quarta-feira, 13 de abril de 2011

Renúncia quaresmal

O rei D. João II, foi informado de que um dos seus servos estava gravemente doente e não queria tomar o remédio. O rei foi visitá-lo. Confortou-o e tentou convencê-lo a ingerir o medicamento. O doente recusou-se dizendo:
- Eu já sofro muito. Não quero mais sofrimento. O remédio é tão amargo, que não suportarei mais essa dor...
Então o rei, visivelmente impaciente, tomou ele próprio o remédio amargo que o doente recusava e bebeu alguns goles. Depois disse:
- Eu, o rei, são de corpo e de mente, por teu amor tomei esta amarga bebida; e tu, servo doente, não tomarás este pouco que resta por meu amor e para tua salvação?
E o servo, já decidido, ingeriu de uma só vez todo o remédio, para estar ao nível do amor do seu rei, e a cura não se fez esperar.
Jesus Cristo fez o mesmo por nosso amor.
Estamos na Quaresma, tempo de penitência ou sacrifícios, tempo de esforço e de curas. É preciso decidir-se a tomar a cruz para seguir um pouco mais além. Para isso necessitamos do estímulo e do exemplo dos outros, bem como da nossa coragem e discernimento.
Vivemos num tempo em que toda a gente se queixa que já não se aprende a sofrer. Estamos habituados a ter uma vida fácil e sucumbimos ao menor obstáculo. O Papa João Paulo II escreveu sobre o sofrimento no mundo contemporâneo: “O homem é chamado a dar amor através do sofrimento. O sofrimento conduz o homem em direcção ao futuro. Não deveríamos preocupar-nos com quantos de nós sofrem, mas com tantos de nós que não sabem sofrer.”
A renúncia quaresmal é uma oportunidade para exercitar a nossa vontade e coragem e para aprender a assumir os pequenos sofrimentos. Só assim estaremos bem treinados para acolher qualquer dificuldade da vida.
A penitência vivifica o homem. E não é apenas por uma questão de disciplina que nos faz falta. O sofrimento engrandece o homem, por isso o homem pode engrandecer o sofrimento. Como? O que temos a suportar, podemos levá-lo ou como uma coroa ou como um jugo. O que leva a sua dor como uma coroa, enobrece-se, transformando a sua dor em coroa. O que leva a sua dor como um jugo, rebaixa-se.
O Pe. Dehon escreveu no Directório Espiritual: “Carregar a cruz externamente e por necessidade não basta. É preciso abraçá-la com amor, carregá-la com alegria e coragem, desejá-la com ardor.”

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