terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Ovelha perdida no presépio


Um conto de Natal

Talitaki, a ovelha perdida no presépio

 

Era uma vez uma ovelhinha a quem todos chamavam Talitaki.

Ela não parava quieta, estava sempre a afastar-se do rebanho, parecia que andava à procura de alguma coisa ou de alguém, mas nem ela nem ninguém conseguiu saber o quê nem quem.

Numa tarde de inverno, ao recolher o seu rebanho, o pastor Azarias, como sempre, estava à porta do aprisco e cada ovelha foi-se apresentando – Raquel, Énia, Belinha, Vitalina, Fofinha, Dolly etc.

Mas naquele dia faltou uma ovelha, de novo!

Só estavam ali noventa e nove... faltava uma, o suficiente para amargurar o pastor Azarias. Faltava a ovelha Talitaki. O seu nome dizia toda a verdade – estava aqui, estava ali, andava sempre onde não devia andar, como carta fora do baralho.

Contado e recontado, foi confirmada a ausência da Talitaki. O pastor Azarias deu um suspiro de resignação. Teria uma vez mais de deixar o rebanho e procurar a ovelha faltosa… mas nem uma palavra de desagrado, nenhum gesto de impaciência se viu ou ouviu. Pelo menos aquela noite estava calma, com o céu muito estrelado. Era de facto uma noite de paz. Tinha de apressar-se porque os lobos nessa altura do ano estavam famintos e não podiam encontrá-la primeiro do que ele.

Fechou a porta prometendo ao rebanho que voltaria muito em breve…

Quando se viram sós as ovelhas começaram a dar à língua sobre a tresmalhada, a fugitiva, a perdida, a ovelha negra, a desobediente:

- Estás a ver o que aprontou outra vez a nossa amiga Talitaki?

- É uma aventureira que não mede as consequências das suas ações.

- Bem feito que ela se perdeu. Não tenho pena nenhuma dessa irresponsável.

- Os lobos deviam persegui-la desta vez para que sinta na pele o perigo que corre lá fora e aprenda de vez a lição

- Nós é que corremos o perigo aqui, sozinhas, sem o nosso pastor por causa daquela ingrata.

- Ela não presta, só dá trabalho e canseiras ao pastor.

- O pastor devia deixá-la por lá. Se é isso o que ela quer, assim devia ter.

- Se a Talitaki fugiu do nosso rebanho é melhor que não volte para não influenciar mais ninguém com o seu mau exemplo.

- Ela saiu daqui porque não é das nossas. Que procure outro rebanho.

- Alta madrugada lá virá ela, machucada e chorosa aos ombros do pastor. Nunca terá emenda.

E muitos outros comentários foram surgindo cada vez menos abonatórios para a ovelha Talitaki.

A meio da noite, quando o pastor Azarias pedia ajuda aos outros colegas de ofício para encontrar a sua ovelhinha, alguém o advertiu:

- Não vale a pena o esforço. Uma ovelha não vale o trabalho de tanta gente… vai descansar e amanhã encontrá-la-emos de qualquer maneira.

Ainda ele falava quando um clarão de luz pairou sobre as suas cabeças. Ficaram todos sem respiração. O pastor Azarias só teve tempo de pensar:

- Que mais irá me acontecer nesta noite?! Eu, Azarias, sou mesmo azarado!

Um Anjo do Senhor aproximou-se deles e tiveram grande medo. Disse-lhes o Anjo:

- Não temais, porque vos anuncio uma grande alegria para todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um Menino recém-nascido, envolto em panos e deitado numa manjedoura.

Imediatamente juntou-se ao Anjo uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus, dizendo:

- Glória a Deus nas alturas e paz na terra.

Quando os Anjos se afastaram em direção ao Céu, começaram os pastores a dizer uns aos outros:

- Vamos a Belém, para vermos o que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer.

