segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Acerca do patriotismo (III)


 

II - Esta pátria amada, queridos rapazes, o nosso dever é servi-la generosamente. Não é apenas um entusiasmo artificial e instável que se espera de vós, é uma nobre e austera dedicação, é um labor constante e assíduo.
         Deveis-lhe o serviço da oração, e quem lho prestará a não ser vós, que sois, pelas vossas famílias e pela vossa educação, da raça dos homens que rezam? Deveis-lhe o exemplo e a prática da fé nas nossas igrejas, nas nossas orações solenes, nas nossas manifestações destinadas a afirmar publicamente as crenças de um grande povo.
         Vós deveis-lhe uma vida forte, uma vida de homens de caráter e de trabalho.
         As carreiras abertas à atividade humana são diversas: um produz e outro troca; este administra, julga ou governa; este outro defende a fronteira ameaçada; aquele outro desenvolve as ciências, inventa instrumentos novos, cria livros, quadros, obras de arte.
         A alma de toda a carreira, o princípio que a honra e a fecunda, é a verdadeira coragem que se testemunha por um esforço prudentemente meditado e nobremente mantido.
Os que vos precederam no ensino cristão são a esperança e a salvação da França.
Sem dúvida, nem todos responderam às expetativas de Deus e dos seus mestres, alguns prenderam-se às vaidades e às loucuras do mundo, e a sua vida, levada com um resto de fé suficiente talvez para a sua própria salvação, tornou-se no presente estéril para a pátria.
Muitos preparam-se no silêncio do trabalho e retomam as tradições cristãs nas administrações, no exército, na magistratura e na indústria.
Há quem se envolva na vida política e com êxito. Outros revelam-se nos nossos congressos de economia caritativa, como salvadores que nos trazem o segredo perdido da paz social e da união do trabalhador e do patrão.
Vós os seguireis nestas carreiras.
Servireis a pátria na agricultura ou na indústria, nas letras e nas artes, na guerra ou no apostolado.
Se estais à frente de um grupo de trabalhadores, procurareis a solução cristã da grande questão social. Encontrareis antecessores e modelos.
Há apenas quinze dias, o glorioso Pontífice Leão XIII, num Breve que nos mostra a sua alta sabedoria e o seu zelo prático, apontava aos patrões ávidos de desenvolvimento o nobre exemplo dos irmãos Harmel de Val-des-Bois.
Se seguis a carreira das letras, encontrareis ainda nas nossas universidades católicos (que DEUS as conserve!) uma orientação para os vossos generosos esforços e uma atmosfera de paz e de luz sobrenatural admiravelmente favorável ao trabalho.
Se não vos for dado produzir por vossas mãos obras-primas de arte nacional, podereis com as vossas dádivas generosas apoiar a grande arte religiosa que renasce.
Será menos patriota da cidade, o Mecenas cristão que faz renascer, por assim dizer, a nossa esplêndida basílica, descobrir sob a poeira que a cobria, e mostrar aos olhos admirados e encantados, um dos mais gloriosos monumentos da arte nacional?
Se a pátria tem necessidade do vosso sangue, vós tendes ainda modelos no ensino cristão.
Nas outras carreiras, os vossos antepassados chegaram só ao desenvolvimento completo por mérito próprio.
É melindroso elogiar os vivos; é fácil falar dos mortos.
DEUS quis colher algumas flores escolhidas neste campo da educação cristã.
Os acontecimentos providenciais da última guerra foram a oportunidade. Abramos os anais. Os alunos das instituições católicas preenchem as suas mais belas e mais gloriosas páginas.
Primeiro é esse batalhão de elite de voluntários do oeste, que tivemos a honra de conhecer e de apreciar durante uma longa estadia em Roma.
Se o ideal do patriotismo religioso alguma vez se realizou, foi por meio destes nobres filhos da França.
“Seria necessário, dizia um general, voltar até às cruzadas para encontrar gente de armas de tal natureza. A sua bravura brilhante, a sua abnegação silenciosa, a sua atitude ufana e respeitadora provocaram a admiração do exército.” O inimigo temia-os e admirava-os.
