na
manjedoura.
Os
pastores ajoelharam-se diante daquela cena, mas só um enxugava as suas
lágrimas. Era o pastor Azarias que partira à procura da sua ovelha perdida.
Nem
queria acreditar no que via – O menino sorrindo para ele, José inclinando a
cabeça para o cumprimentar com delicadeza e paciência e Maria, cheia de
ternura, olhando para o seu filho e afagando uma ovelhinha.
-
Que faz aqui a minha Talitaki? – Pensou o pastor Azarias. – Afinal, sou um
homem cheio de sorte.
A
ovelhinha Talitaki aproximou-se da manjedoura, não para manjar, mas para se
entregar ao seu novo pastor.
O
pastor Azarias percebeu logo. Afinal outro pastor, o Bom Pastor, tinha
encontrado primeiro a sua ovelha perdida. A partir daquele momento pertencia
àquele Menino. Ele nascera para ser o Bom Pastor, e quem revelou isso em
primeira mão foi a Talitaki, a ovelha perdida ou incompreendida do seu rebanho.
Maria
sorria e conservava todas estas coisas no seu coração.
Os
pastores regressaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham
ouvido e visto.
Quando
o pastor Azarias chegou ao seu redil, já o sol ia bem alto, as ovelhas ficaram
mudas ao verem que voltava sem a ovelha Talitaki. Todas baixaram a cabeça
porque não queriam ver a tristeza do seu pastor. Mas algo de maravilhoso
aconteceu. O pastor pôs-se a dançar no meio das ovelhas. Porque estaria ele
assim tão feliz? Que acontecera à ovelha Talitaki? Teria escapado da boca dos
Lobos? Onde estaria então? Continuava perdida? Ou então o pastor teria bebido
demais para consolar a sua frustração?
E
Azarias contou-lhes tudo o que tinha acontecido desde que saíra à procura da
Talitaki até onde a foi encontrar.
E
todas as ovelhas se admiraram do que o pastor lhes contava. E diziam umas às
outras:
- A
nossa amiga Talitaki sempre foi uma ovelha de grandes ideais.
- Eu
sempre soube que ela era diferente, que era capaz de realizar grandes coisas.
-
Ainda bem que o pastor Azarias foi à procura dela e que nos trouxe estas boas
notícias.
- A
nossa querida Talitaki vai fazer-nos muita falta. Já tenho saudades dela.
- Só
mesma a Talitaki para trazer tanta alegria ao nosso pastor. É uma santa!
E o
pastor Azarias concluiu:
- Vamos ser a partir de agora um rebanho unido, um grande rebanho, de cem
ovelhas… unidas e felizes.
- Ó
pastor Azarias, afinal somos apenas noventa e nove ovelhas, pois a Talitaki
passou a pertencer a outro Pastor, como nos contou.
-
Sim. Não apenas ela lhe pertence como todos nós também lhe pertencemos. Eu juntamente convosco
formamos um rebanho que tem Jesus como seu Pastor. A partir de agora haverá um
só rebanho e um só Pastor. E quem se perder será encontrado por Ele que veio
salvar o que estava perdido.
Foi
assim que aconteceu.
Talitaki, a ovelha perdida, foi a primeira a ser encontrada por Jesus e a primeira a conhecê-lo como Bom Pastor.
E a partir desse dia nada foi como antes.
Nota
explicativa do nome Talitaki
Mc
5,41 – Tomando a mão da criança disse-lhe: "talítha kum" – o que
significa: "menina, eu te digo, levanta-te". Kum quer dizer
levanta-te,
Talitha quer dizer cordeirinha (taleh=cordeiro). Era a expressão
carinhosa que os pais usavam para chamar as suas filhas como cordeirinhas.
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