segunda-feira, 13 de junho de 2016

O milagre que falta



































(painel da Igreja de Santo António, Além Capelas, S. Miguel, Açores)

Neste dia de Santo António, recordo um confrade meu que dizia, enquanto aguardava pela saída da procissão do santo em Lisboa:
- O maior milagre que santo António podia fazer para o nosso século e para Portugal era alcançar do Senhor que houvesse outro santo do seu tamanho e da sua envergadura nos nossos dias.
Ele que fez e faz tantos milagres, ainda não conseguiu este.
Porque tarda este milagre?
Não é por medo da concorrência, mas por não haver muitos interessados.
Mais cedo ou mais tarde o milagre que tarda, acontecerá!






















(Santo António representado por Giotto)

Como era santo António?

Todos sabem a maravilhosa história de Fernando de Bulhões… 
Todos conhecem a vida e milagres de Santo António...
Mas como era a sua figura física? 
Teria de facto aquele rosto seráfico e de menino e moço que, através dos séculos, a tradição e artistas trouxeram até nós? 
- Segundo as crónicas coevas, Santo António era gordo, anafado, quase obeso, apesar da regra das ordens mendicantes obrigar a uma vida ativa e movimentada.
- O mais antigo documento iconográfico que do taumaturgo se conhece é o retrato pintado a fresco na Basílica de Pádua, por Giotto, quase contemporâneo de Santo António: Representou-o segundo as tradições franciscanas de cara cheia mas sem barbela, e de expressão suave e espiritual. Era já uma depuração da realidade. 
- No século XV o florentino Benozzo Gozzoli, discípulo de Frei Angélico, deu-nos de Santo António uma figura grave e austera, entre dois anjos, com um livro numa das mãos e na outra um coração em chama, no fresco que pintou para a igreja de Ara Coeli em Roma: aqui a figura do santo adelgaça-se para atingir maior espiritualidade. 
- Do mesmo século o grande Donatello idealizou-o numa estatueta nervosa, de grande nobreza de linhas e palpitante de vida interior, que está no altar-mor da Basílica de Pádua. 
- Outros mestres italianos seguiram as mesmas pisadas. 
- A elegância e espiritualidade de formas tornou-se ainda mais sensível na tela de Van Dyck, Santo António e o Menino, da Pinacoteca de Milão, em que o santo português toma expressão de verdadeira beatitude. 
- Mas coube aos espanhóis, cuja devoção exuberante por vezes se compraz em representar as figuras do hagiológio sob formas de beleza demasiado terrena, como sucede com as Virgens de Murillo, dar o último retoque no imaginário do taumaturgo. Ele surge esbelto e suave, de carnação róseo e macia e de olhos cheios de amor suavíssimo, no célebre quadro de Murillo da catedral de Sevilha. (cf. Fernando de Pamplona sobre a figura de Santo António).
Conclusão:
Santo António tem mudado a história de muita gente.
Mas também a história tem mudado muita coisa de Santo António.
Esperemos que não tenha mudado dele nada de essencial!






















(Santo António representado por Murillo)

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