3ª feira da semana santa
Torna-se
ainda mais denso o mistério acerca do destino eterno de Judas, sabendo que “se
arrependeu e restituiu as trinta moedas de prata aos sumos sacerdotes e aos
idosos, dizendo: “Pequei, entregando sangue inocente” mesmo se em seguida ele se
afastou para se ir enforcar não compete a nós julgar o seu gesto,
substituindo-nos a Deus infinitamente misericordioso e justo.
Porque
Judas traiu Jesus? A questão é objeto de várias hipóteses. Alguns recorrem ao
fator da sua avidez de dinheiro; outros dão uma explicação de ordem messiânica:
Judas teria ficado desiludido ao ver que Jesus não inseria no seu programa a
libertação político-militar do seu próprio País. Na realidade os textos evangélicos
insistem sobre outro aspeto: João diz expressamente que “tendo já o diabo metido
no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que O entregasse”; analogamente escreve Lucas: “Entrou Satanás em Judas,
chamado Iscariotes que era do número dos Doze”.
Desta
forma, vai-se além das motivações históricas e explica-se a vicissitude com
base na responsabilidade pessoal de Judas, o qual cedeu miseravelmente a uma
tentação do maligno. A traição de Judas permanece, contudo, um mistério. Jesus
tratou-o como um amigo, mas, nos seus convites a segui-lo
pelo caminho das bem-aventuranças, não forçava as vontades nem as preservava
das tentações de Satanás, respeitando a liberdade humana.
Pedro,
depois da sua negação, arrependeu-se e encontrou perdão e graça.
Também
Judas se arrependeu, mas o seu arrependimento degenerou em desespero e assim
tornou-se autodestruição.
Para
nós isto é um convite a ter sempre presente quanto diz São Bento no final do
fundamental capítulo V da sua “Regra”: “Nunca desesperar da misericórdia
divina”.
Na
realidade Deus “é maior que o nosso coração”. Por conseguinte, tenhamos
presente duas coisas:
A
primeira: Jesus respeita a nossa liberdade.
A
segunda: Jesus espera a nossa disponibilidade para o arrependimento e para a
conversão; é rico de misericórdia e de perdão.
Afinal,
quando pensamos no papel negativo desempenhado por Judas devemos inseri-lo na
condução superior dos acontecimentos por parte de Deus. A sua traição levou à
morte de Jesus, o qual transformou este tremendo suplício em espaço de amor
salvífico e em entrega de si ao Pai.
(Cf Bento XVI, audiência-geral, 16/10/2006)
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