sábado, 2 de setembro de 2017

Uma graça de Deus


Envelhecer não é uma desgraça, é uma graça.

Recordo o meu amigo Pe. Rogério Vieira, que foi durante longos anos o pároco da minha terra natal, mas agora jubilado.
Ele também dava aulas numa Escola no Funchal.
Quando se aposentou, despediu-se da sua turma, mostrando satisfação por isso e alegria pela idade que tinha.
Uma aluna ficou espantada:
- Se eu estivesse no seu lugar, estaria triste por ser velha…
- Mas então? Ser velho não é uma coisa boa?
- Não! – responderam todos.
- Se é assim, eu vou rezar para que ninguém de vós chegue a velho… já que ser velho é uma desgraça…
- Não, não faça isso… Não é uma desgraça… É uma graça.











“Não se pode dizer que sessenta anos seja uma idade má, senão quando a encaramos de longe ainda – o que fazemos, a maior parte das vezes, com muito inadequados sentimentos. É uma idade calma; a partida está quase jogada; e, pondo-nos de lado, começamos a recordar, com certa animação, o homem hábil que soubemos ser. Tenho observado que, por delicada atenção da Providência, muitas pessoas começam aos sessenta a ter de si próprios uma conceção bastante romanesca. Até mesmo as deceções sofridas revestem então aspeto agradável. E se é certo que as esperanças, com seus mágicos e apaixonantes contornos, constituem para os jovens atraente companhia, nada mais são, no fim de contas, do que formas nuas e vãs. As vestes mágicas são apenas, felizmente, propriedade do imutável passado que, sem elas, ficaria como uma pobre coisa agitando-se sob um montão de sombras.
Foi provavelmente o romanesco desta idade avançada que levou o nosso homem a descrever a sua aventura, para satisfação própria ou para encantamento dos seus descendentes. Não o moveu certamente a cobiça de glória, porque esta aventura foi a de um medo espantoso, dum autêntico terror, assim como ele próprio o narra.”
(Joseph Conrad, A estalagem das Duas Bruxas, Diário de Notícias, Publicações europa-américa)

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