terça-feira, 21 de junho de 2016

Pe. Dehon nos Açores









O Pe. Dehon nos Açores
ou os Açores no Pe. Dehon

1. Apresentação:
Nos escritos do Pe. Dehon aparecem referências aos Açores em três obras publicadas, fruto do seu gosto pelas viagens e da sua sede de conhecimento natural, humano e religioso.
- A primeira vez que aparece a palavra Açores é nas notas quotidianas referentes à visita a Espanha no verão de 1899. Ao visitar o Escorial admira os frescos sobre a expedição marítima aos Açores no tempo de Filipe II. Mais tarde recupera esse relato publicando-o no seu livro “Para além dos Pirinéus”.
- Na sua visita a Portugal (1900), ao falar da Sé de Lisboa diz que é sede da Igreja que se estende de Portugal até às Ilhas dos Açores, Cabo Verde e parte da Índia.
- Depois temos a referência numa crónica de 1903 da Revista “O Reino do Coração de Jesus”. Sem precisar o nome Açores, ao falar do congresso do Partido Nacional, informa que contou com representação de toda a nação, inclusive das Ilhas.
- Finalmente, as mais desenvolvidas informações sobre os Açores, as suas tradições, costumes, religiosidade e capacidade de adaptação e emigração, encontramos no relato da sua visita ao Brasil (1907).
No total registamos 8 vezes a palavra Açores e mais 3 vezes Das Ilhas com intenção de abranger esse Arquipélago.
Quanto ao conteúdo podemos ver que a primeira informação diz respeito à sua situação geográfica (expedição marítima)
Depois temos a sua organização como instituição eclesial.
A terceira notícia relata a sua participação político-social.
Por fim, a narrativa mais extensa, expõe a sua dimensão existencial: história, tradição, religiosidade, emigração e capacidade de adaptação.
De todas as ilhas açorianas sobressai a de São Miguel pela referência à Lenda da Lagoa das Sete Cidades.

2. O que o Pe. Dehon mostrou saber dos Açores:
- Que são ilhas atlânticas com importância estratégica, riqueza natural, integradas no todo nacional e na igreja institucional.
- Que foram ilhas conhecidas e visitadas pelos fenícios, árabes, normandos e pelos americanos. Não apenas os açorianos conhecem e visitam a América, mas antes os americanos já teriam conhecido e visitado os Açores.
- Que acolheram, antes dos descobridores portugueses, os 7 bispos expulsos da Espanha pelos árabes e que fundaram as 7 igrejas (alusão à lenda da Lagoa das Sete Cidades, da Ilha de São Miguel).
- Que são ilhas dedicadas ao Espírito Santo… que para coroar o seu patrono coroam crianças.
- Que os açorianos emigram muito. Na população do Brasil a sua presença é determinante, sobretudo nos Estados do Rio Grande e de Santa Catarina onde foram os primeiros colonos. Muitos brasileiros descendem de açorianos.
- Que os emigrantes dos Açores adaptam-se melhor ao Brasil (língua e costumes), mas sobretudo ao seu clima quente que suportam bem, devido à sua terra de origem.
- Que, como os outros portugueses, os açorianos são muito reconhecidos como bons trabalhadores, apesar de serem chamados de Pé-de-chumbo, isto é, pesados e rudes, em oposição aos brasileiros que se consideram pé-de-cabra.

3. O que não sabia o Pe. Dehon sobre os Açores:
- Que não são 7 ilhas, mas sim 9. O equívoco talvez tenha sido causado pela analogia dos 7 dons do Espírito Santo (Ilhas do Santo Espírito e dos seus dons) ou pela analogia à lenda das 7 cidades ou 7 igrejas.
Dizem as más-línguas aqui nos Açores que de facto esta Região é composta por Sete Ilhas, um parque de diversões e Pico…. Porque há uma ilha onde há sempre festa e outra chamada Pico, mas o Pe. Dehon não sabia desta anedota.

