Na festa de Santo André que passou de pescador a apóstolo.
Já me perguntaram por que é que Jesus escolheu pescadores para seus apóstolos e não caçadores, carpinteiros, agricultores, pastores, professores, ou outras artes. Os primeiros quatro apóstolos a serem convocados eram, de facto, pescadores e filhos de pescadores (Pedro e André, Tiago e João). Ele bem podia ter feito escola como carpinteiro, filho de carpinteiro como era conhecido. Preferiu chamar a si os pescadores, dar-lhes lições de como se pesca e fazê-los mudar, não de arte, mas apenas de matéria-prima: passaram a ser pescadores de gente.
Apesar
de Jeremias ter profetizado que Deus enviaria caçadores de homens (Jr 16,16)
Jesus não escolheu caçadores, mas pescadores.
Ser
pescador é ter paciência, é trabalhar na serenidade, é lançar a rede sem
antever o que alcançará, é deixar as coisas acontecerem, é ser tolerante
recolhendo toda a espécie de peixe. A pesca é a arte de mergulhar no
misterioso, no desconhecido, na profundidade das coisas, na confiança da
Providência.
Por
outro lado, ser caçador é ser mais violento, mais astuto, determinado,
prepotente. Na caça não há acolhimento, há provocação, não basta esperar, é
preciso simular.
Santo
Efrém, no século IV, explicava assim a razão de Jesus ter preferido os
pescadores para seus colaboradores:
“...
Se Jesus tivesse enviado sábios, diriam que tinham persuadido o povo e assim
tinham ganho, ou que o tinham enganado e assim o agarraram. Se tivesse enviado
ricos, diriam que eles tinham dominado o povo alimentando-o, ou que o tinham
corrompido com dinheiro, e assim o tinham dominado. Se tivesse enviado homens
fortes, teriam dito que eles o tinham seduzido pela força, ou ao contrário,
pela violência.”
Mas
os apóstolos não tinham nada disso. O Senhor mostrá-lo-á a todos pelo exemplo
de São Pedro. Ele era pusilânime, porque ficou aterrorizado à voz de um criado;
era pobre, porque ele próprio não podia pagar a sua parte do imposto: “Não
tenho ouro nem prata.”
Partiram,
pois, estes pescadores de peixes, e alcançaram a vitória sobre os fortes, os
ricos e os sábios. Grande milagre! Fracos como eram, atraíram, sem violência,
os fortes à sua doutrina; pobres, ensinaram os ricos; ignorantes, fizeram os
seus discípulos sábios e prudentes. A sabedoria do mundo deu lugar a esta
sabedoria que é ela própria a sabedoria das sabedorias.
Finalmente,
Jesus não só escolheu pescadores para apóstolos, como fez dos seus barcos
escolas privilegiadas para pregar a sua mensagem.
Post
Scriptum – Enquanto escrevia estas simples palavras fugiu-me a letra para a
verdade. Ao teclar PESCADOR, apareceu-me PECADOR. Será isto indício de alguma
coisa? Na verdade, Jesus não só escolheu pescadores, mas sobretudo pecadores e
com eles fez milagres!
Sem comentários:
Enviar um comentário