6ª feira – I semana do advento
Dois cegos seguiram Jesus pelo caminho, cantando:
- Filho de David, tem piedade de nós.
O velho guitarrista cego, Picasso, Barcelona (1903)
Não é forçado traduzir assim o trecho do evangelho de hoje.
Em geral os cegos na rua cantam pedindo uma esmola.
Com certeza também cantariam para pedir a maior esmola, a sua cura.
Estes dois cegos no evangelho cantavam o mesmo refrão
a duas vozes (gritando):
- Filho de David, tem piedade de nós.
E assim acompanharam Jesus até a sua casa onde Jesus se
certificou da sua fé e os curou.
E eles continuaram a cantar afinados glorificando a Deus,
de modo que a fama de Jesus se divulgou por toda aquela terra.
Observações
1) Numa só voz
Os dois cegos tiveram voz para pedir a sua cura a Jesus durante
o caminho.
Apesar de Jesus lhes ter advertido para não dizerem a ninguém,
tiveram voz para agradecer após a sua cura. Este episódio é o contrário da cura
dos dez leprosos. Estes cegos juntos cantaram pedindo e juntos cantaram
agradecendo.
2) Os cegos cantam por várias razões.
A compensação sensorial faz da música uma forma
tradicional de expressão e subsistência para os cegos, pois sem a visão, a audição
se torna um sentido mais apurado, e a música oferece um meio de vida, embora
nem todo cego seja músico. De facto, a falta de visão pode levar a um
desenvolvimento mais aguçado da audição, tornando a perceção de sons mais rica
e detalhada, o que pode beneficiar a prática musical. Por outro lado, a música
se torna um canal para expressar emoções e perceções que não dependem da visão,
usando a memória auditiva e o tato. Ao cantarem, os cegos partilham o melhor
que têm ou são.
3) Cantavam chorando e choravam rezando.
Cheguei à janela,
Porque ouvi cantar.
É um cego e a guitarra
Que estão a chorar.
Ambos fazem pena,
São uma coisa só
Que anda pelo mundo
A fazer ter dó.
Eu também sou um cego
Cantando na estrada,
A estrada é maior
E não peço nada.
(26-2-1931 – Poesias Inéditas, Fernando Pessoa)
Ver também:
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Acordeonista cego, Ben Shahn (1945)


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