4. Citando os originais:

A)
“Visitando o escorial (Espanha) Agosto de 1899
A sala das batalhas é em grande parte dedicada à glória de Filipe II. Mostra-se aí somente duas batalhas contra os mouros; o resto representa as campanhas de Filipe II: a Batalha de São Quintino, a tomada do Condade de Montmorency, o cerca e a tomada da cidade de Gravelines, a revista da armada da invação de Portugal, a expedição matítima às Ilhas dos Açores.”
(Crónicas quotidianas, visitanto s Espanha, caderno 14, julho-agosto de 1899)
B)
 “A catedral (de Lisboa) é a sede de um patriarcado, pois o primado do arcebispo estende-se a todo o Portugal, às ilhas dos Açores, às ilhas de Cabo Verde e a uma parte das Índias”. (Para além dos Pirinéus, Por L. Dehon, Superior dos Sacerdotes do Coração de Jesus, H. & L. Casterman, Éditeur Pontificaux, Paris, Rue Bonaparte, 66, Tournai (Belgique) pagina 481)
C)
“Agosto 1903 - Portugal.
Um congresso católico, ocorrido recentemente no Porto, teve um completo sucesso.
O grande partido do Centro nacional, no qual assentam todas as esperanças da Igreja em Portugal, foi dignamente representado por mais de 3.000 delegados provenientes de todas as províncias do país e até das ilhas, podendo falar em nome das duas centenas de ‘centros’ locais disseminados um pouco por toda a parte”. (Chroniques in Il Règne du Cœur de Jésus dans les âmes et dans les sociétés. Oeuvres Sociales, V Volume, Seconde partie, Edizioni Dehoniane. Roma.,página 671).
D)
“Falemos das festas locais (de Itajaí). Aqui gosta-se de coroar os santos que se festejam. É fácil para os que têm uma imagem, mas era um problema para a Confraria do Espírito Santo. Como coroar o patrono? Um rapaz e uma rapariga escolhidos por entre os irmãos levam a coroa real. Naquele dia têm direito a lugares de honra na igreja, são incensados e a procissão acompanha-os a casa: são eles que simbolizam os Espírito Santo.
Este costume vem das ilhas dos Açores, sete ilhas dedicadas ao Espírito Santo e aos seus dons.
As tradições dos Açores contam, além disso, que sete bispos, expulsos de Espanha pelos Árabes, fundaram aqui sete igrejas.
Os Açores foram conhecidos e visitados pelos Fenícios, pelos Árabes e pelos Normandos. Porque não também pela América?
Na capela da Penha, uma dependência de Italaí, os negros querem que no Natal se coroe os seus imperadores e imperatrizes do Rosário. (Leon Dehon, Mille lieues dans l’Amerique du Sud: Brésil, Uruguay, Argentine, (1909) Página 227-228).
Os brasileiros, muitos dos quais estão mais ou menos associados na realidade ao sangue índio e ao sangue negro, descendem dos portugueses de Portugal e dos portugueses das ilhas. Os Açores, a Madeira, o arquipélago de Cabo Verde, pequenas Lusitânias perdidas no Atlântico, somam, todos juntos, apenas 500.000 almas, mas emigram muito; emigram de tal maneira para o Brasil que o seu contributo para a formação da nação brasileira é quase predominante.
Dos Açores partiram em especial os primeiros colonos daquelas regiões que se tornaram os estados de Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
Com os Portugueses continentais ou das ilhas, aqueles anos que já têm mais de três séculos que foram a aurora do Brasil, chegou também um certo número de Judeus e de ciganos ou boémios, que exerciam o ofício de ferradores de cavalos…
São sobretudo os portugueses, uma raça viril e dura, que sustentam o Brasil; estes encontram aqui a sua língua e os seus costumes. Suportam o clima melhor do que os outros filhos da Europa: uma parte deles de facto provém de terras quentes como as ilhas de Cabo Verde, da Madeira e dos Açores, mas o maior número chega do Porto e provém de Portugal setentrional. Os portugueses que se estabelecem no Brasil são em média de dez a doze mil por ano. Os brasileiros acham-nos pesados e rudes; chamam-lhes de pé-de-chumbo, e atribuem a si mesmos, por contraste o epíteto de pé-de-cabra”. (Leon Dehon, Mille lieues dans l’Amerique du Sud: Brésil, Uruguay, Argentine, (1909) Ibidem, Página 235-237).





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