segunda-feira, 14 de março de 2011

Omissão


2ª Feira - I Semana Quaresma

«O que fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos,
a Mim o fizestes»

Sabei, Cristãos, que se vos há-de pedir estreita conta do que fizestes, mas muito mais estreita do que deixastes de fazer.
Pelo que fizeram, se hão-de condenar muitos; pelo que não fizeram, todos.
Cinco cargos, e todos omissões: «porque não destes de comer, porque não destes de beber, porque não recolhestes, porque não visitastes, porque não vestistes».
Em suma, que os pecados que ultimamente hão-de levar os condenados ao Inferno, são os pecados de omissão.
Por uma omissão perde-se uma inspiração, por uma inspiração perde-se um auxílio, por um auxílio perde-se uma contrição, por uma contrição perde-se uma alma; dai conta a Deus de uma alma, por uma omissão.
A omissão é o pecado que com mais facilidade se comete e com mais dificuldade se conhece; e o que facilmente se comete e dificultosamente se conhece, raramente se emenda. A omissão é um pecado que se faz não fazendo.
Mas porque se perdem tantos?
Os menos maus perdem-se pelo que fazem, que estes são os menos maus; os piores perdem-se pelo que deixam de fazer, que estes são os piores: por omissões, por negligências, por descuidos, por desatenções, por divertimentos, por vagares, por dilações, por eternidades.
Eis aqui um pecado de que não fazem escrúpulo os ministros, e um pecado por que se perdem muitos. Mas percam-se eles embora, já que assim o querem; o mal é que se perdem a si e perdem a todos, mas de todos hão-de dar conta a Deus.

(Pe. ANTÓNIO VIEIRA, Pregando na Capela Real, no ano de 1650)

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