Algumas vezes, nas minhas caminhadas ao fim da tarde,
encontro alguma moeda no chão.
Fico sempre com um misto de alegria e de tristeza.
Alegria porque tive a sorte de encontrar, mesmo um
pequeno valor que nem dá para pagar o esforço de me baixar e recolher.
Tristeza porque penso na pessoa que a perdeu e com ela
lamento o azar.
Por isso, quando estou só e vejo no chão uma moeda ou
até mesmo uma nota, eu nunca apanho. Deixo para os outros. Às vezes com o
sapato afasto para um lugar mais exposto para que possa ser vista mesmo pelos
mais distraídos.
Quando vou acompanhado, aponto com a biqueira do sapato
para que aquele que vai ao meu lado possa ver e recolher.
Assim partilho a alegria com alguém – eu fico com a
alegria de encontrar, o outro fica com a alegria de a guardar.
Quando partilhei estas práticas a um amigo, ele
identificou-se com elas e ilustrou com uma narração ainda mais sublime.
Contou-me que uma vez encontrou uma nota de 10 euros
no caminho. O filho ficou tão feliz e perguntou logo:
- Pai, podemos comprar agora um gelado para nós?
O pai, com toda a seriedade, respondeu:
- Sim, filho, mas não hoje.
- Mas temos o dinheiro e está calor. Porque não hoje?
- Porque alguém está triste, pois perdeu este
dinheiro. Não podemos ter uma satisfação à custa da tristeza de alguém. Mais
tarde, depois de uma semana essa pessoa já estará habituada e mais conformada
ou talvez já tenha esquecido. Nessa altura podemos gastá-lo, mas nunca à custa
da tristeza de alguém.

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