sábado, 6 de agosto de 2016

Últimos dias do Pe. Dehon (II)























Disposições para o Capítulo, 6 de Agosto
Estando o Pe. Dehon na cama, mandou-me chamar e disse-me: “Olhe, nestas condições, este ano não posso dirigir o Capítulo.” Era um Capítulo de assuntos e as eleições já estavam feitas. “Comunique a todos os capitulares em meu nome o que lhe digo: O Capítulo iniciar-se-á aqui em Bruxelas, na minha presença, depois você irá a Lovaina com os capitulares e dirigirá os debates. Para a conclusão que venham todos aqui, comigo, e eu encerrarei solenemente o Capítulo em Bruxelas.” Certamente o projecto era belo e eu não podia fazer outra coisa senão estar de acordo, prometendo-lhe cumprir tudo com fidelidade.

Realização de um desejo: um director espiritual para o noviciado de Brugelette
Visitava-o várias vezes ao dia e frequentemente de noite para perguntar se desejava alguma coisa.
Dizia que não. Espantava-me ver com que clareza ainda entendia tudo. Entre outras coisas disse-me (estávamos a falar de uma mudança no noviciado de Bruguelette, noviciado franco-belga na diocese de Tournay): “bem, leve a cabo este projecto e vá ao Provincial dos Jesuítas pedir-lhe um Director Espiritual para o noviciado.” Esta proposta realizei-a com toda a fidelidade e solicitude quase como uma herança do defunto Fundador. Veio ao Noviciado o Pe. Mahiat, que por muitos anos dirigiu os noviços.

Vinda do Bispo sufragâneo de Paris, D. Chaptal
Deram-se outros acontecimentos. Do Luxemburgo chegou-nos a notícia que D. Chaptal, bispo sufragâneo de Paris, recomendado por D. Nommesch, bispo de Luxemburgo, vinha pedir um capelão para a colónia franco-luxemburguesa de Paris na Rua Lafayette. O Padre ficaria por ali até que a diocese do Luxemburgo tivesse a possibilidade de aceitar este apostolado na grande capital.
Chegou o bispo e expôs-me o seu projecto. Informei imediatamente o Fundador desta visita, naturalmente com a delicadeza que exigia a situação da sua enfermidade. Eu respondi-lhe: “Com um só Padre não se pode começar nada, e se não é possível ter uma comunidade de ao menos três padres em Paris, não se pode levar a cabo este projecto.”
Para mim a coisa era clara. No meu entender era um meio para poder introduzir a Congregação em Paris, porque de outra forma seria quase impossível. Disse-lhe que o Pe. Fundador estava doente e convidei-o a visitá-lo. Levei o ilustre visitante ao quarto do doente, e com toda a gentileza o Fundador recebeu o Bispo. Deixei-os sós e puderam falar trocando opiniões.
O Bispo Chaptal era uma vocação tardia. Procedia da diplomacia da sua pátria. Tinha sido secretário do embaixador de São Petersburgo e estudado depois teologia no seminário de São Sulpício de Paris.
Como me disse mais tarde, era um fiel seguidor do movimento social e, durante as férias, tinha frequentado regularmente o curso que o Pe. Dehon e Sr. Harmel tinham em Val-de-Bois para seminaristas e sacerdotes.
Admirava a meditação da manhã através a exposição do Evangelho como só o Pe. Dehon sabia fazer.

A visita dos padres polacos: Stoszko e Maijka
Outro acontecimento vivido nestes dias, querido e belo como um idílio, é a visita dos primeiros religiosos polacos. Estudavam teologia na Universidade de Estrasburgo e estavam a caminho a Lovaina. Contei-lhes brevemente a enfermidade do venerado Pe. Dehon e disse-lhes: “E agora, vamos fazer-lhe uma visita.” Acompanhei-os até ao quarto e um doce sorriso iluminou o rosto do ancião enfermo. Viu nestes dois jovens filhos espirituais as primícias que deviam implantar a Congregação na sua pátria católica.
Eram eles o Padre Stoszko e o mais velho Pe. Estanislau Maijka. Abençoou-os e a bênção do padre passou para os seus filhos. Estou convencido de que esta bênção trouxe muitas graças à fundação polaca e, apesar de todas as perseguições, a mantém ainda que em condições penosas, unida à Congregação.

(Das Memórias de D. Philippe, Vice Geral do Pe. Dehon e seu sucessor)

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