sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Os nossos hinos de Natal


O Natal dos Poetas (4)

Poetas que rezamos nos hinos do tempo de Natal na Liturgia das Horas ou Breviário

De Gil Vicente (1465-1536)

 

Vésperas II

 

Esta noite é de alegria

Ninguém está sonolento,

É noite do Nascimento

Em que Deus mostrou seu dia.

 

É noite de grã memória,

Noite em dia convertida,

Escuridão consumida

Com grão resplendor de glória.

 

No meio mais luminosa

Que no mundo nunca viste

E de escura, fria e triste

A mais doce e gloriosa.

 

Oh noite favorecida

De memorável coroa,

Vista de Deus em pessoa

Começando humana vida!

 

Dos Anjos toda cercada,

Dos elementos servida,

Do Pai e Filho escolhida,

Do Espírito Santo espirada!

 

Hora Intermédia III

 

Branca estais colorada,

Virgem sagrada.

 

Em Belém, vila do amor

Da Rosa nasceu a Flor:

Virgem sagrada.

 

Em Belém, vila do amor,

Nasceu a Rosa do Rosal:

Virgem sagrada.

 

Da Rosa nasceu a Flor,

Para nosso Salvador:

Virgem sagrada.

 

Nasceu a Rosa do Rosal,

Deus e homem natural:

Virgem sagrada.

De Frei Agostinho da Cruz (1540-1619)

 

Laudes II

 

Pasmem de alegria

Na terra e nos céus,

Vendo a noite – dia,

Vendo o homem – Deus.

 

Comércio admirável

Que o amor descobriu

Mistério inefável,

Que o Céu nos abriu!

 

Milagre inventado

Do divino Espírito:

Que do limitado

Saia o Infinito!

 

Na Virgem caber

Quem nos Céus não cabe,

Como pode ser?

Quem o fez o sabe.

 

Nova maravilha

Do divino amor:

Mãe, Esposa e Filha

Do mesmo Senhor!

 

Deu a flor suave

O fruto esperado:

Já vimos a chave

Do jardim cerrado.

 

É Lume do Lume

Que Ele só faz ver,

No qual se resume

Tudo o que tem ser.

 

Triunfo e luzerna

Da Cidade santa,

Que com glória eterna

Se adora e se canta.

 

Laudes III

 

Hoje os homens veem

O Verbo Encarnado,

Poe quem, para quem

Tudo foi criado.

 

Quando a Virgem viu

Da glória o penhor,

Tudo se cobriu

Do seu resplendor.

 

Em tal claridade

A sua alma ardia

Que toda a Trindade

Nela se revia.

 

A mão soberana

Seu poder mostrou

Na trindade humana

Que aqui ajuntou.

 

Anjos, reis, pastores,

Por divina traça,

São anunciadores

Do Autor da graça.

 

Pelo Deus visível,

Que já conhecemos

No amor do invisível

Nos arrebatemos.

 

Hora intermédia I

 

Anjos e pastores,

Com muita alegria

Louvemos o Filho

Da Virgem Maria.

 

Menino tão rico,

Que pobre que estais,

Deitado no feno

E entre animais.

 

Os filhos dos homens

Em berço doirado,

E Vós, meu Menino

Em palhas deitado!

 

Em palhas deitado,

Tão pobre, esquecido,

Filho duma Rosa,

Dum Cravo nascido.

 

Lapa gloriosa,

Dos Céus invejada,

Que eles mais formosa,

Mais alumiada.

 

Nela nasce Deus,

Nela hoje Se encerra

O melhor dos Céus,

O melhor da terra.

De António Moreira das Neves (XX)

 

Ofício de Leitura I

 

Cristo Jesus, ó Sol da Redenção,

À vossa luz se extingue todo o erro:

Acaba-se no mundo a solidão

Das almas em desterro.

 

Os Anjos cantam a Jesus nascido,

Adormecem na selva as feras más:

O universo repousa agradecido

Na alegria da paz.

 

Senhor do mundo, Vós sois o Menino

Da Virgem pura, Mãe imaculada:

Cai das alturas um luar divino

Sobre a terra admirada.

 

Nossa Senhor Vos embala e canta,

No coração guardando quanto escuta:

O mistério daquela noite santa

No silêncio da gruta.

 

Louve o Senhor a natureza humana

Que no mundo jamais subir tanto:

Glória ao Pai, glória ao Filho, glória, hossana

Ao Espírito Santo.

De Manuel Simões (1924-1995)

 

Hora Intermédia II

 

Desde o nascer do sol

Até ao fim do dia,

Cantemos o Senhor

Da Virgem Mãe nascido.

 

Hoje o Autor do mundo

Veio em carne mortal

Para salvar o homem,

Obra das suas mãos.

 

Nascido de Maria,

Templo vivo de Deus,

Vem cumprir a promessa

De salvar o seu povo.

 

Bendito seja Deus,

Criador do universo;

Bendito seja Deus,

Feito por nós menino.

 

Vamos com os pastores,

Com os Anjos cantando:

Glória a Deus nas alturas

Paz aos homens na terra.

De Fernando Melro (+2014)

 

Vésperas I

 

Oh admirável noite em que nasceu

Do seio de Maria o Redentor!

Em humildade extrema apareceu

Quem é d Pai celeste resplendor.

 

Rejubilou a terra de alegria

No santo nascimento de Jesus:

Do seio imaculado de Maria

Surgiu em noite escura a eterna Luz.

 

Aquele que deu vida às criaturas

Hoje aparece como nosso irmão:

Quem acendeu os astros nas alturas

Desceu à nossa humana condição.

 

Nações do mundo inteiro, bendizei,

Louvai o Deus Menino e sua Mãe;

Louvai com alegria o vosso Rei,

Nascido na pobreza de Belém.

 

Exultemos de alegria,

Adoremos o Senhor:

Da Virgem Santa Maria

Nasceu Cristo, o Redentor.

De Heitor Morais (1923-2016)

 

Vésperas III

 

De Jessé, raiz fecunda,

Cumprindo-se a profecia,

Cheio de graça e perdão

Nasce Jesus de Maria.

 

Um Menino nos foi dado

E um Filho nos nasceu,

Glória a Deus e paz na terra

Cantam os Anjos no Céu.

 

A lua, o sol, as estrelas

E tudo quanto o Céu cobre

Cantem ao Rei do Universo

Que quis nascer como pobre.

 

É o Príncipe da paz,

Admirável Conselheiro.

Traz o império sobre os ombros,

Salvador do mundo inteiro.

 

Anjos no céu aparecem,

Cantando glória e louvor,

E os pastores reconhecem

O Cordeiro do Senhor.

 

Glória seja dada ao Pai

E ao Espírito também,

Glória seja dada ao Filho

Nos braços da Virgem Mãe.

 

Ofício de Leitura II

 

No princípio era o Verbo

E o Verbo era Deus.

Tudo por Ele foi criado

Na terra como nos céus.

 

Luz eterna e verdadeira,

Mistério de Deus profundo,

Que ilumina todo o homem

Que nasce para este mundo.

 

O mundo por Ele foi feito,

Mas não O reconheceu;

E não O quis receber,

Quando veio ao que era seu.

 

Mas o Verbo Se fez homem

E habitou entre nós,

E vimos a sua glória,

Ouvimos a sua voz.

 

Cheio de graça e verdade

No meio de nos O vemos:

É da dua plenitude

Que todos nós recebemos.

 

Glória ao Pai e glória ao Filho,

Que nasceu da Virgem Mãe,

Glória ao Espírito Santo,

Pelos séculos. Ámen.

 

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