sábado, 19 de novembro de 2022

Peanha do Santo Imperador

A Ilha da Madeira foi o pequeno espaço escolhido por Deus para servir de peanha ou pedestal do Santo Imperador, Carlos de Áustria. Parece não haver terra mais grandiosa, escada mais alta, viagem mais longínqua.

Carlos de Áustria tendo viajado pelo seu império e por toda a Europa, chegou à Madeira para aí iniciar a sua viagem mais transcendente.

A Madeira, desde 19 de novembro de 1921 foi-se transformando e elevando pouco a pouco a sua vocação de sacrário de santidade.

Começou por ser nomeado como um simples lugar de internamento, de residência de exílio ou permanência forçada.

Depois foi-se afirmando como local privilegiado de acolhimento, de habitação familiar e corte imperial.

Passou ainda por espaço de purificação e de ascese como subida ao monte Calvário.

Finalmente a ilha tornou-se antecâmara do paraíso, porta do céu e lugar de repouso eterno.

Agora na Madeira, o Monte tornou-se em altar onde é venerado o santo Imperador, a peanha da sua imagem, o pedestal da sua figura de santidade. Partilha com a Senhora do Monte o mesmo santuário, a mesma peanha ou pedestal. E nós podemos também partilhar com e como eles o mesmo altar e o mesmo destino de eternidade.

Por causa do Santo Imperador a Madeira ficou mais parecida com o Paraíso e o Céu ainda mais perto da nossa terra.

 

Lição a guardar:

Façamos do lugar onde estamos, quer de passagem quer permanente, quer desterrados ou acolhidos, quer na saúde ou na doença, quer na alegria ou na tristeza, quer na esperança ou na angústia, quer na vida ou na morte, uma peanha de santidade e um pedestal de eternidade, a exemplo do Beato Carlos de Áustria.

Acompanhemos o percurso do Imperador Carlos da Madeira para a eternidade, da terra ao céu:

 

INTERNAMENTO

01 de novembro de 1921 in Diário da Madeira

A Inglaterra propôs às nações aliadas que seja internado na ilha da Madeira o imperador Carlos da Áustria.

 

RESIDÊNCIA

04 de novembro de 1921 in O Comércio da Madeira

Foi concedido autorização aos imperadores de Áustria para residirem na ilha da Madeira.

 

EXÍLIO

05 de novembro de 1921 in Diário de Notícias

O governo português aceitou a proposta dos Aliados para ser exilado na ilha da Madeira o ex-imperador Carlos da Áustria.

 

HÓSPEDAGEM

09 de novembro de 1921 in Diário da Madeira

Os ex-imperadores da Áustria serão considerados pelo governo português como hóspedes, sendo-lhes dispensadas todas as deferências e atenções

 

HABITAÇÃO

11 de novembro de 1921 in O Comércio da Madeira

Está definitivamente assente o ex-imperador Carlos de Habsburgo e sua esposa habitarem a Villa Vitória anexa ao Reid’s Palace Hotel.

 

PRISÃO DE ELEVADA CATEGORIA

12 de novembro de 1921 in Diário da Madeira

Segundo nos informou o sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros o ex-imperador da Áustria, Carlos de Habsburgo e sua família, que muito em breve virão residir na ilha da Madeira serão considerados não como prisioneiros, mas como hóspedes do nosso governo que terá para eles todas as atenções e deferências que competem à sua elevada categoria social

 

PERMANÊNCIA FORÇADA

18 de novembro de 1921 in Diário da Madeira

A conferência dos embaixadores, reunida em Londres, ficou o subsídio e o quantitativo das restantes despesas com a permanência forçada na Madeira dos ex-soberanos austríacos.

 

POVO HOSPITALEIRO

20 de novembro de 1921 in O Comércio da Madeira

O cruzador inglês Cardiff fundeou, ontem às 11 horas na baía do Funchal, trazendo os ex-imperadores Carlos e Zita. O desembarque foi marcado para as 15 horas o que aconteceu. O povo, à passagem dos ex-soberanos, descobria-se respeitosamente, a que eles correspondiam sorridentes e com a maior cordialidade.

“Estamos encantados com a beleza da Ilha da Madeira e com a forma carinhosa como o povo nos saudou à nossa passagem. É um povo deveras hospitaleiro” – disse ao Comércio da Madeira S.M. Carlos de Habsburgo.

 

ESTADIA EM HOTEL

20 de novembro de 1921 in Diário de Notícias

Os ex-reis da Hungria são desde ontem nossos hóspedes. Desembarcados seguiram para a Vila Vitória anexa ao Reid’s Palace Hotel onde ficam residindo. É a primeira vez que a hospitaleira ilha serve de residência a soberanos exilados.

 

NOVA CORTE IMPERIAL

22 de novembro de 1921 in Diário da Madeira

Na sé, à entrada e à saída dos ex-imperadores, alguns membros do clero e bem assim algumas pessoas do povo beijavam a mão de Carlos de Habsburgo em sinal de cortesia devida aos soberanos.

 

RESIDÊNCIA DE VERÃO

26 de novembro de 1921 in Diário de Notícias

Os ex-imperadores da Hungria foram ontem ao Monte, pelas 2 horas da tarde, no automóvel do sr. António Vieira de Castro, visitando a Quinta Rocha Machado, que será a sua residência de verão.

