O
Pe. Dehon e Luís de Camões
1) No livro que relata
a visita do Pe. Dehon a Espanha e Portugal em 1900, aparecem 7 referências a
Luís de Camões.
a)
Visitando Lisboa:
-
Admira a bela estátua do grande poeta na Praça Camões no Bairro Alto.
-
Visita o túmulo de Camões no Mosteiro dos Jerónimos, referindo que ali
estava desde 1880.
-
Refere que entre os cidadãos portugueses mais gloriosos estão: António
de Pádua, Camões, Vasco da Gama, Henrique o Navegador.
b)
Em Coimbra:
-
No Mosteiro de Santa Cruz ao admirar a capela e a estátua de São Teotónio, refere
que este prior foi celebrado por Camões. De facto, no Canto VIII,
estância 19 de Os Lusíadas, Camões escreveu sobre Teotónio Prior:
Um Sacerdote vê, brandindo a espada
Contra Arronches, que toma, por
vingança
De Leiria, que de antes foi tomada
Por quem por Mafamede enresta a lança:
É Teotónio Prior. Mas vê cercada
Santarém. E verás a segurança
Da figura nos muros que, primeira
Subindo, ergueu das Quinas a bandeira.
-
Admira diante da Universidade o monumento aí levantado a Camões por ter sido
aí que adquiriu o gosto literário que fez a sua glória.
-
Na Quinta das Lágrimas lembra os versos de Camões no terceiro canto de Os
Lusíadas que tornaram populares as lembranças de Inês de Castro.
-
Ao relatar a história de Inês de Castro cita Camões para identificar:
aquela que depois de ser morta foi Rainha.
2) No livro que relata a
sua viagem ao Brasil e América do Sul, com escala em Lisboa em 1906, aparecem
outras 3 referências a Camões:
-Ao
contemplar o estuário do Tejo, cita Camões na sua invocação às Musas, em Os
Lusíadas, Canto I, estância 4:
E vós, Tágidas minhas, pois criado
Tendes em mim. Um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mim vosso rio alegremente,
Dai-me agora um com alto e sublimado,
Um estilo grandíloquo e corrente,
Porque de vossas águas, Febo ordene
Que não tenham inveja às de Hipocrene.
-
Ao falar dos grandes navegadores portugueses cita Camões em Os Lusíadas, canto X, estância 147:
Olhai que ledos vão, por várias vias,
Quais rompentes leões e bravos touros,
Dando os corpos a fomes e vigias,
A ferro, a fogo, a setas e pelouros,
A quentes regiões, a plagas frias,
A golpes de Idolatras e de Mouros
A perigos incógnitos do mundo,
A naufrágios, a peixes, ao profundo.
-Ao
constatar a mútua influência da língua portuguesa e o idioma tupi, diz que as
formas do neo-latim da língua do grande Camões, foram enriquecidas graças
a numerosas palavras tomadas das línguas indígenas e do calão dos negros.
3) Nas notas
Quotidianas que relatam a sua viagem à volta do mundo em 1910 surgem 2 referencias:
-
Durante o Congresso Eucarístico em Montreal refere que os poetas realçaram a
grandeza da Eucaristia, desde Dante a Tasso, de Tasso a Camões, de
Camões a Corneille, de Corneille a Chanteaubriand.
-
Quando navega ao largo de Macau em 1910 faz memória de Camões, pois foi aí
onde o poeta terminou Os Lusíadas. E conclui dizendo que Portugal já não
dá homens dessa envergadura.
4) Nas notas quotidianas de 1899 há 1 referência importante:
- Ao visitar pela primeira a Espanha recorda
o contributo que a península ibérica deu às letras apresentando a
importância de Camões: o grande poeta
Português Luís de Camões (1525-1579), nascido em Lisboa, soldado em Ceuta e
Goa, na Índia; exilado em Macau na China por ter censurado o vice-rei. Aí
escreveu o Lusíadas na caverna de Patane. Ele canta a glória do Português
(Lusi, Lusitani), explorações e descobertas de Vasco da Gama. Ele mistura o
sobrenatural cristã e sobrenatural pagã. Ele tem um tom verdadeiramente épico
que lembra Tasso. Perdoado, ele voltou para Goa, naufragou na costa de
Cochinchina, escapou nadando com o seu manuscrito fora da água, regressou
depois a Lisboa e onde publicou os seus poemas, que não tiveram inicialmente
grande sucesso; Ele viveu na pobreza e morreu no hospital. Lisboa ergue-lhe um
belo monumento em 1856.
5. Conclusão:
- O Pe. Dehon fala de Camões em 13 momentos.
- O Pe. Dehon conhece Camões não só quanto à sua arte
literária, mas num âmbito vasto e variado:
Admirando
obras de arte (estátuas)
Visitando
Monumentos
Evocando
a história da humanidade (figuras gloriosas)
Estudando
teologia.
- Dentro e fora de Portugal reconhece a importância
da vida e obra de Camões quer na Península Ibérica, América ou Ásia.
- A primeira informação sobre Camões foi
partilhada em 1899 um ano antes do Pe. Dehon ter visitado Portugal pela
primeira vez (1910).
- O Pe. Dehon não só conhece a importância do
poeta, como também cita a sua obra, pelo menos 3 vezes. Indica a tradução usada:
Traduction des Lusiades en vers français par de Cool, Rio de Janeiro
1876.
- Para o Pe. Dehon Luís de Camões é de facto
uma das maiores glórias de Portugal e lamenta não haver tamanhas glórias na
modernidade.
- Não podemos esquecer que o Pe. Dehon reconhecia
que a sua formação literária tinha sido muito limitada. Não tinha preparação
nem inclinação para essa arte. Se alguém assim tão limitado é capaz de falar
assim de Camões, imaginemos o que diria se os seus estudos e aptidões fossem outros…
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