sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Nossa Senhora dos Açores






















Ainda os portugueses não tinham chegado ao Arquipélago dos Açores e já era invocada Nossa Senhora dos Açores, como consta na Crónica de D. Sancho I.
Esta invocação vem do nome da freguesia do concelho de Celorico da Beira, Diocese da Guarda que ainda hoje tem como orago Nossa senhora dos Açores. A vila parece datar do século VII.
A imagem de Nossa Senhora lá tem esta ave a seus pés, um ou mais açores. Ao dar-lhe esta evocação pretendiam os seus habitantes conseguir o seu valimento contra aves, que causavam muitos prejuízos e preocupações.
Há quem apresente outras razões mais lendárias:
A primeira é a lenda do aparecimento da Virgem a um pastor em apuros. Querendo salvar uma vaca que tinha caído num poço, arriscou-se demasiado, estando ele prestes a perder a vida. Aflito recorreu a Nossa Senhora que lhe apareceu, salvando-o a ele e ao animal. O povo a quem o pastor contou o sucedido, veio ao local do milagre e aí encontrou uma imagem de Nossa Senhora. Sem demoras ali levantou uma ermida que recebeu o nome da própria terra.
A outra lenda é do filho do rei e do açor. Um rei de Espanha tendo ouvido falar dos muitos milagres de Nossa Senhora que ali se realizavam, a Ela recorreu para conseguir por sua intercessão, alcançar descendência. Tal aconteceu. Mas como a criança nascesse aleijada, foram o rei, a rainha e o filho à Ermida da Virgem dos Açores pedir a cura. Mas a criança morreu na viagem. A rainha, porém, não consentiu que a sepultassem pois a queria entregar a Nossa Senhora. Assim o fez. Entretanto o rei sabendo que um caçador que fazia parte da comitiva real, soltara um açor que levavam, transgredindo as ordens recebidas, mandou que lhe cortassem a mão. O infeliz ao ouvir a sentença, implorou também o auxílio da Senhora, que não se fez esperar, manifestando-se por um duplo milagre: o açor veio pousar na mão do caçador que ia ser cortada e o menino voltara à vida, livre do defeito com que nascera. Em sinal de agradecimento mandou então o rei construir a igreja de Nossa Senhora dos Açores, ficando os painéis a perpetuar o milagre.

















Interior da igreja de Nossa Senhora dos Açores, Celorico da Beira

Cantares do povo
Ó senhora dos açores,
Que tendes na mão, que cheira?
- A camisinha do Menino
Que vem da lavadeira

Viva a Senhora dos Açores
Que tem uma coroa de prata
Ao fundo dela tem um pássaro
Que comeu uma lagarta.

Mandaram fazer uma cova
De lírios brancos do vale
Que a rainha espanhola
Morreu cá em Portugal.

Adeus, ó vila de Açores
Lá ao largo da Lameira
Onde passa toda Câmara
De Celorico da Beira

Ó malta da nossa terra
Cheia de bélicos ardores
Que vínheis ao som de guerra
À Senhora dos Açores!

(Cf. P. José do Vale Carvalheira, Nossa senhora na história e devoção do povo português, edições salesianas, Porto,1988)

















Exterior da Igreja de Nossa Senhora de Açores, Celorico da Beira

Madrinha das Ilhas dos Açores
A Infanta D. Isabel, irmã do Infante D. Henrique, em pequenina ouvia contar a uma velha aia, que tinha uma casa para essas bandas, muitas histórias de milagres da Senhora dos Açores. Gravou na sua memória esses milagres e tornou-se muito devota da Senhora dos Açores. A notícia dos milagres da Senhora espalhou-se e o santuário no século quinze era visitado por muitos romeiros, sendo um deles Gonçalo Velho Cabral.
Nos Paços do Limoeiro, Velho Cabral, já depois de ter sido chamado pelo Infante a participar nos descobrimentos, conversando com a Infanta D. Isabel, grande devota da Senhora dos Açores, prometeu dar esse nome a uma terra que descobrisse e ser ele o padrinho e ela a madrinha dessa terra. Gonçalo Velho Cabral partiu depois pelo Atlântico e, ao chegar à primeira ilha, deu-lhe o nome de Santa Maria. Aí encontrou uma linda gruta para os lados de S. Lourenço, a que deu o nome de gruta do Romeiro, lembrando as suas romagens a Nossa Senhora dos Açores. Cumpriu também a promessa feita à infanta D. Isabel e assim o nosso arquipélago passou a chamar-se Açores. Gonçalo Velho Cabral foi o padrinho e a Infanta D. Isabel, a madrinha e colocaram as ilhas sob a proteção de Nossa Senhora.
A Infanta, no entretanto, casou com o Duque de Borgonha e deixou Portugal, mas manteve-se muito devota da Senhora dos Açores e indicou a seu irmão muitos flamengos para virem ajudar a povoar as ilhas de que era madrinha.
Falta construir e dedicar uma igreja a Nossa Senhora dos Açores, nas ilhas que lhe herdaram o nome e lhe tem alcançado tanta proteção.
























Ilha de Santa Maria, Açores. Procissão da Assunção da Virgem Santa Maria.

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