 

SEM GUARDA NEM VIGILÂNCIA

01 de dezembro de 1921 in Diário de Notícias

O Ministro dos Estrangeiros em entrevista à Capital disse – o imperador Carlos e sua esposa foram residir para a Madeira não como prisioneiros, mas como soberanos exilados. O governo português não tem responsabilidade alguma, perante as potências, pela sua guarda. Nós não fomos chamados a exercer nenhuma vigilância. O imperador habita no Funchal como qualquer soberano exilado e não guardado pelo governo português.

 

SOBERANO EM TODO O LUGAR

23 de março de 1921 in Diário de Lisboa

Quando foram, pela primeira vez ouvir missa à Sé do Funchal, um desconhecido, que se achava no meio da multidão, exclamou em húngaro: Viva o rei Carlos!

Trataram se se informar da sua identidade e souberam que era um comerciante de Budapeste que tendo de ir para o México, se dirigira primeiro ao Funchal, para ver os seus antigos soberanos. Esta prova de dedicação enterneceu-os profundamente. A soberania era agora exercida no Funchal.

 

ENFERMARIA

27 de março de 1921 in Diário de Lisboa

Encontra-se gravemente enfermo, na Ilha da Madeira o ex-imperador Carlos.

A desgraça não o deixa repousar pois até no exílio o persegue. Aliada a uma terrível depressão nervosa, a doença (dupla pneumonia) debilita-lhe agora a sua resistência.

 

ANTECÂMARA DO PARAÍSO E VIÁTICO

02 de abril de 1921 in Correio da Madeira

O defunto exilado recebia todos os dias o S.S. Sacramento e só como Sagrado Viático o recebeu na 2ª feira, tendo-lhe nesse dia sido ministrada a Extrema Unção, a seu pedido.

 

ESPELHO DA SUA PÁTRIA

02 de abril de 1921 in Correio da Madeira

D. Carlos de Habsburgo estava escrevendo um livro, de impressões colhidas na Madeira. Ele comparava trechos da nossa ilha a pedaços da sua pátria… O ex-imperador falava da sua pátria, que muito amava, com uma saudade pungente do seu povo, que ele considerava como filhos, e pensava nos seus destinos como um verdadeiro pai.

Os correspondentes dos jornais da capital e do estrangeiro telegrafaram ontem comunicando o desenlace fatal.

 

LEITO DE MORTE

02 de abril de 1921 in Correio da Madeira

Às 12 hora do dia de ontem, na Quinta do Monte, para onde fora residir com sua família e comitiva imperial, faleceu, confortado com os sacramentos da Santa Madre Igreja, Sua Majestade Imperial Apostólica Calos V de Habsburgo… Quando se avizinhava a morte, disse o ex-imperador: Ofereço a minha vida ao meu bom Povo.

 

CÂMARA ARDENTE

04 de abril de 1921 in Correio da Madeira

O quarto, onde a doença prostrara o ex-imperador, é o mesmo que serve de câmara ardente. O ex-imperador ‘dorme’ sobre o leito com a farda de marechal de campo.

A ex-imperatriz Zita olhando para os seus filhos, disse-lhes: O vosso pai não dorme; está acordado e vive junto de Deus.

 

CAPELA TUMULAR

04 de abril de 1921 in Diário da Madeira

Realizam-se amanhã à tarde os funerais, saindo da Quinta do Monte para a Igreja paroquial, onde está sendo levantado um mausoléu.

 

O MELHOR TESOURO

01 de junho de 1922 in A Esperança

No final de maio ancorava no Funchal o moderno transatlântico barcelonense Infanta Isabel de Bourdon que vinha expressamente pela Madeira para transportar a Cádis a Imperatriz viúva Zita e seus filhos. Ao despedir-se do Revmo. Pe. José Marques Jardim, Pároco do Monte, a Imperatriz disse: Deixo-vos o meu melhor tesouro. Deixo o meu coração nesta ilha. Parto com saudade da Madeira e do seu bom povo, mas vou satisfeita por deixar o cadáver do Imperador confiado à guarda duma população generosa… Custa-me deixar o melhor do meu ser, nesta terra, mas deixo-o no meio de corações amigos. O meu coração também fica nesta ilha.

 

NOVA CAPELA FUNERÁRIA

12 de janeiro de 1968 in Jornal da Madeira

A Imperatriz Zita e seus filhos assistiram à santa missa no Monte e à inauguração da nova capela mortuária do Imperador Carlos de Áustria.

 

PEANHA OU PEDESTAL DO SANTO IMPERADOR

16 de outubro de 2004 in Jornal da Madeira

A 3 de outubro de 2004 foi proclamado Beato o Bem-aventurado Carlos de Áustria, por sua santidade o Papa João Paulo II, na praça de São Pedro em Roma. Beatificado na presença de uma representação madeirense presidida pelo Bispo do Funchal D. Teodoro de Faria (que formulou o pedido de beatificação ao Papa João Paulo II por ser o bispo da Diocese onde se encontram os restos mortais do Beato), Presidente do Governo Regional da Madeira, Secretário Regional do Turismo e Cultura, Presidente da Câmara Municipal do Funchal, Pároco do Monte com um grupo de paroquianos e outros devotos. … Estavam presentes de vários filhos e familiares do novo Beato, nomeadamente o seu filho primogénito Otto de Habsburgo.

 

Sem comentários: