Memória de Santa Cecília
Virgem e Mártir no tempo das catacumbas
Professar a fé com a música e com os gestos
Cecília, cristã de família nobre e rica, ia todos os
dias à Missa, celebrada pelo Papa Urbano I, nas Catacumbas romanas da Via Ápia.
Pela sua generosidade, ela era aguardada por uma multidão de pobres.
Na sua noite de núpcias, disse a Valeriano, seu esposo,
que era consagrada a Deus. O seu marido, seguiu o seu exemplo e foi batizado
pelo Papa Urbano I, convencendo o seu irmão Tibúrcio a professar também a mesma
fé.
Os três foram condenados à morte. Cecília recebeu três
golpes do algoz e a sua cabeça ficou pendente. Antes de morrer, aguardou a
chegada do Papa, permanecendo assim três dias em agonia. Ao expirar, professou
a sua fé em Deus, Uno e Trino, com os dedos da mão.
Santa Cecília foi declarada Padroeira da Música e dos
Músicos devido ao relato da sua paixão: “Na hora de se casar com Valeriano,
enquanto os órgãos tocavam, ela começou a cantar ao Senhor, em seu coração”.
A música dos salmos
O livro dos salmos, manual básico de canto, poesia e
oração, composto entre VIII e II A.C. e codificado no templo de Jerusalém,
continua a ser usado até hoje pela liturgia musical de judeus e cristãos, em
hebraico (TM, séculos IV-II), grego (LXX, séculos II-I a.C.), latim (Vetus,
Vulgata) e nas línguas modernas.
Os salmos podem ser considerados poesia musicalizada,
mas também como música poetizada, de forma que letra e melodia são
inseparáveis, conforme a escola coral poético-musical do Templo de Jerusalém).
Em hebraico são chamados de Tehilim, Louvores, para
glorificar a Deus por tudo o que existe no mundo e na história os tradutores
gregos os chamaram de Salmos (Psalmoi), textos para serem cantados com o
acompanhamento de um saltério, uma cítara ou harpa de dez cordas.
O que começa a definir os salmos não é a letra, mas a
música à qual ela é acrescentada. Não se junta a música à letra, mas a letra à
música. Os salmos são mizmor, canções solenes acompanhadas de kinnor ou cítara
(um violão, harpa). Mais do que uma declaração de ideias, os salmos são uma
explosão de afeto ou de lamentação diante do mistério da vida. Entre eles
também estão os /shirim, cantos exultantes de amor, que se diferenciam dos
gritos dos animais pelo intenso sentimento de atração, comunicação ou dança,
como aparece nas Canções (Shir ha shirim), que são salmos de amor apaixonado.
Oração instrumental ou música de oração.
Os instrumentos básicos da música do templo e dos
salmos foram e continuam a ser de cordas (tipo cítara/harpa), com os seus
derivados modernos como o violino (entre os Ashkenazim do Oriente e um tipo
rabel, de origem judaica e árabe em Espanha, com o pandeiro, os tambores e
outros instrumentos de percussão Entre os instrumentos de sopro destacaram-se
vários tipos de flautas, geralmente utilizadas pelos sacerdotes, nas
celebrações processionais, com marchas e danças, conforme indicado nos dois
salmos finais (Sl149-150).
Com a flauta, nos momentos mais solenes, tocava-se a
trombeta, típica dos sacerdotes e de forma especial o grande chifre ou sofar de
carneiro ou cabra, que também podia ser de bronze e que anunciava para
assinalar a chegada de o sábado, as festas da lua nova (e da lua cheia),
especialmente a celebração do ano sabático e/ou jubileu. O canto e a oração dos
salmos passaram do oriente para a igreja do ocidente, especialmente na época
dos carolíngios (séculos VIII-IX), dando assim origem à música denominada
“Gregoriana”.
Uma novidade do Gregoriano é que ele é cantado a cappella (como música vocal, numa capela de especialistas musicais). Entendida desta forma, a música gregoriana dos salmos foi, e continua a ser, uma das maiores criações artísticas da história. A Reforma Protestante quis devolver os salmos ao povo, criando uma liturgia coral dos salmos que permanece viva até hoje.
A música de Bento XVI
O Papa Bento XVI, falando a propósito de Mozart, deu um
testemunho cabal do que a música pode representar na celebração dos mistérios
cristãos:
- Quando, nos dias festivos, se interpretava uma Missa
de Mozart na nossa Igreja Paroquial de Traunstein, eu, um simples rapaz do
mundo rural, sentia que o Céu se abria à nossa volta. Nuvens de incenso
elevavam-se em frente ao presbitério, nas quais o Céu se refletia; sobre o
altar realizava-se um ato sagrado, o qual - bem o sabíamos - permitia para nós
a abertura do Céu. Do coro ressoava uma música que só podia provir do Céu, uma
música na qual se revelava o júbilo dos anjos pela beleza de Deus. Havia algo
desta beleza no meio de nós. Tenho de confessar que sempre senti tudo isto ao
escutar a música de Mozart.
Noutra ocasião o mesmo papa disse:
- O órgão, desde sempre e com razão, foi considerado o
rei dos instrumentos musicais, porque abrange todos os sons da criação e dá
ressonância à plenitude dos sentimentos humanos. Para mais, transcendendo, como
toda a música de qualidade, a esfera simplesmente humana, transporta para o
divino. A grande variedade dos timbres do órgão, do piano até ao fortíssimo
arrebatado, faz dele um instrumento superior a todos. Ele tem a capacidade de
dar ressonância a todos os âmbitos da existência humana. As múltiplas possibilidades
do órgão recordam-nos de certa maneira a imensidão e magnificência de Deus.
(13/09/2006)
Perguntas e respostas:
- Podemos ouvir música gregoriana num barzinho?
- Claro que sim.
- E podemos ouvir música de um barzinho numa igreja?
- Sim, mas como o objetivo da música é diferente,
torna-se um desperdício para não dizer inutilidade.
- A música tem cor?
- Claro que sim.
- Então qual é a cor da música?
- A cor da música é a cor da alma.
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