domingo, 4 de novembro de 2012

Questionário da fé

Dante Aligheri (1265-1321), poeta italiano, apresenta um exame da sua fé perante São Pedro no paraíso, para que nós aprendamos a responder já aqui na terra.
 
Nos cantos XXIV; XXV e XXVI, do Paraíso, do poema épico Divina Comédia (1322), Dante é interrogado por são Pedro sobre a fé; por São Tiago sobre a esperança e por São João sobre a Caridade.
São Pedro dirige-lhe sete perguntas sobre a Fé:
- Que é a fé?
- É a substancia das coisas esperadas e argumento das coisas incompreensíveis.
- Tens fé no teu coração?
- Sim, tão firma para não ter dúvida nenhuma.
- De onde te vem a fé?
- Do Espírito Santo, que difunde a luz nas escrituras...
- Porque achas que são inspiradas as escrituras?
- Porque os milagres o atestam…
- Quem te assegura a verdade dos milagres?
- Ou os milagres aconteceram ou não. Se aconteceram, a fé é divina. Se não aconteceram, o mundo converteu-se sem milagres.
E São Pedro aprova e pede-lhe o objeto da fé. Dante recita o Credo.
Finalmente, São Pedro pede-lhe que mostre as obras da fé…

 
“Diz, bom cristão, e faz-te manifesto:
Fé o que é?” Onde eu alçando a fronte
À luz que assim dizia, faço um gesto
Voltado para Beatriz, e a vejo apronte
………
Fé é substância a toda a cousa que há-de
Ser e argumento das não aparentes…
………
Mas diz-me em tua bolsa a quanto ela orce.
E eu: a tenho, tão limpa e rotunda
Que em seu cunho nenhum talvez a torce.
Depois saiu daquela luz profunda
Que resplandia: Esta cara jóia
Em toda a cirtude já se funda
De onde é que ela te vem? E eu: Pois soi a
Chuva do Espírito Santo ser difusa
Em velho e novo coiro, e assim constrói-a
….
E ouvi depois: se assim concluis daquela
Proporção antiga e nova, já te
Surge a fala divina e se revela?
E eu: a prova que a verdade extracte
É tanta obra seguida, a que natura
Ferro não scalda nem bigorna bate.

Respondido me foi: Quem te assegura
Que aquelas obras foram? Pois é aquilo
Que quer provar-se e não al, que to jura.
Se o cristinianismo vê o mundo a segui-lo
Sem milagres, disse eu, esse é já um.
….
Mas convém ora exprimas o que crês.
E onde a crença tua te surgiu.
Ó santo pai e espírito que vês
Tanto isso em que tu creste, que venceste
Indo ao sepulcro, outros mais jovens pés.
Comecei eu que queres que eu manifeste
A pronta crença minha neste ensejo
E também a razão dela quiseste.
Respondo: Num só Deus creio que almejo
Eterno e uno e que o céu todo move
Imoto, com amor e com desejo

Dessa profunda condição divina
que eu ora toco, a mente me sigila
Variamente a evangélica doutrina.
Assim em bendizendo-me cantando
Três vezes me cingiu quando calei
A apostólica luz cujo comando
Me fizera falar, bem lhe agradei.”

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