O pastor Azarias só pensava no seu íntimo:

- Quem me dera encontrar pelo caminho a minha Talitaki. Seria sorte demais… Quem sabe?! Se ela não tivesse desaparecido, eu não estaria agora aqui e não teria recebido esta boa notícia. Grande Talitaki!

Para lá se dirigiram apressadamente e encontraram Maria e José e o menino deitado na manjedoura.

Os pastores ajoelharam-se diante daquela cena, mas só um enxugava as suas lágrimas. Era o pastor Azarias que partira à procura da sua ovelha perdida.

Nem queria acreditar no que via – O menino sorrindo para ele, José inclinando a cabeça para o cumprimentar com delicadeza e paciência e Maria, cheia de ternura, olhando para o seu filho e afagando uma ovelhinha.

- Que faz aqui a minha Talitaki? – Pensou o pastor Azarias. – Afinal, sou um homem cheio de sorte.

A ovelhinha Talitaki aproximou-se da manjedoura, não para manjar, mas para se entregar ao seu novo pastor.

O pastor Azarias percebeu logo. Afinal outro pastor, o Bom Pastor, tinha encontrado primeiro a sua ovelha perdida. A partir daquele momento pertencia àquele Menino. Ele nascera para ser o Bom Pastor, e quem revelou isso em primeira mão foi a Talitaki, a ovelha perdida ou incompreendida do seu rebanho.

Maria sorria e conservava todas estas coisas no seu coração.

Os pastores regressaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto.

Quando o pastor Azarias chegou ao seu redil, já o sol ia bem alto, as ovelhas ficaram mudas ao verem que voltava sem a ovelha Talitaki. Todas baixaram a cabeça porque não queriam ver a tristeza do seu pastor. Mas algo de maravilhoso aconteceu. O pastor pôs-se a dançar no meio das ovelhas. Porque estaria ele assim tão feliz? Que acontecera à ovelha Talitaki? Teria escapado da boca dos Lobos? Onde estaria então? Continuava perdida? Ou então o pastor teria bebido demais para consolar a sua frustração?

E Azarias contou-lhes tudo o que tinha acontecido desde que saíra à procura da Talitaki até onde a foi encontrar.

E todas as ovelhas se admiraram do que o pastor lhes contava. E diziam umas às outras:

- A nossa amiga Talitaki sempre foi uma ovelha de grandes ideais.

- Eu sempre soube que ela era diferente, que era capaz de realizar grandes coisas.

- Ainda bem que o pastor Azarias foi à procura dela e que nos trouxe estas boas notícias.

- A nossa querida Talitaki vai fazer-nos muita falta. Já tenho saudades dela.

- Só mesma a Talitaki para trazer tanta alegria ao nosso pastor. É uma santa!

E o pastor Azarias concluiu:

- Vamos ser a partir de agora um rebanho unido, um grande rebanho, de cem ovelhas… unidas e felizes.

- Ó pastor Azarias, afinal somos apenas noventa e nove ovelhas, pois a Talitaki passou a pertencer a outro Pastor, como nos contou.

- Sim. Não apenas ela lhe pertence como todos nós também lhe pertencemos. Eu juntamente convosco formamos um rebanho que tem Jesus como seu Pastor. A partir de agora haverá um só rebanho e um só Pastor. E quem se perder será encontrado por Ele que veio salvar o que estava perdido.

Foi assim que aconteceu.

Talitaki, a ovelha perdida, foi a primeira a ser encontrada por Jesus e a primeira a conhecê-lo como  Bom Pastor.

E a partir desse dia nada foi como antes.

Nota explicativa do nome Talitaki

Mc 5,41 – Tomando a mão da criança disse-lhe: "talítha kum" – o que significa: "menina, eu te digo, levanta-te". Kum quer dizer levanta-te, Talitha quer dizer cordeirinha (taleh=cordeiro). Era a expressão carinhosa que os pais usavam para chamar as suas filhas como cordeirinhas.

 

Sem comentários: