sábado, 20 de dezembro de 2025

Encontrar dinheiro no chão

Algumas vezes, nas minhas caminhadas ao fim da tarde, encontro alguma moeda no chão.

Fico sempre com um misto de alegria e de tristeza.

Alegria porque tive a sorte de encontrar, mesmo um pequeno valor que nem dá para pagar o esforço de me baixar e recolher.

Tristeza porque penso na pessoa que a perdeu e com ela lamento o azar.

Por isso, quando estou só e vejo no chão uma moeda ou até mesmo uma nota, eu nunca apanho. Deixo para os outros. Às vezes com o sapato afasto para um lugar mais exposto para que possa ser vista mesmo pelos mais distraídos.

Quando vou acompanhado, aponto com a biqueira do sapato para que aquele que vai ao meu lado possa ver e recolher.

Assim partilho a alegria com alguém – eu fico com a alegria de encontrar, o outro fica com a alegria de a guardar.

Quando partilhei estas práticas a um amigo, ele identificou-se com elas e ilustrou com uma narração ainda mais sublime.

Contou-me que uma vez encontrou uma nota de 10 euros no caminho. O filho ficou tão feliz e perguntou logo:

- Pai, podemos comprar agora um gelado para nós?

O pai, com toda a seriedade, respondeu:

- Sim, filho, mas não hoje.

- Mas temos o dinheiro e está calor. Porque não hoje?

- Porque alguém está triste, pois perdeu este dinheiro. Não podemos ter uma satisfação à custa da tristeza de alguém. Mais tarde, depois de uma semana essa pessoa já estará habituada e mais conformada ou talvez já tenha esquecido. Nessa altura podemos gastá-lo, mas nunca à custa da tristeza de alguém.

 

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