quarta-feira, 7 de novembro de 2018

A guerra e a paz e o Pe. Dehon


Há precisamente 100 anos o Pe. Dehon estava em Lyon quando foi preparado e assinado o armistício que pôs fim à I Guerra Mundial.
Mas a terra natal do Pe. Dehon (La Capelle) e a família do Pe. Dehon estiveram envolvidos no processo do armistício.
De facto, a delegação alemã que veio negociar a rendição passou por La Capelle no dia 7 de novembro de 1918 e foi recebida protocolarmente pelo autarca local, Henrique Dehon, irmão do Pe. Dehon.  Seguiu depois em direção à Clareira do Armistício, entre Campuégne e Soissons onde, num vagão de comboio negociaram e assinaram o acordo a 11 de novembro de 1918.














As últimas horas da guerra
Ao amanhecer do dia 7 de novembro de 1918 o capitão médico francês Artaud apresentou-se capitão Lhuillier, que comandava um batalhão do regimento 171 de infantaria na primeira linha, não longe da estrada de La Capelle a Chimay. Ia comunicar que já não tinha nenhum maqueiro, porque ou tinham morrido, ou sido feridos ou feito prisioneiros. Os dois homens olharam-se angustiados.
Nesse momento chegou um telegrama do Estado Maior. Lhuillier abriu-o e leu:
Os parlamentares que vêm solicitar o armistício apresentar-se-ão na estrada de La Capelle a partir das 8 horas. Há que tomar imediatamente todas as disposições para facilitar a sua entrada nas linhas francesas.
Lhuillier ergueu a cabeça, com os olhos brilhantes e o coração a pulsar com força. Com voz quebrada pela emoção concluiu:
- Artaud, já não necessita de mais nenhum maqueiro.
Naquela mesma noite, de madrugada, o comandante Riedinger enviou o seguinte telegrama:
Do Marchal Foch ao alto comando alemão. Se os plenipotenciários alemães desejam ver o Marechal Foch para solicitar um armistício, apresentar-se-ão diante da vanguarda francesa na estrada Chimar, Fourmies, La Capelle. Serão dadas ordens para a sua recepção e para que sejam conduzidos a um lugar fixo para o encontro.
No dia 7 de novembro, pelas 12H00 o capitão Schaube e Zobrowski esperaram os delegados alemães com ua bandeira branca em Fournies. Passando por Rocquigny e Haudroy (posto do comando de Lhuillier) chegaram a La Capelle às 20H30 onde foram acolhidos por Henrique Dehon, alcaide local. Partiram às 22H00 em direção a Hamblières e depois de comboio de Tergnier até Rethondes (Clareira do Armestício) onde se mantiveram em negociações com os franceses, britânicos e aliados desde o dia 8 a 11 de novembro, às 11H00 quando foi assinado o armistício que pôs fim à guerra.
(CF. O fim da Primeira Guerra Mundial, História e Vida, 1968)























Henrique Dehon (1839-1921) irmão do Pe. Leão Dehon. Era o prefeito de La Capelle e nessa qualidade acolheu a delegação alemã que veio negociar o armistício que há 100 anos pôs fim à grande guerra.

O Pe. Dehon na guerra
São Quintino esteve sempre em plena zona de operações da I Guerra Mundial. O Pe. Dehon manteve-se lá até ser forçado ao exílio. A guerra foi até ele e no centro da guerra ele sempre foi um homem de paz.
O diário do Pe. Dehon (NQ) desde que estalou a guerra a 1 de agosto de 1814 até à deportação para a Bélgica em março de 1817, soma mais de 766 páginas manuscritas. Além disso, em data posterior, o Pe. Dehon compôs outro manuscrito de 64 páginas sobre a sua experiência durante a guerra com o título de “A Casa do Coração de Jesus durante a guerra).
Limitamo-nos hoje a referir as atitudes do Pe. Dehon durante a I Guerra Mundial seguindo o que deixou escrito o seu primeiro biógrafo Pe. Ducampo em “O Pe. Dehon e a sua obra” Ed. Paris–Briges 1936.

a) Diante de tantas provas a que a guerra submete (morte, feridas, fome, doenças, miséria) o domínio de si é a característica que sobressai no Pe. Dehon. “A sua calma impregnada de fé era igual à dos grandes chefes militares. A sua confiança foi inquebrável… durante os bombardeamentos noturnos mais violentos, não desceu mais do que uma vez à cave…  e continuava a jogar ao gamão (jacquet ou backgammon)”.
b) O serviço aos outros, seja acolhendo a quantos vinham em massa ter com ele, ou indo a pé, por uma cidade bombardeada sem cessar. Acolhia e não julgava. Estava sempre próximo de quem sofria, independentemente se era invasor ou invadido, civil ou militar, francês ou alemão. Muitos confrades eram dominados pelos sentimentos nacionalistas e pelo ódio pelos seus rivais. O Pe. Dehon nunca tirava por ninguém e por todos implorava a misericórdia de Deus. De facto, ele era o superior de todos.
c) O seu sentido de dever, quando, por exemplo, os confrades da Província alemã lhe oferecem em abril de 1916, para sair do inferno de São Quintino, e levá-lo para Bruxelas, recusou agradecido dizendo: “Fico cá com a minha comunidade. Ou então, no momento da evacuação da cidade quando encabeça a fileira dos seus religiosos a caminho da estação.
d) A sua atividade espiritual e inteletual: porque esteve isolado da sua congregação durante dois anos e meio, sem jornais, sem viagens, sem correspondência, passou a maior parte do seu tempo lendo. “Tive tempo de ler todo o que tinha acumulado na minha biblioteca de livros ascéticos, vidas de santos e tratados de espiritualidade.” Ao deixar São Quintino lamenta ter que abandonar essa biblioteca. A guerra foi também uma oportunidade para fazer a releitura da sua obra ou congregação. Aos 40 anos da fundação, com todas as suas obras destruídas, com a basílica em ruínas, tudo é interpretado como uma mensagem divina. Por isso escreve o seu Testamento Espiritual, revê o Directório Espiritual e redige o Manual dos Agregados da Congregação.























O Colégio São João, fundado pelo Pe. Dehon e berço da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, atingido pelos bombardeamentos da cidade de São Quintino, na França, durante a I Guerra Mundial.

Datas significativas:
1914
02/08 – Mobilização Geral.
25/08 – Os combates aproximam-se de São Quintino.
28/08 – O exército alemão ocupa São Quintino.
09/09 – sucedem-se bombardeamentos entre alemães e franceses (há cerca de 5 mil feridos).
1915-1916
A guerra continua com bombardeamentos, mortes, feridos, fome e pobreza em São Quintino.
1917
12/03 – São Quintino é evacuada. O Pe. Dehon é exilado para Enghien, perto de Bruxelas, onde é recebido pelos Jesuítas franceses, depois de uma queda grave na estação de comboio.
13/12 – Pe. Dehon parte de Bruxelas com destino a Roma com um salvo-conduto especial concedido por intercessão do Papa Bento XV.
28/12 – Pe. Dehon chega a Roma, onde permanece durante 4 meses.
1918
25/04 – Pe. Dehon em audiência despede-se do Papa e parte para França.
01/07 – Pe. Dehon permanece em Lyon.
11/11 – Em Lyon recebe a notícia do fim da guerra.




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