quarta-feira, 30 de novembro de 2016

A arte de pescar

Na festa de Santo André que passou de pescador a apóstolo.











Já me perguntaram por que é que Jesus escolheu pescadores para seus apóstolos e não caçadores, carpinteiros, agricultores, pastores, professores, ou outras artes. Os primeiros quatro apóstolos a serem convocados eram, de facto, pescadores e filhos de pescadores (Pedro e André, Tiago e João). Ele bem podia ter feito escola como carpinteiro, filho de carpinteiro como era conhecido. Preferiu chamar a si os pescadores, dar-lhes lições de como se pesca e fazê-los mudar, não de arte, mas apenas de matéria-prima: passaram a ser pescadores de gente.
Apesar de Jeremias ter profetizado que Deus enviaria caçadores de homens (Jr 16,16) Jesus não escolheu caçadores, mas pescadores.
Ser pescador é ter paciência, é trabalhar na serenidade, é lançar a rede sem antever o que alcançará, é deixar as coisas acontecerem, é ser tolerante recolhendo toda a espécie de peixe. A pesca é a arte de mergulhar no misterioso, no desconhecido, na profundidade das coisas, na confiança da Providência.
Por outro lado, ser caçador é ser mais violento, mais astuto, determinado, prepotente. Na caça não há acolhimento, há provocação, não basta esperar, é preciso simular.
Santo Efrém, no século IV, explicava assim a razão de Jesus ter preferido os pescadores para seus colaboradores:
“... Se Jesus tivesse enviado sábios, diriam que tinham persuadido o povo e assim tinham ganho, ou que o tinham enganado e assim o agarraram. Se tivesse enviado ricos, diriam que eles tinham dominado o povo alimentando-o, ou que o tinham corrompido com dinheiro, e assim o tinham dominado. Se tivesse enviado homens fortes, teriam dito que eles o tinham seduzido pela força, ou ao contrário, pela violência.”
Mas os apóstolos não tinham nada disso. O Senhor mostrá-lo-á a todos pelo exemplo de São Pedro. Ele era pusilânime, porque ficou aterrorizado à voz de um criado; era pobre, porque ele próprio não podia pagar a sua parte do imposto: “Não tenho ouro nem prata.”
Partiram, pois, estes pescadores de peixes, e alcançaram a vitória sobre os fortes, os ricos e os sábios. Grande milagre! Fracos como eram, atraíram, sem violência, os fortes à sua doutrina; pobres, ensinaram os ricos; ignorantes, fizeram os seus discípulos sábios e prudentes. A sabedoria do mundo deu lugar a esta sabedoria que é ela própria a sabedoria das sabedorias.
Finalmente, Jesus não só escolheu pescadores para apóstolos, como fez dos seus barcos escolas privilegiadas para pregar a sua mensagem.
Post Scriptum – Enquanto escrevia estas simples palavras fugiu-me a letra para a verdade. Ao teclar PESCADOR, apareceu-me PECADOR. Será isto indício de alguma coisa? Na verdade, Jesus não só escolheu pescadores, mas sobretudo pecadores e com eles fez milagres!

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