terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Um camelo para Jesus

 

Natal (75)

Naquele tempo os Magos deixaram Jerusalém, a caminho de Belém, como lhes tinha sido recomendado por Herodes.

E eis que a estrela que tinham visto no Oriente seguia à sua frente.

Os camelos caminhavam pela noite dentro, uns atrás dos outros, carregando os seus donos e tesouros.

O camelo que transportava o ouro ia a meio, como que a exigir proteção ou maior atenção, não fosse ele o mais pesado e a carga mais valiosa. Apesar disso, o animal não deixava de olhar para o alto para a estrela guia.

No princípio o seu dono até achou um gesto inteligente do camelo:

- Olhem para o meu camelo… não para de admirar a estrela guia…. É um animal com bom gosto e boa formação. Sai ao seu dono.

O caminho era pedregoso, com perigos vários a espreitar nas sombras ou na calada da noite.

O Mago começou a ficar preocupado:

- Ó camelo, olha para o caminho… deixa de olhar para o alto… ainda tropeças e estragas tudo…

Dito e feito. O camelo deu um passo em falso num buraco e foi com os joelhos ao chão.

A carga ficou de lado, o Mago ficou sem respiração e todos pararam assustados.

- Só nos faltava esta desgraça.

Verificaram que o camelo não conseguia erguer-se. Tinha torcido uma pata.

Feito o curativo e aplicada uma pala, a carga voltou para o malfadado camelo, mas o seu dono pediu boleia no camelo do seu colega para não ficar enjoado com o baloiçar do seu camelo manco.

- Não gabaste a esperteza do teu camelo? Agora sofre as consequências…

- Bonito negócio! Vejam só o camelo que me venderam para esta viagem. Era bonito e resistente lá no Oriente, mas não sabia que era tão despassarado. Foi bem caro! E agora ainda me custa mais. Maldito camelo.

Atrás de todos seguiu o camelo coxo, amaldiçoado pelo seu dono. Olhou mais uma vez para a estrela guia lá no alto do céu, apenas para lhe agradecer ter satisfeito o seu pedido.

De facto, o camelo tinha sido iluminado nos seus pensamentos por essa estrela:

- Se Aquele para quem levamos estes presentes é o dono desta estrela tão brilhante, não precisa nada do que eu lhe levo. Ele não precisa do ouro que brilha, porque Ele é o Senhor da estrela que tem maior brilho. Retira-me, ó estrela, esta carga inútil…. Sê tão caridosa como és tão brilhante.

E foi nesse preciso momento que ele tropeçou e caiu, livrando-se apenas de um peso, mas em todo o caso tinha sido melhor assim. Coxeando, as pepitas de ouro andavam de um lado para o outro dentro do baú e algumas saltavam para o caminho. E o camelo foi-se apercebendo que quanto mais mancava mais leve ficava. Não imaginava ele que, ao romper da manhã, muitos pastores que regressavam da gruta de Belém, de mãos vazias, mas de coração cheio, encheriam o seu regaço de ouro, vindo com certeza do alto dos céus, e glorificariam a Deus por isso.

O dono do camelo de nada se apercebeu e continuava a lamentar-se:
- Por causa deste camelo vamos mais devagar e chegaremos, quem sabe, tarde demais…. Se não chegarmos antes da aurora, por causa da estrela, teremos de esperar mais um dia. Olha, olha, a estrela agora está mais baixa, quase a tocar a terra, agora é que o meu camelo devia olhar para ela sem deixar de ver onde punha as patas.

De facto, a estrela parou no lugar tanto esperado. Tinham chegado à meta da sua viagem.

Viram o Menino com Maria, sua Mãe e, prostrando-se diante dele, adoraram-no. Também os animais se ajoelharam e o camelo coxo olhou orgulhoso para os seus colegas de transporte, para que se lembrassem que ele tinha sido o primeiro a fazê-lo, ajoelhando-se já pelo caminho.

Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra.

Quando foi colocado à frente do Menino o cofre do ouro, ouviu-se, por milagre, a voz do Menino, que lhes dizia:

- Não quero o vosso ouro… dai-o aos pobres.

E foi então que o Mago se apercebeu de que o baú das pepitas estava roto e mais leve e percebeu então o que tinha acontecido no último troço de estrada. O pouco que restava teria então o mesmo destino: seria semeado pelo caminho dos pobres.

Mas ele queria deixar alguma coisa de oferta porque não queria ser menos generoso do que os outros dois e para não ter feito a viagem em vão.

- Meu rico Menino, não quereis o meu ouro, então o que vos posso dar? Que presente quereis então receber? Estou disposto a dar tudo o que me pedirdes?

- Dai-me o vosso camelo…. É tudo o que eu quero – disse o Menino com voz de Mestre.

- Ó Menino, o meu camelo está coxo, está velho e cansado. Posso trocá-lo por outro mais novo e mais valioso para vós.

- É esse camelo coxo que eu quero porque ele precisa de mim…

E lá ficou o camelo que era cambado, mas logo que se levantou parecia novo, curado de todos os seus males. E o Mago pensou: Ou este Menino percebe mais de camelos do que eu ou então este camelo fingiu muito bem que era coxo, para ficar por aqui.

Os Magos regressaram à sua terra por outro caminho, apenas um regressou com um camelo diferente, lembrando:

- Eu vos bem dizia que aquele camelo era especial, inteligente e muito prestável. O próprio Menino foi da mesma opinião, porque quis ficar com Ele. Bendito seja Deus.

Dizem que o camelo oferecido ao Menino Jesus acompanhou a Sagrada Família no seu desterro no Egipto. Quando regressaram a Nazaré foi deixado no deserto da Judeia para contar a sua história aos seus irmãos.

É por isso que eu hoje partilho convosco esta mesma história.

 

 

1 comentário:

Quintal Vieira disse...

Moral da história:
1º - Deus brilha mais do que todo o ouro.
2º - Em vez de oferecer o que queremos dar, devemos oferecer o que o outro quer receber.
3º - Em vez de receber o que precisamos, saibamos receber o que precisa de nós.