A batalha de Loigny seria suficiente para imortalizar um regimento da linha da frente. Os soldados pontifícios aí foram heroicos. Eram apenas 350 e 207 ficaram no campo de batalha.
A 10 de Janeiro, perto de Mans, os zuavos distinguiram-se também. O general Gougeard, passando à tarde pela sua frente de batalha, diz-lhes com voz vibrante: “Soldados, vós sois bravos, hoje salvastes o exército”.
Quando, no mês de Agosto de 1871, os soldados pontifícios foram dispensados, o ministro da guerra dirige-lhes uma ordem de serviço onde se liam estas palavras: “O exército agradece-vos pela minha voz.”
Mas deixai-me fazer desfilar diante dos vossos olhos algumas destas heroicas figuras descritas nas notícias publicadas pelos colégios eclesiásticos ou de congregações religiosas de Besançon, de Nîmes e de Toulouse, e pela escola Santa Genoveva de Paris.
Surge em primeiro lugar Emanuel de Beaurepaire, aluno da Escola Santa Genoveva, subtenente na 67ª linha, uma das primeiras vítimas da batalha de Forbach.
Ele lia habitualmente a Vida Devota de São Francisco de Sales, rezava o terço e abeirava-se da Sagrada Comunhão nas festas principais. Sereis tentados a pensar que estas devoções não condizem bem com o espírito militar. O general Ducrot, depois de uma inspeção, avaliava assim Emanuel: “Jovem culto, conhecedor do seu ofício, de excelentes maneiras, oficial com futuro.” Uma bala atirou para o túmulo o futuro deste brilhante oficial, mas a sua alma está no céu na legião dos mártires do patriotismo cristão.
Da fronteira, Emanuel escrevia à sua irmã: “Como é preciso estar sempre preparado, saberás minha querida Paulina, que na casa do valente padre de Mourmelon lavei a minha roupa suja antes de deixar o campo. Agora as malas estão fechadas e, se preciso for, estou pronto para tomar o bilhete da grande viagem sem retorno” JESUS CRISTO deu-lhe esse bilhete, depois da comunhão que fez de novo a 5 de Outubro. Um chefe de esquadra do Estado-maior disse de Emanuel: “No nosso ofício e sobretudo em campanha, frente à morte, estes jovens, que não se importam somente com a recompensa, mas sobretudo com a sua consciência, são os únicos capazes de fazer completamente bem até ao fim.”
- O capitão Henrique de Falaiseau, outro aluno da escola Santa Genoveva, foi atingido por uma bala num dos últimos combates do malogrado exército do Este, a 29 de Janeiro de 1871.
Antes da guerra, ele escrevia: “Tornar-se um militar bravo como a lâmina da sua espada, cristão como estes homens velho rochedo, de uma moral exemplar, eis o ideal que persigo e que enche todas as minhas esperanças.”
E durante a campanha: “Como práticas religiosas, sou assíduo nas minhas orações da manhã e da noite; leio quase todos os dias um capítulo da Imitação. Escusado será dizer que ao domingo participo na missa; e que me abeiro frequentemente da sagrada Mesa.”
Morto, encontravam-se sobre ele as suas medalhas, o seu escapulário e a Imitação. E o chefe de Estado-maior escreveu: “A França perde um valoroso oficial; os seus chefes acabam de fazer sobre ele um relatório que faz que o lamentemos ainda mais, se é possível.”
- O capitão Renaud de la Frégeolière era antigo aluno de São Francisco Xavier de Vannes. Na batalha de Bapaume, causou a admiração dos seus marinheiros.
Os projéteis choviam à sua volta; Confessa-se no campo de batalha e, segurando a mão do padre diz: “Obrigado, meu bom padre; a minha mãe ficará feliz. Ela é tão piedosa, a minha mãe!” Depois disso, escutai-o a gritar para os seus heroicos marinheiros: “Vamos, rapazes, em frente! É DEUS quem nos guia.” A cavalaria inimiga cerca-os gritando: “Entreguem-se, marinheiros, entreguem-se!”
- “Marinheiros, não se entreguem, responde Renaud. Viva a França!”
Quem não quer render-se deve morrer: Renaud morreu, deixando à sua pátria a esperança do fruto do seu sacrifício.
Eu poderia citar centenas que brilharam com um vivo fulgor entre a elite da França.
Eis os frutos desta seiva de patriotismo dos que vos precederam no ensino cristão.

 

 

 

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