Solenidade
do Nascimento de São João Baptista
Assinalamos
São João Baptista como um dos três santos mais populares, celebrados com folia, música
e muita comida e bebida.
Por
ironia, é o santo mais austero, o mais penitente, o mais humilde e abstémio que
conhecemos.
O santo da penitência
Pregava
a penitência não só com a palavra, mas sobretudo com a sua vida, com o exemplo das suas ações.
Foi
habitar no desprendimento do deserto. Vestia-se de pobreza, comia o que mais
ninguém aceitava, não bebia… Era a penitência personalizada. E tudo isso não
como fim mas como meio para apontar para Deus.
Em
vez de festejarmos este santo com um banquete e com folia aproveitemos para nos
autoexaminar sobre a nossa prática de penitência (coisa que passou de moda
no mundo de hoje).
A
penitência corporal ou é uma grande ajuda para a santidade ou então torna-se uma estrada para
o orgulho e farisaísmo.
São Jerónimo, ao
escrever para uma mulher chamada Celantia sobre a questão das penitências
corporais, fez um aviso cuidadoso:
"Está atenta quando
começares a mortificar o teu corpo através da abstinência e do jejum, para que
não te comeces a imaginar perfeita e uma santa; porque a perfeição não consiste
nesta virtude. É apenas uma ajuda; uma disposição; um meio, ainda que dos bons,
para chegar à verdadeira perfeição."
A Igreja Católica incita-nos
à prática da penitência corporal. Manter longe do nosso corpo aquilo que ele
quer. Como São Jerónimo nos lembra, é apenas um meio para alcançar um fim. Os
jejuns e as penitências não são nunca um fim em si mesmos.
A prática penitencial
de João Baptista era uma maneira de se apresentar pequeno diante da grandeza de
Jesus… É bom que eu diminua e que Ele cresça.
Alguém recordou:
“Enquanto estava
ajoelhado na confissão, um sacerdote examinou a minha constelação de pecados
confessados e depois disse: Meu filho, precisas de temperança e fortaleza.
Posso recomendar uma penitência diária?
Em primeiro lugar
fiquei chocado. Na minha cabeça pensei: Hmm, não me pode dar só 5 Ave
Marias para que eu possa ir almoçar? mas lá bem dentro da minha alma eu percebi
que isto era uma coisa que eu precisava. Ele então explicou e recomendou
algumas penitências corporais diárias. Exercícios para pôr a minha alma já flácida
em melhor forma. É como fazer flexões ou correr pela alma. Nos velhos tempos
chamavam-lhe “teologia ascética” que vem da palavra grega askesis, que significa treino atlético.”
As nossas obras de
penitência fortalecem-nos e mostram que afinal diante de Deus, todos nos
sentimos pequeninos, porque só Ele é grande.
O
santo da música
Tudo
começou com um monge beneditino que viveu no séc.XI (995-1050), de
seu nome Guido d'Arezzo, que denotou uma particularidade num hino a S. João
Baptista, música bastante popular na época. Este hino era composto por 7
versos, e o primeiro verso começava com uma nota a que chamaria
posteriormente Ut, o segundo começava com uma a que chamaria
posteriormente Ré, e aí por diante até ao último verso...
Ele teve a ideia de nomear as notas conforme o início de cada verso. Este é o
hino:
Ut queant
laxis
|
Para que possam, de libertas
|
Resonare fibris
|
vozes, ressoar
|
Mira gestorum
|
as maravilhas das tuas ações
|
Famuli tuorum,
|
dos teus servos,
|
Solve polluti
|
apaga dos impuros
|
Labii reatum,
|
lábios a culpa,
|
Sancte Ioannes.
|
ó São João.
|
Como a sílaba Ut não era fácil de ser cantada foi substituída, por Giovanni Baptista Doni, em Do, por volta de 1640.
Não
deixa de ser irónico que, não sendo o mundo musical em geral muito católico,
seja usado um hino ao "profeta do Altíssimo" para compor todas as
músicas.
Assim
como também não deixa de ser irónico, que o santo mais austero, tenha inspirado
as notas musicais…
São
sempre surpreendentes as coisas de Deus!
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