segunda-feira, 24 de junho de 2019

Música e penitência


Solenidade do Nascimento de São João Baptista

Assinalamos São João Baptista como um dos três santos mais populares, celebrados com folia, música e muita comida e bebida.
Por ironia, é o santo mais austero, o mais penitente, o mais humilde e abstémio que conhecemos.





















O santo da penitência
Pregava a penitência não só com a palavra, mas sobretudo com a sua vida, com o exemplo das suas ações.
Foi habitar no desprendimento do deserto. Vestia-se de pobreza, comia o que mais ninguém aceitava, não bebia… Era a penitência personalizada. E tudo isso não como fim mas como meio para apontar para Deus.
Em vez de festejarmos este santo com um banquete e com folia aproveitemos para nos autoexaminar sobre a nossa prática de penitência (coisa que passou de moda no mundo de hoje).
A penitência corporal ou é uma grande ajuda para a santidade ou então torna-se uma estrada para o orgulho e farisaísmo.
São Jerónimo, ao escrever para uma mulher chamada Celantia sobre a questão das penitências corporais, fez um aviso cuidadoso:
"Está atenta quando começares a mortificar o teu corpo através da abstinência e do jejum, para que não te comeces a imaginar perfeita e uma santa; porque a perfeição não consiste nesta virtude. É apenas uma ajuda; uma disposição; um meio, ainda que dos bons, para chegar à verdadeira perfeição."
A Igreja Católica incita-nos à prática da penitência corporal. Manter longe do nosso corpo aquilo que ele quer. Como São Jerónimo nos lembra, é apenas um meio para alcançar um fim. Os jejuns e as penitências não são nunca um fim em si mesmos.
A prática penitencial de João Baptista era uma maneira de se apresentar pequeno diante da grandeza de Jesus… É bom que eu diminua e que Ele cresça.
Alguém recordou:
“Enquanto estava ajoelhado na confissão, um sacerdote examinou a minha constelação de pecados confessados e depois disse: Meu filho, precisas de temperança e fortaleza. Posso recomendar uma penitência diária?
Em primeiro lugar fiquei chocado. Na minha cabeça pensei: Hmm, não me pode dar só 5 Ave Marias para que eu possa ir almoçar? mas lá bem dentro da minha alma eu percebi que isto era uma coisa que eu precisava. Ele então explicou e recomendou algumas penitências corporais diárias. Exercícios para pôr a minha alma já flácida em melhor forma. É como fazer flexões ou correr pela alma. Nos velhos tempos chamavam-lhe “teologia ascética” que vem da palavra grega askesis, que significa treino atlético.”
As nossas obras de penitência fortalecem-nos e mostram que afinal diante de Deus, todos nos sentimos pequeninos, porque só Ele é grande.

O santo da música
Tudo começou com um monge beneditino que viveu no séc.XI  (995-1050), de seu nome Guido d'Arezzo, que denotou uma particularidade num hino a S. João Baptista, música bastante popular na época. Este hino era composto por 7 versos, e o primeiro verso começava com uma nota a que chamaria posteriormente Ut, o segundo começava com uma a que chamaria posteriormente Ré, e aí por diante até ao último verso...
Ele teve a ideia de nomear as notas conforme o início de cada verso. Este é o hino:

Ut queant laxis
     Para que possam, de libertas
Resonare fibris
     vozes, ressoar
Mira gestorum
     as maravilhas das tuas ações
Famuli tuorum,
     dos teus servos,
Solve polluti
     apaga dos impuros
Labii reatum,
     lábios a culpa,
Sancte Ioannes.
     ó São João.












Como a sílaba Ut não era fácil de ser cantada foi substituída, por Giovanni Baptista Doni, em Do, por volta de 1640. 
Não deixa de ser irónico que, não sendo o mundo musical em geral muito católico, seja usado um hino ao "profeta do Altíssimo" para compor todas as músicas.
Assim como também não deixa de ser irónico, que o santo mais austero, tenha inspirado as notas musicais…
São sempre surpreendentes as coisas de Deus!


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