sábado, 12 de julho de 2008

A Semente é a Palavra


Ano A – XV Domingo Comum

A reflexão que partilho hoje é o resumo do grande sermão da Sexagésima do Pe. António Vieira, pregado na Capela Real, Lisboa, 1655.

O Semeador saiu para semear

Jesus salienta não só o facto de SEMEAR, mas também o acto de SAIR.
No dia da colheita hão-de ser contados não só os resultados da semeadura, mas também os passos dados para executá-la.
Para quem trabalha com Deus até o SAIR já é semear porque na obra de Deus até dos passos se colhe fruto.


Semeou, mas com pouca sorte, pois todos os tipos de criaturas se levantaram e se levantam ainda hoje contra a palavra de Deus:
- As criaturas racionais (os homens pisaram a semente do caminho)
- As criaturas instintivas (os animais, as aves comeram a semente)
- As criaturas vegetativas (as plantas, os espinhos sufocaram-na)
- As criaturas insensíveis (as pedras duras secaram-na)

A palavra é poderosa, mas porque vemos tantas pregações e tão poucas conversões?
A Palavra nos diz que cada semente lançada produziu cem.
Ah, se assim fosse…
Ficaríamos satisfeitos se a cada cem pregações se convertesse um coração…

Porque é que a Palavra pregada hoje não produz efeitos ou frutos?

Em quem está o defeito?
- No pregador?
- No Ouvinte?
- Em Deus?
Qual deles está a falhar?

1. A falha não pode ser de Deus.
Deus nunca falha. A parábola não diz que faltou sol ou chuva. A palavra não frutifica não por factores celestiais – a culpa é sempre nossa e não de Deus. Ele está sempre pronto a ajudar. Se a culpa não é de Deus, será então dos ouvintes?

2. Serão os ouvintes os culpados?
Não será muito provável, pois a palavra de Deus caindo na terra, ainda que não produza frutos produz efeitos (cresceu mas foi sufocada pelos espinhos ou secou nas pedras…)
Há ouvintes pedras – vontades endurecidas.
Há ouvintes espinhos – só ouvem para criticar, para ferir.
A falta de fruto não é da responsabilidade do ouvinte porque apesar de tudo a semente nasce…

3. Será por culpa do pregador?
O que pode falhar no pregador?
A sua pessoa, o seu conhecimento, o assunto que prega, o estilo, a voz com que fala?
A culpa não é da pessoa que prega, nem do estilo que usa nem do assunto que trata, nem do conhecimento grande nem da voz:
Moisés não tinha voz,
Amós era grosseiro,
Salomão falava de muitos assuntos,
Balaão dava mau exemplo,
a mula de Balaão não tinha nenhum conhecimento
e todos eles falando persuadiram e convenceram, pregaram a Palavra e produziram efeitos e frutos.

Então qual será a causa de que a palavra semeada hoje não produz fruto?
O problema é que nós não pregamos a Palavra de Deus.
Pregamos hoje palavras de Deus e não a Palavra de Deus.
Usar palavras de Deus até o diabo sabe usar, como nas tentações de Jesus no deserto.
As nossas pregações não produzem fruto nem efeitos porque não pregamos a Palavra de Deus, estamos sim usando palavras de Deus para pregar uma mensagem nossa, do nosso interesse e do nosso orgulho.

A pregação que aproveita não é aquela que dá prazer ao ouvinte mas a que o acorda para a vida da graça.
O que espero não é ficar contente com o sermão, mas ouvir e ficar triste comigo mesmo e sentir necessidade de converter-me.

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